RECOMEÇO

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Abri os olhos faltando 5 minutos para o despertador tocar. O meu peito ainda sentia o peso do vazio. No reflexo da tela do celular era notável o quanto eu estava acabada, as bolsas abaixo dos meus olhos estavam destacadas de tanto chorar ontem a noite. Fui para o trabalho me arrastando, esse era um daqueles dias que eu queria sumir, eu não queria escutar a voz de ninguém, estava completamente apática.

 
Preenchi algumas planilhas no trabalho com as informações dos eventos da empresa, as horas passaram- se arrastando, mas logo quando bati os olhos no relógio da parede faltavam dez minutos para acabar o meu horário, fui desligado o computador e usei meus últimos minutos para ir no banheiro.


Os meus pés faziam pequenos barulhos ao se encontrarem no chão, o dia hoje estava nublado, o tempo hoje decidiu combinar com a tempestade que tinha caído ontem dentro de mim e depois ficou tudo cinza. Eu não tinha planos de parar para conversar com o Gabriel, só que antes que eu conseguisse escapar com meus passos apressados, ele me abordou.

 
- Hoje você vai ver a loja né?? - perguntou Gabriel. 

Eu estava cansada, e não sei o quanto isso era visível para os outros. Antes que eu pudesse formular uma frase ele completou.

- Você disse que entraria na próxima vez que passa-se. 

- Eu não me lembro disso - disse em resposta. 

- Por favor, você irá ajudar com a minha meta no trabalho.

- Está bem - disse por fim.

 
Entramos na galeria onde estava localizada a loja. Gabriel usava o uniforme da empresa junto a uma jeans clara rasgada, e um tênis branco. Gabriel foi na minha frente e, eu fui andando logo atrás.

 Passei os olhos rapidamente sobre os óculos que estavam á amostra no estabelecimento e logo me virei para Gabriel.

- Aqui é a loja, fique a vontade. 

- Você não vai me mostrar os óculos??

- Não - disse ele com a voz mais aguda e jogando a palma da mão pra frente - meus coordenadores só precisam ver que eu estou trazendo clientes para a loja, já sei que você não vai comprar nada mesmo. 

Olhei pra ele com as sobrancelhas arqueadas, a ousadia desse menino era incrível. 

- Como é? Respondi ainda com as sobrancelhas erguidas.

- Uai, e tu vai por acaso? - disse ele

- Você estava me usando? Perguntei com a voz risonha, e com um tom leve de indignação. 

- Não, não é bem assim - disse ele rindo também. 

- Certo, acho que já cumpri a minha promessa Gabriel, posso ir embora?

- Espera mais uns 2 minutinhos aí, você não pode ir embora tão rápido, a minha gestora está ali me observando - Quer uma água? Disse ele sorrindo com os lábios indo de ponta a ponta.

Cruzei os braços, e a minha boca estava aberta de indignação com a ousadia desse menino.

Logo em seguida fiquei com um riso na face, e olhei para seus olhos, eram de um castanho claro contrastando com seus cabelos de cor mais escura, nossos olhares se encontraram e logo desviei para a máquina de café ao lado.

- Não tem capuccino? Estou vendo a máquina logo ali - e apontei para a cafeteira.

- São apenas para os clientes que compram os óculos da loja, que não é o seu caso - disse ele em tom debochado. 

Minha boca abriu involuntariamente, como um rapaz tão abusado como aquele mexia tanto comigo? Desde o primeiro dia que nos conhecemos só nos alfinetamos. 

- Se não me der o capuccino, aí sim você pode ter certeza que nunca comprarei um óculos aqui - disse em resposta ao deboche.

- Você ganhou, vou pegar um copo para você. 

- Obrigada - respondi.

O cappucino estava doce como o clima naquele momento, nem parecia o cinza no qual acordei pela manhã, como ele conseguia fazer isso?

Logo em seguida joguei o copo na lixeira ao lado e disse que precisava ir embora. 

- Aparece por aí amanhã - falou Gabriel sorrindo.

- Vai sonhando - respondi indo á caminho dá saída.


📷: Pinterest


Um Clichê por entre as Curvas do espelhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora