TUM TUM TUM

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-Eu gosto de você ..
Meu coração batia como as batidas do ponteiro no relógio da cozinha, só escutava o TUM TUM TUM que ele estava fazendo a espera da resposta

- Eu sei - disse Gabriel rapidamente

"Eu sei?" O que isso quer dizer?

Eu olhava para Gabriel com as sobrancelhas encurvadas para baixo, com a expressão confusa. Era só isso o que ele ia dizer?

O barulho do vento, e das pessoas na rua era o único que conseguia ser ouvido.
- Acho melhor irmos indo - disse Gabriel enquanto se levantava quebrando o som cotidiano da cidade.
- Já está ficando tarde - completou olhando para o relógio em seu pulso e logo em seguida começou a andar me deixando pra trás

Levantei ficando atrás dele, era como se eu segurasse meu coração nas mãos naquele momento

-Você não vai falar nada???

Gabriel parou onde estava, vi seus ombros se levantarem e depois descerem no momento que ele levava o seu braço de encontro ao seu rosto colocando a ponta dos seus dedos no osso do nariz antes de se virar.

- Eu não quero te machucar .. - Disse com um semblante preocupado

Era evidente que Gabriel não sabia o que fazer diante daquela situação, ele parecia confuso e preocupado, e escolheu a pior maneira para lidar com isso

- E você acha que está fazendo exatamente o que??? - disse com uma pontada de indignação

Eu não consegui conter a lágrima que escorreu, sentindo o molhado por conta do vento que batia sobre meu rosto e os fios do cabelo que ele levava para a frente dos meus olhos.

- Eu.. eu não sei
- Desculpa Ka..

O silêncio permaneceu nos próximos 30 segundos, olhamos um para o outro, como se ambos quisessem sair correndo dali, mas algo nos fincava no chão.

- Então é isso? - disse por fim

Gabriel começou a andar em minha direção, levantando os braços para tocar os meus.

Dei um passo para trás

- Você é uma moça legal, e eu não queria te machucar
- houve uma pequena pausa -
- Eu estava medindo as palavras para tentar não te machucar tanto, eu não sou bom com essas coisas. Eu não queria que você parasse de falar comigo.

- E foi justamente o que você fez - disse olhando pra baixo - eu preciso ir embora - disse passando por Gabriel
- Eu te levo até o ponto de ônibus
- Não precisa , eu sei o caminho - disse passando a mão pelo nariz, e depois puxando os cabelos pra trás como se isso fosse me trazer alguma clareza.
- Já está tarde Ka, esse horário é perigoso por aqui - Disse Gabriel ainda parado com tom de preocupação e com uma leve chateação na voz
- Eu vou ficar bem
- Eu vou deixar você no ponto de ônibus, depois eu vou embora - disse enquanto me alcançava.
- Já disse que não precisa, não escutou?
- Eu não perguntei o que você acha.

O silêncio caiu sobre nós fazendo o papel de um machado, por mais que eu tentasse segurar as lágrimas eu não conseguia, pelo menos Gabriel respeitou o momento e não tentou puxar assunto, não foram ditas mais nenhuma palavra por nenhum dos dois. A minha cabeça não parava de pensar o quanto eu tinha sido tola, boba, como ele teria gostado de mim? Ou como eu teria interpretado tudo errado? Ele também foi um babaca, na velocidade que os pensamentos percorriam, era mais difícil segurar as lágrimas.
Sentei-me no banco do ponto de ônibus quando chegamos, não disse que ele poderia ir embora, apenas permaneci em silêncio.
Gabriel sentou-se ao meu lado, encontrei seu olhar com os olhos encharcados, tentei dar um leve sorriso por mais que eu soubesse que passava vergonha. Gabriel aos poucos começou a inclinar a coluna afastando seu corpo, deixando a cabeça deitada nas minhas pernas. Estranhei o gesto. Coloquei as mãos sobre seus cabelos, onde os pequenos cachos se entrelaçaram nos meus dedos e comecei a fazer cafuné, ambos em silêncio.
📷: Pinterest

Um Clichê por entre as Curvas do espelhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora