O CORPO TAMBÉM FALA

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Levei um esbarrão com tudo no ombro, coloquei a mão para conter a dor.

     - Ai!

    - Puta que pariu

O som não saiu audível para a minha sorte.

   - Foi mal, eu estou com pressa, meu estômago está roncando de fome, esqueci de trazer comida de casa, tenho cinquenta minutos, vinte para ir, vinte para voltar e dez para comer - disse Gabriel

 - Dá outra vez eu que estava com pressa, agora é a sua vez?

 - Vem comigo! - Disse Gabriel com a voz animada

- Não dá, eu tenho que ensaiar.

Por mais que eu tenha ensaiado o fim de semana inteiro, eu nunca sinto que foi o suficiente

  - Ele ficou parado em minha frente esperando que eu me mexesse.

  - Eu acho melhor não Gabriel.

Eu queria acompanhá-lo, mas sabia que meu condicionamento físico não era dos melhores, ainda mais com essa pressa.

  - Eu não tenho tempo, vem logo!

Gabriel puxou meu pulso me fazendo acompanhá-lo.

Meus pés conseguiram acompanhar nos primeiros cinco minutos, Gabriel não estava andando, estava praticamente correndo, ele me perguntava como as coisas estavam caminhando no curso, as respostas que eu conseguia lhe dar eram curtas, eu tinha que escolher se usava o ar que restava para respondê-lo ou para continuar a caminhada.

" Como está o seu curso?"

  - Está bem

"Cantando muito"

 - Sim

"Está muito difícil?"

   - Um pouco

Gabriel percebeu que as respostas estavam sendo curtas pelo mero motivo de que eu estava administrando o pouco de oxigênio que aparentava restar no meu cérebro, e não porque eu não estava interessada na conversa.

Continuamos o caminho em silêncio, e isso nem era o que me preocupava, era notável a minha respiração alta, a dificuldade da troca gasosa entre os meus pulmões, o som que a minha garganta reproduzia, isso que eu estava mantendo a boca fechada para não transparecer, e se isso já não é vergonhoso o suficientemente, imagina quando a minha coluna começasse a travar.

Beirando próximo dos doze minutos de percurso, meu corpo já pedia arrego, o suor se espalhava por toda a testa, a minha coluna queimava, a minha lombar latejava, parecia ter uma faca encravada bem no meio dela, minha perna não respondia mais aos comandos, minhas coxas se repuxando de dor, meu calcanhar afundando a cada passo que eu dava com o peso do meu corpo jogado nele, eu só estava contando os segundos para ver mais quanto tempo minhas pernas iam aguentar, eu não conseguia mais acompanhar o ritmo do Gabriel, eu sentia tanta dor que a minha única vontade era me sentar no chão e começar a chorar.

Eu estava poucos passos atrás de Gabriel, quando o vejo virar para trás e perceber que meus olhos estão marejados de água.

   - O que foi??

   - Você está bem??

Gabriel encurta a pequena distância de passos que estava entre nós e pega nas minhas mãos.

Seu toque é leve, e preocupado.

Apenas consegui balançar a cabeça em negação.

Como uma águia, assisto Gabriel mover a cabeça em todas as direções o mais rápido possível procurando algum lugar para que eu possa me sentar.

Um Clichê por entre as Curvas do espelhoWhere stories live. Discover now