O BOBO DA CORTE

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A ansiedade baterá na porta sem aviso prévio e essa seria a minha segunda noite sem dormir, ignorei tudo e todos no primeiro dia da semana, estava exausta, caindo pelos cantos de sono e nem avistei Gabriel por hora. Eu estava cansada, mas não conseguia pregar os olhos, consigo sentir a ansiedade como alguém sentado ao meu lado na cama, consigo senti-lá, consigo ouvi-lá, os murmurinhos cochichados atormentando o meu juízo.

Meus pensamentos eram dúbios, a culpa borbulhava pelo meu sangue, as palavras e a forma que agi com Gabriel não foram legais, mas eu não tinha como saber toda a história por trás, o passado pode continuar rachando o presente.

Desculpas estava fora de cogitação nesse momento, mas lembrá-lo naquele estado me subia um frio na espinha, arrepiando os fios ralos do meu pescoço, e a culpa subia para a cabeça.

E o que eu deveria fazer agora? Sair correndo? Me afastar? O seu beijo não saia da minha cabeça, se não queria nada comigo, porque me beijou? O que ele diz não é realmente o que ele quer sentir?

Suspiro alto.

Não, eu não vou fazer isso de novo, não vou colocar meu corpo como pauta, a situação difere do corpo que eu tenha.

Mas e se?

Para!

Só para!

Antes de conhecer Gabriel os meus pensamentos paravam no beijo, isso quando eu os pensava, um burburinho de vergonha sempre subia pelo meu ser, e depois que o conheci os pensamentos começaram a ficar mais quentes, se ele não me quer como namorada, porque não podemos apenas "ficar" como pessoas da nossa idade fazem? E voltamos à questão do meu peso..

Esfrego as mãos sobre o rosto fortemente.

Eu sei que eu não quero ele dessa forma, mas talvez eu queria escutar que ele me queira de alguma maneira, nem que seja assim..

Será que o meu beijo foi tão ruim?

Meu celular não toca desde que ele me acompanhou pegar o ônibus, também o que mais teria para ser dito?

Levei os meus pés para cozinha, abrindo a geladeira e atacando os chocolates que se encontravam na lateral, nada escondidos, apenas pedindo para serem devorados, fiz isso em questão de menos de cinco minutos, fecho a geladeira sentindo as citocinas do chocolate fazerem efeito, conseguindo preencher a minha cabeça com outra coisa, preciso aproveitar os minutos de paz antes da culpa cair sobre as minhas costas, e a ansiedade voltar quando perceber que a despistei por poucos minutos.

Ter alguém para conversar sobre as coisas seria muito bom, muitas das vezes me sinto sozinha depois que Alice, minha melhor amiga, se mudará. Eu conto muitas coisas para a minha mãe, só que quando você não sabe o que está sentindo, por onde começar? Será que melhores amigas existiam para isso? Comigo e com Alice era assim, não precisava sequer uma palavra para que tudo fosse compreendido, era algo bem bizarro.

Antes de subir para o quarto dou de cara com a minha mãe, é sempre assim, pense em alguém que logo ela aparecerá.

- O que está fazendo tão tarde na cozinha? São quase quatro da manhã.

- Eu não estou conseguindo dormir, vim pegar um copo de água.

Vejo ela abrir a porta da geladeira e procurar por algo.

- Cadê os chocolates que estavam aqui?? Eu desci sedenta para comer um.

O estômago revirou imediatamente, eu comi todos e não deixei nenhum, não se pensa quando tudo o que você quer é acabar com a cura da ansiedade que está em suas mãos.

- Deve ter sido seu pai, ele desceu uns quarenta minutos atrás, que droga eram os últimos! vou fazer ele comprar o triplo amanhã pra mim!

Sorri em concordância dando graças a deus dela não ter me perguntado se fui eu. No batente da porta antes de sair chamei-a.

Um Clichê por entre as Curvas do espelhoWhere stories live. Discover now