TRÊS: Festa Mágica

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Embaixada do Chade, Washington, D.C., Estados Unidos. 04 de outubro de 2018.


A brisa noturna acariciava o rosto de Jacque à medida que Aziz conduzia a Land Rover em direção a Fileira das Embaixadas, uma zona de informação que abrangia uma seção da Avenida Massachusetts, entre o Scott Circle e o lado norte do Observatório Naval dos Estados Unidos.

— Tem certeza de que posso entrar armada em uma festa onde terá inúmeros mandachuvas do planeta? — Ela ajeitou a bainha do vestido justo e preto, que realçava as coxas torneadas.

— Todos podem levar até um segurança. — Aziz meneou a cabeça para o lado. — E você é a minha. Me surpreende você fazer essas perguntas. Não é especialista em infiltração e trabalho disfarçado na sua divisão?

— Eu trabalho com a escória do planeta, Fabian. — Ela colocou a bolsa de mão no colo. — Não me visto ou me produzo para navegar pelos corredores do poder, onde palavras são mais fortes que uma arma. Estou lidando com pessoas que coordenam o destino de mundos, não com ralés.

— Não há muita diferença e não se esqueça que eu também lido com escórias.

— Sim, eu sei que você emprega inúmeros ladrões, assassinos e mercenários para fazer suas missões.

A fama de Aziz não era muito boa no mundo da inteligência. A Interpol também fazia questão de se manter afastada dos assuntos dele para não ser arrastada em uma espiral de traições e mentiras.

Como esquecer da vez em que Aziz contatou a Interpol para recuperar um artefato ao mesmo tempo em que contratou um ladrão para roubar o mesmo artefato? Sem querer, ele foi o responsável pela maior aventura de sua vida.

E pela maior decepção também. Pois foi assim que ela conheceu seu ex. O único homem que ela amou, mas que não era para a sua vida. Não existia um Romeu e Julieta em seus caminhos cruzados. Ela não abdicaria de sua profissão para viver uma vida de aventuras ilegais.

Não precisava de mais bagagem. Nada melhor que deixá-lo ir e mudar sua vida. Mas Aziz ainda era um resquício do que teve com Ignácio e ela querendo ou não, eles eram melhores amigos.

Ao menos poderia se confortar com o fato de que ele era do mesmo mundo que ela.

— Você é estranho, Fabian.

— É a segunda vez que você diz isso.

— Sério. Seu estilo. — Apontou para o terno branco da Louis Vitton e os sapatos Dolce Gabbana. — É bem diferente do que eu imaginei para um espião, cuja característica mais marcante é um bigode mustache.

— Pensou que eu seria o quê?

— Mais sombrio e menos ousado — confessou. — Espionar é estressante, então imaginei você em um bar afundando as mágoas no fundo de um copo, por causa das coisas moralmente duvidosas que você é obrigado a fazer. Não te imaginei com carros luxuosos e martínis.

— Para toda história de sucesso, há um começo sombrio. — O sorriso dele fraquejou. — Cheguei a uma posição em que posso terceirizar o serviço, evitando a parte mais profana do nosso ramo. Minha aparência esquecível, alguém que você não dá valor ao entrar em uma loja ou que as pessoas consideram comum. Não sou atlético e forte, nem magro raquítico.

— Hoje, todos te reconhecem.

— Pelo bigode e pelo meu nome, pelos acordos dúbios que faço. — Ele rebateu. — Minha posição nada mais é que um disfarce não-oficial. Se eu for pego fazendo o que não devia, jamais me resgatariam e eu sumiria da face da terra. E esse é um dos motivos pelo qual quero você ao meu lado, Jacqueline.

O Grande JogoWhere stories live. Discover now