VINTE E UM: Salvação

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Maison d'Arrêt, Monaco-Ville, Principado de Mônaco. 30 de outubro de 2018


A visão de Jacque era bonita. Do alto dos penhascos escarpados de Mônaco, toda a majestade do Mar da Ligúria podia ser apreciada. Separando a Itália da ilha da Córsega, a região era navegável desde a fundação de Roma e, em seus muros, havia o atestado de imortalidade de várias nações.

Uma pena que ela não estava ali para fazer turismo.

Era muito melhor andar de moto do que de carro naquelas ruas estreitas e, por vezes, se perguntava do porquê os ricaços não trocavam seus supercarros por supermotos.

Ao estacionar diante da única prisão no principado, ela encarou o Sudeste, para a água calma e de um azul profundo ocultada pela noite brilhante, e respirou fundo. Tinha um último interrogatório para fazer.

Abrindo o casaco negro de couro e retirando uma identificação, ela se aproximou da portaria à medida que deixou a maravilhosa vista, a qual inúmeras pessoas pagavam dezenas de milhões de dólares para desfrutar.

Afinal, a prisão empoleirada na rocha acima dos portos monegascos ficava cem metros abaixo do palácio do Príncipe, imponente e reluzente. Era como se o governante daquele diminuto estado sentasse em cima de seus prisioneiros.

Por algum motivo, lembrou a série de livros de um bruxo famoso, em que havia um imperador que dançava sobre o túmulo de seus inimigos. Talvez o autor tivesse se inspirado principado, ou talvez era simplesmente uma mera coincidência.

Depois que foi autorizada a entrar, não demorou muito para ser recepcionada por um guarda bastante simpático e que estava pendente de sua visita naquelas horas ímpias. Ela não queria atravessar a autoridade da polícia e do procurador-geral, logo, esperou eles terminarem o interrogatório para poder agendar uma visita.

Também na porta, encontrou uma ex-militar com uma cara de poucos amigos. Estava um pouco mais profissional, com um terninho e saia executiva, mas via por trás dos olhos uma fúria velada, prestes a explodir.

Yael Cohen não estava para brincadeiras.

Introduzidas ao complexo, para Jacque, aquela prisão se parecia com as ilhas prisões da Noruega e completamente fora da realidade vivida tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Havia quatro blocos de celas: um para mulheres, um para menores e dois para homens, tornando a prisão unissex.

Os horários eram diferentes para todos, mas com dinheiro tudo era possível. Capela, pátio, cozinha, sala de musculação, três lavanderias e uma biblioteca deixavam os presos em forma, tanto física quanto mental. Decerto, os guardas também as utilizavam quando ninguém estivesse olhando.

Ela achou engraçado o pátio estar coberto com arame, o guia foi rápido em explicar que já tiveram fugas de helicóptero por ali, por isso o método que ele chamava de cru.

A criatividade humana não tinha limites.

Isso lembrou uma célere frase de sua antiga parceira, uma agente no serviço nacional de investigação das forças canadenses e ex-membro das forças especiais: quanto mais difícil, mais os bandidos ficam criativos.

Agradeceu ao guia ao entrar em uma sala especial para interrogatórios, a única em toda a prisão, e retirou o casaco. Também desabotoou os dois primeiros botões de sua blusa e desprendeu um pouco os cabelos.

Yael apenas cruzou os braços.

— Quando Aziz me disse que você estaria presente no interrogatório, eu fiquei surpresa. — Jacque encarou a israelense.

O Grande JogoWhere stories live. Discover now