E SE O ESPELHO FALASSE?

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Seus dedos deslizam sobre meus lábios

Com o semblante sem graça, Gabriel completa

- Seu cabelo estava em sua boca.

Concluiu passando o polegar logo acima do meu nariz, calculadamente transpôs o fio de cabelo que se enganchou em meu rosto atrás da minha orelha enquanto olhava diretamente para as minhas pupilas.

Estremeci ao seu toque.

Os pelos do meu pescoço se eriçaram.

Seu corpo exalava um cheiro adocicado.

Não sou muito fã de perfume para saber dizer se é algum aroma de um perfume conhecido.

O cheiro me agrada, é doce, só que não é forte, o que me puxa para mais perto dele.

O sentimento transitório de querer ficar perto, e retornar para o aconchego do seu abraço e o medo sussurrando no meu ouvido para que eu me mantenha longe.

Eu nunca deixei que ninguém chegasse tão perto assim de mim, Gabriel me abraçou antes que a minha autodefesa conseguisse ser ativada. E agora que eu provei do seu abraço eu quero mais ?

Gabriel permanece com seu olhar em cima de meus lábios mesmo depois de retirar o fio de minha boca.

Os batimentos do meu peito se aceleram, estou a ouvir a sirene de emergência alarmar.

Gabriel se aproxima .. os ombros ficam mais próximos.

Meus lábios estão prontos para sentir os seus, o barulho no meu peito parece uníssono de tão rápido que bate, permaneço imóvel porque não sei como reagir ..

Será que eu ainda lembro como se beija?

Seu rosto está chegando perto demais..

Até que ocorreu um desvio de rota para a minha têmpora.

- Se cuida, qualquer coisa me avisa!

Disse Gabriel andando de costas voltando para seu posto.

Se entranhou no meu peito um aperto, doía a rejeição por mais perto que ele tivesse chego de minha boca.

Ou eu poderia considerar que tenho uma chance? Um passo que foi avançado?

Mantive-me parada por alguns segundos, em seguida passei por Gabriel e dei um pequeno sorriso mostrando apenas os dentes da frente.

Dizem as más línguas que quanto mais você quer uma coisa, mais você percebe que você não a tem.

Sentada na poltrona do ônibus apoiando a cabeça no dorso da mão enxergo vários pontinhos se misturando entre si conforme o trajeto do ônibus é percorrido.

Mãos dadas, beijos de esquimó, sorrisos que se conversam, abraços apertados, foram alguns gestos de carinho que presenciei de longe dos casais aparentemente apaixonados.

Quando será a minha vez? Quando alguém irá se apaixonar por mim? Quando alguém vai verificar o celular a cada cinco muitos para ver se eu mandei mensagem, que ficará contando as horas para me ver, que queira me beijar todos os dias .. se é que isso existe e não é apenas os príncipes encantados da Disney que eu assisto na TV, ou existe para as princesas magras da Disney, padrão Barbie.

Reviro os olhos transcorrendo de água.

Cada coisa tem o seu tempo..

E o meu tempo nunca chega ..

O relógio de ponteiro pregado na parede constava que eu estava atrasada meia hora, eu não sou o tipo de pessoa que perde o horário, mas acabei cochilando nos puffs do andar debaixo, reli as mensagens que Gabriel me enviará algumas vezes, passando o dedo na tela diversas vezes considerando respondê-las por fim, só que eu estava em um cinema particular dentro da minha cabeça revivendo os últimos acontecimento que aconteceram e acabei cochilando.

Um Clichê por entre as Curvas do espelhoWhere stories live. Discover now