UM: Surpresas Passionais

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Casa de Jacqueline Andrade, Londres, Inglaterra. 03 de outubro de 2018


Limpar o cano de uma Glock após treinar com uma espada samurai não era o passatempo normal de qualquer um, entretanto, era a rotina diária de Jacqueline. Acordar às cinco da manhã, praticar yoga, manter as lâminas afiadas e as armas prontas para uso era o seu normal.

Pouco para a vida que levava, decerto. Ainda mais quando lidava com os loucos e depravados de dois mundos. Isso não terminava nas férias, sempre havia uma nova missão para fazer, alguém para salvar.

Sua amiga estava certa em dizer que faltava um pouco de cor em sua vida, por mais agitada que fosse. Correu um olhar sereno e triste pela sala e quarto enquanto se arrumava para o treino e lembrou as palavras de Ainsley.

Ser independente e inteligente é uma coisa. Mas não viva apenas para o trabalho.

Tudo monocromático. Estantes e prateleiras decorados com vasos de plantas falsas e livros que nunca leria. Até os porta-retratos em cima das estantes representavam mais suas conquistas do que amigos e família.

Suspirou ao entrar no banheiro e ver a mulher atlética lhe encarar. O castanho do olhar profundo lhe julgava, amaldiçoando a vida que levava. O rosto agudo e simétrico que sempre lhe abriu portas perdera o brilho e até a sobrancelha...

Nada que uma maquiagem não resolva.

— Você está diferente... Gosto de você loira.

Escutou uma voz suave, melódica e delicada ecoar pela sala no momento em que saiu do banheiro. O instinto de luta ou fuga tomou conta de seu corpo e ela deixou cair tudo em preparação para um combate.

Tudo aconteceu em um relance. Notou a Glock em cima da mesinha de centro, na espada presa à parede ou até mesmo os sais, presente de seu ex-namorado. Tudo longe. Então o que usaria como arma? Ela mesma?

Antes de dar o primeiro passo e se lançar para cima do invasor, os primeiros raios da manhã cinzenta iluminaram as feições do moreno-claro sentado confortavelmente na poltrona.

O sorriso esbranquiçado por entre um bigode mustache tornava-o simpático, quase uma personagem dos desenhos cartunistas que via quando criança. Todavia, debaixo do terno Armani sob medida, escondia-se um dos maiores estrategistas do mundo moderno.

E para piorar a situação, o maldito sempre foi um amante da loucura.

— O que é que você quer, Fabian? — Revirou os olhos ao relaxar os músculos tensos. Fabian Aziz era inofensivo... e, quer queira ou não, estavam no mesmo lado. Ainda. — Acho que o memorando não chegou para o Ministério de Antiguidades Egípcio.

— Nós dois sabemos que não trabalho para o ministério.

— Sim, capitão óbvio. — Ela foi em direção a Glock. Não cometeria o mesmo erro duas vezes. — Como entrou aqui?

— Pela porta da frente. — Apontou para a entrada de sua casa.

— Você sabe que isso não é resposta, não é mesmo?

— Então adivinhe como eu entrei. — Pendeu a cabeça para um dos lados e alargou o sorriso brilhante. — Ó agente da Interpol.

— Não jogarei esse jogo com você. — Bufou. Colocando os sais na bolsa. — Agora, saia. Estou atrasada.

— Para quê? — Aziz adorava sorrir, e isso enervava qualquer um. — Você não acabou de dizer que está de férias?

Não pra você, duas caras.

O Grande JogoWhere stories live. Discover now