QUATORZE: Terror

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N'Djamena, Chade, África Ocidental. 17 de outubro de 2018


Finalmente Jacque veria ação após dias tranquilos e sem grandes descobertas. Após as negociações de Aziz, voltaram à capital para lidar com a segunda parte do plano para manter acesa a chama da guerra, que já tinha mais de três décadas e cujas próximas vítimas eram dois membros da força-tarefa.

Nada tirava de sua cabeça que o desaparecimento de Zach e Yael no seio do Saara era fruto do jogo de poder. Riu de escárnio quando escutou as garantias de Winston, suas mentiras sobre o casal estar com um problema de comunicação, porém bem.

Como se a CIA não quisesse aproveitar a oportunidade para ganhos próprios, pensou. Viu isso de perto na Guerra do Iraque e presenciou o poder deles no Afeganistão. Absorta em meio ao remexo da Land Rover, questionou se Winston não queria o poder das crianças para si.

Era um pensamento macabro e incrivelmente real.

Seria porque a liderança da Operação Noel estava na mão dos russos? A presença de Ruslan e Maksim era um indicativo. Mas se os russos apoiavam Habret, por que o ocidente também o fazia? Não era para eles apoiarem o atual presidente?

Não entendia nada desse jogo perverso. A única coisa que entendia era o dever de salvar aquelas crianças das garras de bandidos e lhes dar um lar longe dos olhos nocivos dos gigantes. Mas não confiaria em agências de inteligências para tal.

Ela se remexeu no banco do carona quando entraram nas ruas empoeiradas da capital. Não foi por causa do balanço do carro, tampouco devido aos quebra-molas. Nas entranhas da alma, Jacque notou algo pesado no ar, como se o véu escuro e sombrio da morte cobrisse a cidade.

Uma nuvem branca, pequena e traiçoeira, subiu no horizonte e destruiu o domo de uma mesquita, lançando escombros e vidro estilhaçado para todo lado.

Não.... A voz ficou presa.

Não queria sentir o cheiro de queimado ou ver fumaça se espalhando, irritando seus olhos e garganta. Ela queria menos ainda ouvir os gritos de agonia das vítimas ou o grunhido de animais assustados que corriam para longe e destruíam o que estivesse no caminho.

Levou a mão ao peito doído, mas a dor não era física. Era emocional.

Os carros da polícia correram em direção da explosão quando outra soou bem mais perto, o estrondo tão forte quanto o da primeira. Ela não tinha dúvidas. A capital do Chade era alvo de atentados terroristas.

Sentiu a flutuação etérea permear o ar e teve certeza. As explosões não normais. Não eram bombas ou homens-bombas. Eram pessoas usando magia para causar pânico e destruição.

Terroristas mágicos. Era só o que me faltava.

A raiva deu lugar ao desespero quando se lembrou do objetivo da operação Noel e dos rumores do acampamento de Habret.

Não me diga que estão usando as crianças...

— Aziz, me deixe dirigir! — Não conseguiu conter o temor longe da sua voz.

Aziz, no entanto, não lhe ouviu. Estava paralisado pelo caos.

— Fabian!

Pegou o rosto dele e encarou suas obsidianas assustadas, trazendo-o de volta para o mundo mundano. Aos poucos, os barulhos do lado de fora sumiram, dando lugar ao silêncio dentro do carro.

Aziz anuiu entre suas mãos calejadas, um sorriso surgiu em seu rosto.

— Obrigado, Jac. De verdade.

O Grande JogoWhere stories live. Discover now