Capítulo 39

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ARÁBIA

Depois que cheguei da reunião custei a conseguir dormir, fui direto pra minha sala na boca e não quis conversar com ninguém. Não sei quem vou colocar de frente no morro que acabei por decidir que seria meu, mas sei que não seria nenhum dos meus de confiança, não por enquanto. Grilo tem que ficar por aqui porque minha meta é dar o comando do Alemão pra ele, preciso do Uva, do Fumaça e principalmente do Caneta por perto. Agora que pode ser que comece uma possível guerra de facção, preciso deixar a proteção da Lara reforçada, então pretendo manter Pão de Queijo e Beleza na tua contenção. Mil paradas na mente.

No outro dia, assim como prometido, juntei alguns dos meus soldados e fui até Parada de Lucas. Parecia cena de guerra aquele lugar, lá não é bom nem pra morador e nem pra bandido, aquilo ali tava parecendo um inferno, de tão mal administrado que estava sendo. Parece que virei o próprio capeta daquele lugar, já subi atirando nos olheiros que estavam em cima das lajes.

Como já tinha sido tudo passado para os que foram, eles apenas seguiram o roteiro quando chegamos em frente a boca principal. Fecharam a rua e cercaram o quarteirão inteiro, com permissão pra atirar em qualquer um que tentasse passar por ali. Entrei no barraco com um na minha frente e um atrás, ambos fazendo minha contenção e se ligando pra ver se não vinha nenhum fudido tentando me matar. Abri porta por porta e matei quem estava ali dentro.

Fiz a limpa naquela favela, não deixei nem um inimigo vivo. Dei toque de recolher e mandei limparem as ruas, ordenei que jogassem todos os corpos na vala e tacassem fogo, deixando tudo limpo novamente. Assim foi feito.

A tropa que foi comigo ficou por lá, pra deixar claro que agora estaria com nova gestão e fazer todos os levantamentos. Eles tinham até segunda-feira pra me deixar a par de tudo e eu até terça pra escolher quem ficaria de frente por lá. Embora eu ache que quem vai ser escolhido é o Coringa, um menor que sempre tá disposto a fazer qualquer coisa, um dos que foi na minha escolta pra reunião.

Passei o restante do final de semana pensando em quem eu deveria colocar lá e em quem eu precisaria matar pra manter minha vida no sossego. Quando o TCP descobriu que entrei lá, matei geral e assumi o morro mesmo depois de tanto tempo, mandaram um recado pra cúpula de que a guerra ia começar e esse recado foi repassado para todos os donos de favela do CV. Nisso tudo, Grilo tentava manter minha cabeça no lugar, e eu só queria usar droga e ver sangue na minha frente.

Segunda mal amanheceu e eu já fui conversar com a psicóloga, precisava tirar a história da Samantha a limpo. Dependendo do rumo que essa conversa tomar, vou ter que fingir estar arrependido e ser o melhor marido do mundo, pra não colocar quem eu realmente queria do lado em risco.

Desci pro barraco que ela estava, sendo seguido por Grilo que tentava me conter de alguma forma. Entrei no quartinho pilhadão e vi ela ali, deitada encolhida no canto. Meu parceiro entrou depois de mim, fechou a porta e ficou encostado nela observando tudo.

- Acorda, piranha - dei um chute de leve na tua costela, vendo ela arregalar os olhos e dar um gemido de dor - chegou nossa hora de acertar as contas - olhei pra ela de cima, enquanto ela levantava e ficava de pé.

- Por favor, não faz nada comigo, deixa eu ir embora - suplicou chorando.

- Embora tu não vai mais, agora vai depender da tua fé, se vai encontrar com Deus ou com o capeta - ela chorou mais, chegando a soluçar - para de chorar que a gente ainda nem começou - dei uma gargalhada, deixando meu lado psicopata falar por mim - tu que vai escolher como vai morrer, se vai ser do jeito rápido ou do jeito demorado.

- Pelo amor de Deus, eu faço o que você quiser, mas não me mata - ela estava desesperada.

- Tu teve peito pra acobertar safadeza de mulher velha, agora vai ter que ter peito pra sustentar - encarei ela - achou que tava mentido pra qualquer um, porra? - dei um tapa forte em sua cara, que ecoou pelo quarto inteiro, fazendo com que ela colocasse a mão em cima da bochecha que ficou vermelha - agora vamos lá, se tu me falar a verdade, vai ser só um tiro no meio da tua testa e eu ainda mando entregarem o corpo pra tua família - suspirei - agora se tú não colaborar - estralei a lingua no céu da boa em negação - vou ser obrigado a te torturar até tu implorar pra morrer e te queimar viva, sem corpo pra tua família, tu que escolhe.

Entregue à LoucuraWhere stories live. Discover now