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Leticia

Eu e o Rodrigues ficamos rindo o jantar inteiro, ele é muito legal comigo, a gente tem essa de amizade colorida e nunca fica um clima estranho, a gente sempre tem um assunto, nunca deixamos a conversa morrer, é isso que eu gosto nele.

Ele não queria dividir a conta, mas eu insisti tanto que ele perdeu a paciência e dividimos, o fato é que eu sempre consigo o que quero, saimos do restaurante, subimos na moto e paramos em uma pracinha que tinha por ali perto.

— Eai? Vamo fazer o que agora?

— Vamo descer pra praia sei lá —Olhei pra ele sorrindo.

— Não me fala uns bagulho desse por que eu vou —Ele riu— Tira uma foto minha aí, to bonita.

Entreguei meu celular pra ele, fiz ele tirar várias e não postei nenhuma, moleque me xingou por ter feito ele de fotógrafo e não postar nada.

— E você princesinha? Vai estudar não? Como é que é?

— Tenho que fazer a faculdade, vou fazer a matrícula esse mês.

— E ta suave pra pagar?

— Até que sim, só eu não gastar mais do que devo, e você?

— Não sei o que quero fazer ainda, mas sei lá de faculdade, nem to muito afim.

— E trabalho? Vai ficar só nas prata? —Ele deu de ombro.

— To nas prata porque não quero trabalhar em algum lugar lá na comunidade ta ligada? Só b.o esses bagulho e não quero isso pra mim, eu ajudo minha mãe lá na padoca pq o lugar é dela —Concordei meio pensativa— Qual foi?

— É que concordo com você, é meio pica, mas eu trabalho lá por que preciso do dinheiro, eu quero trabalhar em empresa ta ligado? Que vai me dar um dinheiro bom, um convênio, esses negócio, poder pagar minha faculdade na tranquilidade, comprar uma casa num lugar daora, viver bem.

— Qual das ideia que você foi morar pra comunidade? Vi no seu insta, você morava num lugar bom, casa daora e pá.

— Minha mãe me chutou —Ele me olhou sério— Ela casou de novo, aí ficou cega com umas atitudes que ele tinha, eu sempre discutia com ele e ela me expulsou, minha sorte foi a Ju e a tia, por que eu ia morar na rua —Dei risada e ele relaxou o rosto rindo junto.

— Você é muito tonta, vamo embora.

Nos levantamos do banco e subimos na moto dele que tava na nossa frente, na volta ele foi todo cheio de graça, dando grau, acelerando muito e eu amo essas coisas então nem reclamei, depois de um tempo chegamos na comunidade e ele me deixou na porta de casa.

— Valeu por hoje, foi muito legal —Estiquei o capacete pra ele que pegou na mesma hora.

— Foi zika morena, qualquer dia vamo aí entregar seu currículo numas empresa —Cruzei os braços sorrindo.

— Vai gastar gasolina só pra eu entregar currículo?

— Ta tonta? É que assim eu vou no embalo e entrego também —Rimos— Vai, entra.

— Beleza pai, boa noite Rodrigues.

— Meu beijo parceira —Fui até ele e dei um selinho demorado— Boa noite Lê.

Entrei em casa e escutei ele saindo com a moto, a luz da cozinha tava acessa e fui ver quem era.

— Opa, boa noite.

— Oi filha, boa noite —Cheguei perto dela dando um abraço que retribuiu— Foi pra onde hoje?

— Fui em um restaurante japonês e depois fiquei jogando conversa fora em uma pracinha.

— Ah sim, pelo menos já está alimentada —Voltou a mexer na panela, ela tava fazendo ovo mexido.

— Cade a Ju?

— Deitada, ta muito difícil cuidar dessa menina viu, ela não ta comendo, a vitamina não ta fazendo efeito mais.

— Vai voltar na medica? —Ela concordou com a cabeça.

— É o jeito, não sei mais o que fazer.

— Espero muito que a Ju melhore.

— Eu também, vai se organizar, já tá tarde.

— Boa noite tia —Dei um beijo nela.

— Boa noite filha.

Sai da cozinha subindo as escadas, entrei no quarto da Ju mas ela tava dormindo, fui pro meu quarto, tranquei a porta e peguei a toalha pra ir tomar um banho só pra dormir mais confortável.

Depois de tomar um banho rápido, coloquei meu pijama e deitei na cama, fiquei mexendo no celular por um tempo e capotei.

Acordei 9 horas no dia seguinte, a paz é que só vou trabalhar agora 13 horas da tarde, então eu tinha a manhã livre, confesso que to meio cagada em trabalhar pro Mp, mesmo que ele se mostrou uma pessoa legal, ele não deixa de ser o dono daqui, sendo mais clara, um traficante.

Se algo der errado, ou eu falar algo errado e se tornar uma bola de neve, não sei se eu saio viva, sou bocuda, não levo desaforo pra casa então claramente iria virar uma discussão e pra eu sair dessa pra melhor era bem fácil.

Enquanto eu tomava café da manhã, fiquei mexendo no insta e vi um story do Rodrigues, nem era foto dele, era reels de uma música, mas fiquei pensando na nossa conversa de ontem.

Eu tenho mesmo que começar a acordar pra vida e me resolver, querendo ou não, eu to morando de favor na casa da Julia, em um lugar que todos nós sabemos, não é muito bom de se conviver, eu quero minha casa, do meu jeito, com minhas coisas, sem me preocupar com ninguém, focando em mim e no meu futuro.

Fiz um currículo novo e comecei a olhar vagas pela internet, achei várias pra trabalhar no administrativo, como eu to sem faculdade ainda, é um ramo mais fácil, mandei em vários e falei sobre pro Rodrigues, ele disse que ia fazer a mesma coisa.

Durante o tempo que eu tinha, fiquei conversando com a Ju que ainda estava em casa, a Tia trabalha cedo então só estava nós duas

— Mas eai? Vai fazer veterinária mesmo?

— Ah eu vou, eu acho tão legal, tem umas partes que tem que ter estômago e coração preparado né, mas isso com o tempo acostuma.

— É muito fofo medicina veterinária, você vai conseguir de letra.

— Amém.

— Aposto muito em você amiga —Sorri pra ela e me abraçou.

— Obrigada Ju, de verdade.

— Sabe que é nós duas sempre.

— Eu sei, mas e você?

— Vou fazer, quando eu tiver dinheiro.

A minha sorte foi ter guardado um dinheiro bom, mas eu nunca tirei nada de lá pra pagar a faculdade, era do meu pai, a parte que ele deixou pra mim, graças a Deus que ele deixou mais pra mim do que pra minha mãe, ele queria que eu tivesse um futuro e uma vida boa.

Em Paraisópolis {Em Andamento}Where stories live. Discover now