Um Clichê por entre as Curvas do espelho

A GAROA É FINA

A semana passou na velocidade da luz, com alguns pontos baixos e outros mais baixos ainda. Mostrei para a professora o vestido escolhido para a apresentação, suas sobrancelhas se juntaram à testa.

  - Um pouco extravagante, não acha? Mas o grande problema vai ser o calor que você vai passar debaixo dessa roupa, e os seus movimentos ficarão limitados pelo vestido, se não for um problema para você, tudo bem, o vestido é bonito.

Escutava as considerações da professora enquanto Hannah fazia o sinal da freira com as suas mãozinhas finas, juntas uma a outra, abaixando a cabeça, por fora mantive a postura demonstrando toda atenção a docente, entretanto por dentro, eu me imaginava estrangulando Hannah.

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Pedi desculpas pelo ocorrido na semana passada.

  - Está tudo bem, às vezes não sabemos lidar com o que sentimos, e como você passou a semana?

  - Como empurrar o pó para debaixo do tapete - dei um sorriso meio de canto. Eu comprei um vestido preto muito bonito, todo brilhoso com a calda que esbarra no chão, mas eu queria ter comprado o vermelho, era deslumbrante, um vermelho brilhante, sexy, mas não cobria nem as coxas, eu não poderia me atrever a usá-lo, e antes de você começar o sermão, a minha amiga, já o fez por você, ela me perguntou até quando eu continuaria me escondendo, e que eu me escondia de mim, e não dos outros.

Isabella escutou com atenção o relato.

- Realmente, ela já fez o meu trabalho - riu Isabella. Conversamos muito sobre sua saúde, e de você ser muito nova pelas dores que você sente, mas nunca conversamos se você quer emagrecer, se você tem esse desejo, nas sessões você pontua o seu peso assiduamente, mas nunca falou sobre isso.

  - É claro que eu quero emagrecer, ter um corpo mais bonito, isso é o que eu sempre escutei a minha vida toda.

  - Exatamente, você escutou a vida toda, mas quando esse desejo de emagrecer partiu de você?

Isabella cutucou a ferida que sempre se manteve aberta, eu não me lembro de ter o desejo de emagrecer, mas sim o quanto eu precisava emagrecer apontado pelos outros.

  -  Eu acho que não partiu, acanhei os braços em volta do corpo.

  - Você está tentando emagrecer? - Perguntou Isabella.

  - Não.

  - Porque? - Rebateu Isabella

  - Porque eu não quero! Não me sinto pronta.

Dizer isso em voz alta cutucou tudo por dentro, como que eu posso dizer que eu quero tanto uma coisa, se eu não faço o mínimo esforço para consegui-la?

  - Achamos a raiz do problema.

Eu posso não gostar do meu corpo, mas esse é o único que sempre conheci, é turvo me imaginar diferente disso.

Como é querer tanto algo que você tem tanto medo de conseguir?

   - Quem eu serei se emagrecer?

   - Eu não sei, mas podemos descobrir.

   - E se eu emagrecer e os caras ainda não gostarem de mim?

  - Você não pode se esconder nesse corpo para usá-lo como desculpa, o seu medo em emagrecer é não se sentir bonita quando conseguir, e magra não terá mais a desculpa do peso.

Os olhos miudinhos de água.

  - E se eu nunca for bonita?

  - Você é bonita! é doce, é carismática.