TREZE: Adinkras

61 15 236
                                    

Guelta d'Archei, Chade, África Ocidental. 16 de outubro de 2018.

Não era o frescor das cavernas que fazia Zach admirar a paisagem, muito menos as curvas definidas de Yael — certamente isso ajudava. O que ele mais admirava, após atravessarem as cavernas e andar horas sob a força imponente do sol, era a imensidão do Guelta.

Dos grunhidos e foles dos camelos ecoando pelas paredes do cânion, anunciando sua presença, à visão maravilhosa de centenas deles compartilhando a água negra do oásis no meio do Saara. Não precisava ser um grande cientista para saber que a água ficou escura ao longo dos anos devido a concentração de excrementos. Possivelmente dos camelos reunidos nas suas margens.

Não era exatamente o lugar perfeito para nadar, a menos que fosse um crocodilo.

A treinada agente não conseguiu o impedir de se aproximar e tirar fotos, maravilhado pela forma que os selvagens repteis se alimentavam dos peixes que prosperavam nas águas ricas em algas, fertilizadas pelos estercos de camelo.

Mão no gatilho, botão de segurança desativado, Yael se preparou mentalmente para disparar contra qualquer ameaça. Não precisava, se os rastros estivessem certos o local era visitado, logo os animais tinham se acostumado um pouco com a presença humana.

Escutou e rastreou o coaxar das rãs que também habitavam o guelta e até antílopes do deserto bebiam do precioso suprimento de água. Mais fotos e vídeos foram tirados e armazenados em seu dispositivo. A beleza do deserto em um lugar quase abandonado pelos humanos.

— Os rastros terminam aqui. — Yael, ainda estava tensa, mas já estava com o cabo da Uzi apontada para o chão. — Provavelmente se misturaram as pegadas dos animais ou foram apagados pela água...

— Siga os adinkras. — Zach apontou para os desenhos, as runas de outrora.

— De novo com esses rabiscos? — Yael revirou os olhos. — Precisamos de algo palpável, verídico! Não teorias mirabolantes sobre runas do período cretáceo.

— Holoceno. — Corrigiu. — Período Holoceno. Cretáceo é dos dinossauros.

— Você entendeu. — Yael balançou a cabeça em negação.

— Sério, agente Cohen. — Zach se dirigiu aos desenhos, indo até onde a água era mais rasa, evitando camelos e crocodilos antes de acariciar os desenhos a altura de suas mãos. — Os desenhos não são meros rabiscos, são verdadeiras escritas. Unidos aos adinkras, eles nos permitem dizer por onde os antigos passavam. E se existe um caminho antigo...

— Existe uma passagem... — Yael atravessou onde a água era mais rasa, sem tirar os olhos dos crocodilos, a ameaça maior a eles. Volta e meia ela envolvia o dedo no gatilho, entretanto eles eram menores e menos agressivos que seus colegas do Nilo. — Onde conseguiu aprender sobre os adinkras?

— Já ouviu falar de algo chamado Google? — Zach riu sem filtro algum ao receber os olhares mortais de sua parceira. — Quando vim para o Chade, eu passei a querer estudar mais sobre a cultura da África Ocidental. Não me considero especialista, mas sei um pouquinho.

— E por onde eles nos levariam, ó guia?

— Eles conectam esse platô ao aos lagos desérticos de Ounianga, não muito longe daqui. Não duvido as caravanas se movimentarem por eles. Daqui, podem atingir o sudoeste da Líbia, Niger e Argélia.

— As cadeias rochosas e o sistema de cavernas podem esconder muitas coisas, sim. — Yael, pela primeira vez desde a ida deles até lá, deixou Zach seguir na frente. — Isso me lembra o Afeganistão, onde o talibã usa as montanhas para se esconder.

O Grande JogoWhere stories live. Discover now