Capítulo 1

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LARA

Limpo o suor da minha testa enquando caminho em direção ao ponto de ônibus, empurrando minha mala. Deixei para marcar todas as limpezas de pele hoje, que ai não preciso levar minha maca, deixo pra marcar as massagens em um dia só, que ai pego o carro da minha mãe emprestado.

Hoje fazia muito calor no Rio, estava quase derretendo, mas seguia firme, tenho 7 atendimentos, todos no mesmo bairro, só o ultimo que vou fazer no Complexo do Alemão, onde Victória mora.

Victória é minha melhor amiga, conheci ela na faculdade de estética que fizemos, desde então não nos desgrudamos mais. Agora que estamos formadas, me dedido mais a parte de cuidados com a pele e massagens, já ela gosta de maquiagem e desing de sobrancelha, além de fazer outros procedimentos, como extenção de cílios. Hoje vou subir o morro pra fazer sua limpeza e ficar por lá mesmo para ir ao baile, nunca fui, mas quem vai tocar hoje é o TZ da coro, não tem nem como não animar.

Minha ultima cliente antes de ir pro Alemão, arrumo minhas coisas na mala, a Paola me faz o pix e me despeço. Chamo um uber que me diz que só pode me deixar na entrada do morro e eu concordo. Chegando lá ele para, pago a corrida e desço com minha mala, ligando pra Vitória.

- Gata, tem como vim aqui embaixo me buscar?

- Onde você está?

- Em frente aos meninos armados Vitoria, só vem

- Já vou, ta com a mala?

- Tô, porque?

- Porque vou ter que arrumar um carro ne, um mototaxi não vai subir com você e com a mala né maluca.

- Vai rápido, senão vou desmaiar aqui mesmo!

Não demorou muito e um carro todo preto estacionou perto dos meninos, abaixa o vidro e os cumprimenta. Do lado do passageiro Vitória desce e vem até mim.

- Quem veio com você?

- É o grilo, foi o unico que consegui com a pressa que você tava.

- O grilo - soltei uma risada debochada - nem pra ter um vulgo decente.

- Cala a boca e vamo logo.

Entrei no banco de trás do carro, cumprimentei o Grilo e seguimos até a casa da bonita. Ela era melhor amiga dele, e vez ou outra eles ficavam, mas tudo sem compromisso, porque se ele era safado, ela era mil vezes pior.

- Obrigada - agradeço quando chegamos e pelo menos a tirar a mala do bagageiro ele ajuda.

- Precisa agradecer não, mas qual foi, nunca te vi pelo morro - diz me olhando de cima a baixo com a sobrancelha franzida.

- Ela não vem muito aqui porque tem medo, mas hoje não teve jeito e ela teve que vir pra me atender - Vitória fala revirando os olhos - medo não sei de que.

- Precisa ter medo não pô, aqui você tá em casa e ninguém vai mexer contigo não.

Concordei com a cabeça e fui entrando na casa, ele deixou minha mala na sala, deu um selinho na Vitória e saiu.

- Por que vocês dois não se assumem logo?

- Pra que se eu quero ele e mais uns quinze?

- Você não vale nada, pois eu bem que tô afim de um lovezin - falei fazendo bico - mas só tenho você que me chama pra suas aventuras.

- Tá reclamando?

- Jamais, mas eu nunca me dou bem.

- Então bora pro baile hoje? - já era a terceira vez que ela me falava disso.

- Já te falei que não gosto disso - disse fazendo charme, porque já fui na intenção mesmo.

- Não tem caô nenhum, bora comigo, vou conversar com o Grilo e com o Arábia pra eles liberarem nossa entrada no camarote.

- Tá maluca? ficar em lugar que só tem bandido?

- E você acha melhor ficar lá embaixo no meio daquele mundo de gente, sem segurança nenhuma? - pensando por esse lado, ela tinha razão.

- Se vamo pra chuva, bora se molhar né. Vê com esses dois ai, se der bom nós vamos.

Depois disso comecei o atendimento dela e ela jurou que faria uma limpeza de pele em mim quando acabasse. Quando acabei tudo que tinha que fazer, ela fez minha limpeza de pele e fomos comer alguma coisa no bar da Cláudia. Quando chegamos em frente vimos a rodinha de bandidos na porta, todos fortemente armados, conversando, bebendo e fumando. Daquele grupo eu só conhecia o Grilo e os meninos que estavam na barreira hoje, não fazia ideia de quem era o Arábia.

Antes da gente entrar a oferecida da Victória fez questão de ir lá nos meninos.

- Oh Grilo, queria ver uma meta com você - disse olhando pra ele e cumprimentando os outros com um aceno de cabeça.

- Qual foi Vic, vai apresentar a amiga não? - um branquilo, com bigodinho fininho e todo tatuado perguntou.

- Não é pro teu bico não, uva. A garota é trabalhadora e toda certinha - Vic falou rindo.

- Ih, qual foi? agora só porque é trabalhadora não pode pegar bandido? Nós mexe com o errado mas também trabalha pra caralho Victória, para de caô - um moreno, com cara de marrento e cabelo na régua falou, achei um gostoso, mas falei nada.

- Para de querer formar caô botando palavras na minha boca, vim aqui na humildade, Arábia - então esse era o famoso Arábia...

Ele não disse mais nada, só fechou mais ainda a cara e deu balançou a cabeça em sentido positivo.

- Deixa nós duas curtir o baile lá em cima com você? - Vic voltou a atenção ao Grilo, pedindo com carinha de dó e passando a mão em sua correntinha.

- Se o Grilo quiser te levar como acompanhante dele problema é dele, mas sua amiga só sobe se tiver com alguém, esse baile o camarote vai ser só de casal - Arábia disse soltando a fumaça.

Revirei os olhos e puxei Victória quando ela já ia retrucar ele.

- Deixa isso pra lá, Vic - falei no ouvido dela - vamos entrar e comer alguma coisa que tô morrendo de fome.

Ela emburrou a cara e foi entrando comigo, Grilo veio atrás pouco depois.

- Não liga pro Arábia não viu Lara, é que hoje a fiel dele vai tá e ele tá pilhadão com isso - dei de ombros - mas eai vic, vai animar subir comigo assim mermo?

- Claro que não né Hugo, vou subir e deixar a menina sozinha na pista? que ideia - disse com raiva.

- Sobe com o uva, Lara - ele me olhou e eu ri.

- Eu não, não vou ficar com ele e não vou subir pra atrapalhar, pode ir pro baile vocês e eu volto pra casa, vou arrumar outra coisa pra fazer - olhei pra eles, porque tenho certeza que os dois queriam curtir o baile juntos - vou empatar foda de ninguem não, nem de vocês e nem do uva.

- Para, nós vamos pro baile e vamos ficar na pista juntas - vic entrelaçou nossos braços - tchau Hugo.

Antes que ela virasse as costas, ele puxou ela.

- Eu fico na pista com vocês pô - disse metendo serinho pra ela - dá em nada.

Vic só deu um sorrisinho e balançou a cabeça, deu meio volta e sentamos em uma mesa lá dentro, pedindo algo para comer porque eu já estava morrendo de fome.

Entregue à LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora