Capítulo 7

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ARÁBIA

Saí de casa pilhadão com aquele papo da Samantha, sei que não sou o mesmo de antes, mas eu tenho zero cabeça pra ter outro filho. Não quero nunca mais sentir a dor daquele dia, e a dor que sinto até hoje. É tocar no assunto que meu coração volta a sangrar como a merda de uma ferida que ainda não cicatrizou.

Dei um salve pros mano que tavam na contenção e entrei pra minha salinha. Peguei os pacotes de coca que ainda não tinham sido colocada nos pinos e fiz as carreiras em cima da mesa, enrolei uma nota de cinquenta reais e puxei, cada narina uma carreira diferente.

A onda bateu totalmente errado, o que era pra me dar um pouco de paz e me fazer fugir da realidade, me fez entrar mais ainda no fundo no poço e quando eu assustei estava sentado no chão chorando igual uma criança.

Única pessoa que eu conseguia dividir essa dor, falar abertamente e que poderia me ajudar nesse momento era o Grilo, que passou por tudo isso comigo, que era padrinho do meu menino. Desbloqueei o celular e fiz uma chamada pra ele, que em menos de 15 minutos já estava aqui na boca comigo.

Quando ele chegou eu desabei ainda mais, desabafei e seus conselhos foram me acalmando.

- Irmão, agora é cabeça erguida. Levanta do chão e vamo lá pra casa, você toma um banho e descansa, mais tarde tem pagofunk na quadra e eu vou ficar no plantão e na contenção pra você curtir sua onda de boa.

Segui o que ele falou e fui pro barraco dele, chegando lá tomei banho e apaguei no sofá da sala. Só acordei quando ele entrou em casa me chamando, mandando eu me arrumar pra poder ir pra quadra. Mandei deixar o recado pra Samantha ir pra pista, tirar um hotel com a amiga dela pelo menos uns três dias, não tava afim de ver a cara dela e muito menos de brigar.

- Sabe se a Samantha já foi?

- Pô, me deram o papo que já.

- Coé, então vou dar um pulo lá na minha goma pra me arrumar e a gente vai pra quadra.

.

Já estava na mesa junto com os meus, vez ou outra o Grilo vinha até aqui pra dar um salve e zuar um pouco, mas sempre na postura da função que estava exercendo. Logo as piranhas começaram a rodear a nossa mesa, mas eu não tava afim de me envolver com ninguém, só queria curtir com os aliados.

Grilo que estava do meu lado, parou e olhou pra entrada da quadra, dando um sorriso largo. Difícil ver o homem sorrindo, então acompanhei seu olhar e dei de cara com a Vick toda arrumada e me surpreendi ao ver Lara ao seu lado. A filha da puta tava gostosa demais naquele shortinho é naquela blusa que deixava suas costas toda exposta.

Victória estava com a cara fechada rodeando o olhar pelo lugar, sentia falta da sua amizade, mas tudo é fase. Assim que ela bateu o olho no Grilo, também abriu um sorriso largo no rosto e veio andando na nossa direção, ela e sua amiga

- Tá trabalhando pra esse vagabundo ficar de marola? - perguntou dando um selinho no Grilo.

- Nem começa que agora eu tô querendo só curtir minha onde no meu canto - olhei elas de canto e voltei a beber.

Ela riu e a outra continuou com a cara fechada.

- Pode ficar à vontade ai, deixa tudo na minha conta e vai curtir o pagode - falei me virando pra elas.

Eu realmente estava de boa e não queria ninguém, mas essa amiga da Victoria acaba com minha sanidade. Ela não me dá moral nenhuma, mas também a noite de ontem foi foda, Samantha acabou com ela e eu nem fiz nada.

Aos poucos as meninas foram se soltando e o Grilo foi dar uma volta. Victória fez um copo de wisky pra ela e pra Lara, disse que iam dar uma volta e depois voltavam.

Continuei ali curtindo minha onda, bebendo meu gelinho e fumando meu baseado. O pau estava torando e a quadra cheia, todo mundo cantando junto com o grupo de pagode que estava no palco improvisado e eu tava feliz demais de oferecer isso pra comunidade.

- Qual foi, cadê sua mulher? - elas já estavam de volta e Victória já veio balangar beiço pro meu lado.

- Mandei ela pro asfalto, mas isso não é da tua conta não - não queria falar disso.

- Porra, precisa dessa ignorância toda?

Nem respondi, continuei ao lado dela bebendo. Ela me ignorou e voltou a dançar com sua amiga, que chamava antenado de todos os vagabundos. Uva então era o que mais secava o corpo da Lara, mas ela nem dava ideia pra nenhum deles.

Depois de um tempo elas foram pra fora da quadra, até o bar do Carlinhos pra poder usar o banheiro. Acompanhei com o olhar e vi que a Lara entrou e Vick ficou na porta conversando com Grilo, fui atrás e fiquei trocando ideia com eles enquanto a outra lá estava lá dentro do bar.

- Eu mandei a Samantha pra pista com a amiga dela por uns dias, não to afim de olhar pra cara dela não.

- Mas pra quem estava de puro love ontem, tá muito rápido essa relação de amor e ódio - Vick debochou.

- Cê tá ligada, eu sou de boa demais com ela, mas tem coisa que não tem condições, você compartilha da mesma dor que eu, tem uma ideia do que eu tô falando - olhei pra ela e ela já foi murchando todinha.

O assunto Henry machucava todos nós, falar em ter outro filho é fazer vir à tona toda aquela dor. Ela, mais que todos, conseguia me entender só com um olhar, era como uma irmã pra mim, mas infelizmente perdemos aquela ligação de antes por ciúmes da Samantha. Eu aceitei porque amava muito ela e porque entendia seu pensamento, se fosse ela eu teria uma reação até pior, mas era bobagem, nunca rolou nada entre nós dois.

- Esse povo não sabe mijar dentro do vaso não, puta que pariu - Lara veio reclamando enquanto arrumava seu short.

- Se tivesse falado que queria ir mijar eu tinha te levado lá pro meu barraco pô, é aqui do lado - eu disse me divertindo com a situação.

- Deus me livre, ir lá e sair sendo humilhada por sua mulher - deu ênfase na última palavra me fazendo rir.

- Nem na favela ela tá - falei e dei uma piscadinha
pra ela, que riu debochando de mim.

Não gostei, mandada do carai.

- Não sou igual essas que você está acostumado, Arábia - veio chegando perto e me olhando no olho - não tenho vocação nenhuma pra ser amante - piscou de volta pra mim.

Entregue à LoucuraWhere stories live. Discover now