CINCO: Desorientação

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Subsolo da Embaixada do Chade, Washington, D.C., Estados Unidos. 05 de outubro de 2018.


Tomar uma surra não estava nos planos de Jacqueline, mas ao ver Ruslan grunhido de dor ao se sentar na única cadeira disponível e Maksim com ferimentos piores do que ele infringiu nela, ficou satisfeita consigo mesma.

Certamente teria que tratar os hematomas de seu corpo, colocar gelo e passar maquiagem, ainda assim, tudo correu melhor do que o esperado. Pelo menos era o que pensara, até Aziz proferir aquelas palavras que a deixaram indignada.

— Diga o que eu quero saber e eu lhe deixo ir embora.

Suas feições de reprovação passaram despercebidas, ou melhor, foram ignoradas por Aziz. Ao receber a arma das mãos dele, Jacque compreendeu os planos do parceiro através de seu olhar condescendente.

Além de não ter jurisdição, as chances de sofrer represálias nas mãos dos russos eram altas. Sabia de muitas histórias sobre seus assassinatos e vinganças, capazes de atravessar fronteiras e até continentes. Ela atirar em um agente ativo chacoalharia a comunidade de inteligência de forma inimaginável.

Sem contar seu comportamento que mais parecia de uma agente renegada sem apreço pelas leis de um território internacional.

Ela trabalhava para nunca depender de alguém, mas se viu obrigada a pôr suas fichas em Aziz, um homem que sempre tinha um plano atrás de um plano. Geralmente essa era a função dela, ela limpava a sujeira dos agentes de campo, e agora era a vez de alguém limpar sua sujeira.

O que Ainsley diria se a visse naquela situação?

— Minha guarda-costas é bastante zelosa, desculpe por tudo. — De pé, parado em frente ao agente russo, Aziz entrelaçou os dedos e olhou a destruição da sala. — E não se preocupe, pagarei por tudo.

— Obrigado. — O sarcasmo de Ruslan era tão nítido quanto cristal. — Mas promessas não valem muita coisa em nosso ramo.

— Para adocicar um pouco o nosso acordo, lhe darei um bônus. — Jacque se perguntou se os músculos do rosto de Aziz nunca se cansavam de rir. — Eu lhe darei um arquivo confidencial, com informações bastante úteis para o que assola seu país.

Os olhos de Maksim se arregalaram, fazendo-o grunhir de dor. Sentado no chão por falta de opções, ele disfarçou o silêncio que se seguiu à pergunta com uma massagem em seus joelhos.

Jacque precisava de massagem também. E de uma ducha. Até pegar a bolsa de mão do chão foi um sacrifício. Talvez tivesse uma costela quebrada, Maksim não a poupou. Em uma luta visceral, toda vantagem contava. A dele era ser um tanque. Tremeu ao imaginar Ruslan no lugar dele.

Checou a bolsa e viu algo que havia lhe interessado.

— E como você sabe dos negócios de oligarcas russos? — Ruslan arqueou uma sobrancelha.

— Sou bem informado. — Aziz jamais revelaria seus segredos, ela sabia disso. — E tenho contatos. Sabe o poder deles, não é mesmo?

— Gusev!

Maksim continuou em russo, o que Jacqueline não entendia nada, mas viu o deleite na face de Aziz, um verdadeiro linguista. Ocorreu uma troca sutil de farpas, nitidamente estampada no rosto do trio.

Jacqueline aproveitou para procurar um espelho e ver as marcas no pescoço. Tocou no abdômen e sentiu uma dor lancinante. Estaria fora de combate se não tratasse aquilo logo.

Olhou os corredores escuros e analisou como os adinkras diminuíram o som do disparo de sua arma e impediu a ação dos seguranças. Explicar para os superiores o que ela fazia na embaixada no Chade seria horrível. Teria sorte se ainda tivesse um distintivo.

O Grande JogoWhere stories live. Discover now