Capítulo s28

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LARA

O final de semana em si foi bem tranquilo, minha mãe respeitou meu espaço e eu só aproveitei para digerir tudo que estava acontecendo. Sempre quis ser mãe, mas depois que me envolvi com o Diogo essa vontade adormeceu, e pra ser sincera eu acho que nem voltaria, mas tudo aconteceu muito rápido, desde o nosso lance até eu descobrir que ele pediu Samantha em casamento de novo, justamente no mesmo dia que descobri que estava grávida, dele!

Confesso que ainda não consigo aceitar de bom grado tudo que está acontecendo, mas entendo que a forma como agi quando descobri foi injusta. Injusta comigo e com o bebê. Hoje, segunda-feira, minha mãe acordou bem cedo e já conseguiu agendar um horário com a médica, para fazermos todos os exames necessários, mas o primeiro e que ela estava mais ansiosa, era o ultrassom. 

Levantei da cama apenas para tomar café, o mesmo que joguei pra fora minutos depois. A fase do enjoo veio com tudo e estou me sentindo muito indisposta. Almocei apenas uma salada leve com alguns cubos de frango por cima e me arrumei para ir fazer o ultrassom, confesso que estava nervosa, mas com minha mãe do lado tudo ficava mais leve.

- Se prepara porque tu nunca mais vai esquecer desse momento - minha mãe disse quando tirou o cinto, após estacionar o carro na porta da clínica - é um momento único na vida de uma mulher, escutar o coraçãozinho de um ser que não tem nem o tamanho de um grão de feijão mexe com a gente de uma forma inexplicável.

Já estava chorando enquanto ela ia contando como foi quando ouviu meu coração pela primeira vez, fomos caminhando juntas e, após toda burocracia, já estava ansiosa para o meu nome ser chamado, já seria a próxima.

- Senhorita, Lara? - a médica de cabelos castanhos e óculos de grau chamou meu nome, enquanto olhava para sua prancheta e procurava pela resposta na sala de espera, assim que levantei ela me deu um sorriso confortante e nos guiou até a sala.

Fez algumas perguntas e me deu uma camisola para usar, fui até o banheiro e me troquei. Cada movimento que eu fazia sentia meu coração acelerar mais, parecendo que ia sair pela boca. Deitei na maca e ela me mostrou o aparelho com a camisinha recém colocada. 

- Se sentir qualquer incômodo pode falar - sabia que não era dos melhores exames a se fazer, mas não era minha primeira vez o fazendo, já que fazia acompanhamento a cada seis meses para manutenção do meu DIU, DIU esse que meu deixou na mão quando eu mais precisei.

Ela foi movimentando o objeto e a imagem de um útero ocupado por uma serzinho ia passando pela tela, olhei para minha mãe, que me abriu um sorriso e, assim como eu, estava chorando de emoção, de felicidade. Era uma sensação nova e que eu não esperava que fosse me deixar tão feliz. 

- Agora vamos ouvir o coraçãozinho do bebê - disse e apertou alguns botões de seu aparelho de ultrassom, e então o som alto e rápido tomou conta de toda a sala.

Nesse momento meu mundo parou, parece que tudo que vivi até hoje foi insignificante. Claro que nem de longe era dessa forma que imaginava esse momento, sem dúvidas me imaginei construindo uma família com um possível marido, e que o pai dessa criança estivesse junto nesse momento, que compartilhasse da mesma felicidade e empolgação, mas não foi assim. Quem estava ao meu lado tão emocionada quanto eu era minha mãe, e eu não iria reclamar por isso, por que estou recebendo todo amor e cuidado que gostaria.

Não aguentei e cai no choro, dessa vez mais forte.

- Nossa doutora, é tão forte e tão rápido os batimentos - disse em meio as lágrimas - está tudo bem com meu bebê? - perguntei já preocupada.

- Aparentemente sim, ainda é muito cedo para qualquer coisa, mas ele está bem, seu endométrio está bem, seu colo também, então você tem tudo para seguir essa gestação da forma mais saudável possível.

- Ela está liberada para viajar de avião? - minha mãe perguntou.

- Claro, vida normal, tudo dentro do que ela aguentar - me olhou e sorriu - muitos enjoos?

- Bastante - ri e sequei algumas lágrimas.

Levantei da maca e fui ao banheiro me trocar, assim que sai me sentei junto a minha mãe em frente à mesa da médica, que já estava com as imagens e o laudo do ultrassom em mãos, para me entregar.

- Além disso, vou passar os outros exames que é de praxe para toda gravidinha, assim que realizá-los e estiver com os resultados, marque um retorno para programarmos e fazermos seu pré-natal da melhor maneira possível.

Tiramos mais algumas dúvidas e pegamos todas as guias dos exames. 

-O que achou desse momento minha filha? - minha mãe perguntou com os olhos brilhando assim que adentrou no carro.

- Foi o momento mais especial da minha vida mãe, parece que tudo que vivi até ali não existia - ela riu - claro que nem de longe era assim que eu imaginava ir ouvir o coraçãozinho do meu bebê, mas foi muito especial.

- Que bom, minha filha - ela me olhou rápido, desviando só alguns segundos sua atenção do trânsito, mas logo voltou - amanhã você vai cedo realizar esses exames que ela pediu e vou ver se já compro nossas passagens para o Rio amanhã a noite mesmo, o que acha?

- Mas já? - ela riu novamente - podemos ir quarta, o que acha?

- Vamos terça a noite mesmo, que chegamos lá e organizamos todas as suas coisas no apartamento e já dormimos nele, ai você deixa pra resolver suas coisas no resto da semana - me olhou quando paramos no sinal - ai eu compro a volta pra quarta da próxima semana, e dependendo do que ficar decidido, já arrumamos um frete pra trazer sua mudança - deu uma risada e voltou a prestar atenção na rua a frente quando o sinal abriu.

- Você não acredita que vai precisar desse caminhão de mudanças, não é mesmo?

- Nem um pouco, larinha - respirou fundo e colocou uma de suas mãos no peito - meu coração de mãe diz que esse é só o início da sua história com esse tal Arábia, que mesmo sendo bem conturbada vocês vão acabar juntos.

Não respondi mais nada e fui o resto do caminho olhando pela janela, observando as pessoas indo e vindo, cada uma com uma história de vida que não podemos se quer imaginar, mas fico pensando qual vai ser a história que vou contar a partir de agora. Como será que tudo vai se resolver e se desenrolar na minha vida, estava indo tudo tão bem e agora parece que ela virou de cabeça pra baixo. 

Mas como diz minha mãe, vai saber se de cabeça pra baixo que é o jeito certo de se viver a vida, não é mesmo? Vai saber que agora sim vou ser feliz de verdade, e que tudo que achei que era felicidade antes não passa de um faz de contas. Ou vai saber se vou viver os piores momentos da minha vida.

Me apego na minha fé, na crença do destino e principalmente na ideia de que tudo passa. Tanto as coisas boas quanto as ruins.

Entregue à LoucuraWhere stories live. Discover now