DISTORCIDO ESPELHO

171 15 1
                                    

Abro os olhos aos poucos saindo do sono que eu me encontrará devido à uma voz que me chamava.

  - Acorde!

  - Acorde!

Observo os arredores do quarto, os cantos de cada móvel, mas não encontro ninguém, quem será que está me chamando?

Com os olhos estreitos ainda de sono, analiso cada parte do cômodo procurando de onde aquela voz estava saindo. A voz não me remetia a ninguém conhecido. A voz era grave e calma, parecia pertencer a um homem na idade dos cinquenta anos, as palavras que usará para me chamar me trazia a sensação de ter todo o tempo do mundo para respondê-las

  - Aqui, olhe para frente!

Arregalo os olhos e dou um pequeno estalo me elevando na cama, quando percebo que a voz está vindo do espelho.

  - Venha cá!

Levanto-me da cama aos poucos, repuxando para baixo o cobertor que cobria as minhas pernas, virando-as para baixo de encontro com o assoalho de madeira abaixo dos meus pés, sentindo o vento que passava pelas frestas de sua divisão.

Me aproximo a passos lentos, chegando próximo ao espelho, estico o braço sentindo o gelo do vidro com os dedos, recuo com uma certa pressa.

  - Desde quando objetivos falam?

  - Eu não sou um simples objeto, eu sou o seu espelho.

Recuo alguns passos para trás, emitindo um som surpreso.

  - Um espelho mágico! - Suspendo a mão no alto como se fosse tocá-lo.

Titubeei quando a minha autoimagem se distorcerá aparecendo uma menina aparentemente com seus dez anos, ou um pouco menos, cabelos marrons escuros, lisos que batiam no ombro, vestia uma camiseta branca deixando visível uma barriguinha estufada e levemente redonda.

  - Ela consegue me ver aqui?

  - Você ainda não a reconheceu?

  - Deveria?

A menina brincava com uma maquiagem bem semelhante de quando eu era criança, tudo espalhado pela penteadeira, era como se ela estivesse do outro lado do espelho brincando de se maquiar, mas só eu conseguia vê-la. Passou os dedos em todas as sombras, espalhando-as por todo o seu olhinho com seu pincel, azul, roxo, rosa e verde, depositou sombra rosa em suas bochechas, e em sua mãozinha estava um colar de pérolas rosas que puxou do canto da penteadeira, com a maquiagem quase pronta e seu novo acessório, ela se divertia, ria e se admirava em frente ao espelho, fazia várias poses de modelo, biquinho como se pudesse tirar fotos, jogava seu cabelo em várias posições, testando como ficava melhor.

  - Só falta isso - escutei a menina dizendo -com toda empolgação e animação do mundo, seus bracinhos agarraram o batom vermelho, abrindo a tampa, passou-o em sua boca várias vezes.

Sua boquinha mandava vários beijinhos para ela mesma, vindo em minha direção espalhou vários beijos pelo espelho deixando-o cheio de marcas.

E como um djavu eu lembrei ...

Aquela menina ..

Aquela menina

Sou eu ..

Sobressaltei saindo do transe, as mãos cobrindo a boca, no instante seguinte agarradas ao espelho querendo ver mais .. quase me enfiando do outro lado se fosse possível.

  - Você se lembrou?

  - Sim, está menina sou eu.

A voz saiu manhosa e nostálgica.

Um Clichê por entre as Curvas do espelhoWhere stories live. Discover now