Capítulo 35

313 23 4
                                    

LARA

Arábia tocou meu rosto com carinho, limpando as lágrimas que insistiam em cair.

- Vamos lá no açougue comprar as coisas pro churrasco - minha mãe chamou Vick e Grilo - vocês dois precisam conversar - eu não queria conversar.

Parece que a gravidez fazia meus sentimentos se intensificarem dez vezes mais, me tornando uma chorona. Antes que eu pedisse pra eles ficarem, os três saíram pela porta me deixando ali, a sós com ele.

- Vem - me puxou pro sofá, sentamos lado a lado e ele puxou minha cabeça pro teu ombro, exausta de tudo que eu estava sentindo, apenas coloquei minha cabeça ali e aceitei seu carinho de bom grado - me conta, o que que tá pegando?

- Antes de tudo não quero que tu faça nada com o Iago, ele se tornou muito importante pra mim, e antes que tu pensei besteira com essa mente fértil, é da mesma forma que você é importante pra Vick - ele concordou contragosto - eu não sei, eu tô preocupada com minha segurança, com a segurança do meu filho e de como vai ser daqui pra frente - respirei fundo - não sei se o melhor é eu ficar aqui no Rio ou ir embora pra Minas, pelo menos por enquanto.

- Quando eu falava que não queria ter outro filho, era justamente pra evitar isso que está acontecendo agora, tu tá com esse medo e essa preocupação justamente por esse filho ser meu, por que se fosse de qualquer outro cara, não ia ter essa - ele estava visivelmente abalado - tô tentando resolver tudo da melhor forma, Lalá - segurou em meu queixo e levantou minha cabeça, fazendo com que nossos olhares se fixassem um no outro - você não faz ideia do que eu sinto por você, do que eu sinto por esse neném que só sei que existe há alguns dias - passou a mão pela minha barriga - mas as coisas não são tão simples assim pra mim - se aproximou, por um momento eu me deixei levar, mas quando ele ficou próximo demais tive que me desviar - desculpa.

- As coisas nunca são simples, esse é o problema, não quando se trata da gente - eu já estava de saco cheio - começamos errado e terminamos da mesma forma - eu não sabia mais o que pensar e nem como agir - você correu atrás de mim mesmo estando casado com a Samantha, o que me garante que se a gente ficar junto no futuro, tu não vai fazer o mesmo comigo? 

- Claro que não, Lalá - ele não parava de acariciar minha barriga.

- Não temos garantia de nada, para e pensa - estava procurando as palavras certas, mas elas simplesmente não existem - tudo pode ser diferente, como tudo pode se repetir novamente - ele sabia que não era só sobre o casamento dele que eu estava falando.

- Eu tô fazendo de tudo pra dessa vez ser tudo diferente - se aproximou tão de repente, que não tive tempo de me afastar, então ele colou seus lábios no meu.

Ele pediu passagem e eu cedi, sua língua adentrou em minha boca e logo o gosto salgado das minhas lágrimas se fez presente no beijo. Era um beijo calmo e ele precisava daquilo tanto quanto eu, então ele foi conduzindo e intensificando cada vez mais, da mesma forma como foi nosso primeiro beijo. O encaixe perfeito, o gosto perfeito e na medida certa pra despertar sensações que eu não gostaria de sentir, não agora.

Parei nosso beijo e ele me olhava com o mesmo olhar de apaixonado de três meses atrás.

- Eu quero você, Lalá - encostou sua testa na minha - se entrega a loucura que é minha vida e vamos construir nossa família.

- Se de ficante eu não fui promovida a namorada, tu acha mesmo que quero ser promovida a amante, Arábia? - fui sincera - aquilo que te falei no pagounk ainda vale pra hoje, eu não tenho vocação nenhuma pra ser amante, acho que mereço muito mais que isso, e se você não pode me oferecer isso, mesmo que seja "por enquanto", prefiro que tu continue sendo apenas o pai do meu filho.

- Caralho - ele tirou o boné e colocou de novo - eu te entendo, princesa, juro que entendo, e queria muito poder te contar tudo que tá rolando, mas eu não posso - bufou - pode não parecer, mas tudo que estou fazendo, mesmo sendo todo errado, é pra proteger vocês e mesmo que isso me faça perder você, eu tenho que arriscar.

- Consegui marcar o ultrassom pra você ir, pra semana que vem agora, mas acho que ainda é muito arriscado, então vou cancelar e o do mês que vem você vai - mudei de assunto e foquei no bebê - não vou vim pro morro mais, quero mesmo me manter segura, acha que consegue nos manter em segurança aqui ou é melhor que eu volte pra Minas um tempo?

- Com o Caneta na tua cola eu consigo manter vocês em segurança por aqui, é até melhor vocês por perto - concordei - esse final de semana vou ter uma reunião muito importante, por isso quero que fiquem mais quietas dentro de casa, Vick vai até descer pra ficar com vocês, assim que eu puder, eu te conto tudo que tá rolando.

- Tudo bem - me afastei mais dele e dos seus toques.

- Não vou te pedir pra me esperar resolver todas essas merdas, muito menos vou te impedir de seguir tua vida - ele foi sincero - só te peço pra ter cuidado em quem tu vai confiar, a situação realmente não é boa e talvez vamos precisar tomar algumas decisões difíceis.

- Como assim - não estava entendendo.

- Vou falar bem por cima - balancei a cabeça pra ele continuar - pode ser que a Samantha esteja mentindo - fiz uma cara de "jura?" - e pior, pode ser que comece uma guerra de facção - ai meu coração acelerou e meu olhos se arregalaram - mas pode ficar tranquila que eu tô resolvendo tudo já e vocês estão mais que seguros, só tô te falando isso pra tu entender qualquer decisão drástica que eu precise tomar.

- Tudo bem - já estava de saco cheio dessa conversa - estamos conversados então?

- Estamos e antes que tu venha enchendo meu saco depois, vou ter uma conversa bem da boa com Caneta sim, não gostei nada do meu de confiança estar abraçado contigo quando eu cheguei aqui.

- Tá vendo coisa onde não tem e mesmo se tivesse, não foi você que acabou de falar que não vai me impedir de seguir minha vida? - provoquei e ele fechou a cara, travando o maxilar.

- Mas isso não inclui os meus, não fode porra - disse nervoso me fazendo rir.

- Espero que tenha dado tempo de vocês conversarem - minha mãe falou abrindo a porta e trazendo um carvão em suas mãos.

- Deu sim - foi a única coisa que eu respondi.

- Então bora subir e colocar fogo no carvão - Grilo passou subindo as escadas e indo em direção a lage - não tamo com tempo não, Arábia, anda logo - gritou.

Arábia pegou o carvão das mãos da minha mãe e foi atrás do Hugo, que subiu com as carnes. Fomos pra cozinha adiantar o vinagrete, o arroz e a farofa.

Entregue à LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora