Em Paraisópolis {Em Andamento}

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Rodrigues

Depois de terminar de fazer minhas necessidades higiênicas, eu saí do banheiro indo direto na direção do guarda roupa, peguei uma camisa e um short e me vesti.

— Vou ir comprar uma escova pra você. —Olhei pra ela que só concordou com a cabeça e saí do quarto.

— Boa tarde mãe.

— Boa tarde filho, onde vai?

— Comprar uma escova de dente pra Lê. —Minha mãe me olhou sem entender. —Ela tá aí, a gente saiu ontem, voltamos tarde e falei pra ela dormir aqui.

— Ah sim tudo bem, mas volte logo que já tô terminando o almoço.

— Demorô.

Saí de casa indo em direção a farmácia que tinha aqui pra baixo, trombei uns parceiro no caminho e soltei um papo com eles rapidão, já tava virado de fome e a Lê também já deveria estar.

Comprei uma lá e fui voltando pra casa, mas infelizmente ouvi chamarem o meu nome e infelizmente eu conheço a voz, me virei ficando de frente pro Mp.

— Quero trocar um papo contigo.

— Falae Mp.

— Você é o que dela? —Franzi a testa e ele olhou pra sacola na minha mão.

— Tá falando da Leticia?

— Tá se fazendo de otário moleque? Responde logo a fita.

— A gente tá desenrolando Mp, por que você quer saber disso?

— Talaricagem na cara dura, tem nem vergonha nessa porra?

— Que talaricagem? Nunca fui seu parceiro.

Ele ia me responder mas foi interrompido pelo rádinho, estavam chamando ele pra resolver problema.

— Você fica ligado na sua caminhada Rodrigues, sua mãe é firmeza mas não tenho medo de te pegar por aí.

Ele saiu e segui meu rumo, eu já sabia que uma hora ou outra ele viria atrás de mim pra me cobrar. Só tenho que tomar cuidado pra não ser mais um na lista dele.

Cheguei em casa e subi direto pro quarto, Leticia não estava na cama e a porta do banheiro fechada, então bati na porta.

— Sua escova Lê.

— Tá. — Ela me respondeu com uma voz esquisita.

— Você tá bem? Voz tá estranhona.

— Tô sim.

— Abre aqui. —Ela resmungou um "não". —Vai logo Leticia.

Ela abriu a porta sem me olhar e sentou na tampa da privada, com o celular na mão.

— Qual foi nega? —Ela negou com a cabeça. —Fala pra mim Lê, você sabe que qualquer parada eu tô com você.

Ela me olhou, o olho dela estava vermelho e não era de maconha, ela tinha chorado. Me abaixei na frente dela, que tentava desviar o olhar.

— O que aconteceu?

— Minha mãe me mandou mensagem. —Não respondi na esperança dela continuar falando. — Ela disse que contaram pra ela que tô fazendo faculdade, que tô trabalhando em uma empresa boa e exigiu que eu ajudasse ela financeiramente, já que tenho o luxo de fazer uma faculdade. Eu disse que não ajudaria ela em nada depois do que ela fez comigo, ela começou a me xingar, até ameaça teve Pedro.

Os olhos dela começaram a encher de lágrimas e abracei ela que demorou pra me devolver o abraço.

— Bloqueia ela, sei que é foda falar isso mas finge que não aconteceu, você tava tão bem aí, sem pensar nisso.

— Eu sei, isso dela querer vir me cobrar dinheiro eu não liguei muito, me doeu mesmo foi as ameaças, dizendo que foi minha culpa meu pai ter morrido, ela sabe que meu ponto fraco é meu pai, ela fez isso de propósito.

— Ela tá longe, não deixa ela te afetar mesmo distante de você, é isso que ela quer. Eu achei que você tinha bloqueado ela.

— Eu tinha mas eu desbloqueei depois de um tempo, sei lá eu achei que era cuzagem da minha parte, mas percebi que era melhor ter deixado bloqueada.

— Olha, se arruma e vamos almoçar, minha mãe tava quase me batendo alô por que demorei e que você ia tá com fome. —Ela deu um sorrisinho e levantou, levantei em seguida e saí do banheiro.

Fiquei sentado na cama olhando ela se organizando ali no banheiro, eu não sei o que falar quando alguém tá mal, não sou bom com essas coisas, pode até não parecer mas eu fico bem preocupado com ela, ainda mais depois daquele dia que a Ju me ligou pra não deixar ela sozinha em crise.

Depois de uns minutos nós dois descemos indo direto pra cozinha.

— Oi tia.

— Oi Lê, como você tá? —Elas se abraçaram.

— Bem e a senhora?

— Bem, sentem logo que eu tô quase desmaiando de fome com a demora de vocês.

— Foi mal tia. —Nós dois nos sentamos um do lado do outro e minha mãe ficou na minha frente.

Enquanto a gente almoçava, minha mãe ficava conversando com a Leticia, pelo menos distraia ela sobre o assunto com a mãe.

— Sabe, eu adoraria ter você como nora. —A Lê olhou pra ela com os olhos arregalados, creio que com vergonha.

— Mãe.

— O que? Não tô mentindo, eu adoro você Lê, sempre te elogio e faço elogios sobre você pro meu filho também. —Coloquei a mão na cabeça enquanto ela falava. —Sei que ele gosta de você, só não quer admitir.

— Ah isso eu sei, seu filho faz um charme.

— Pois é, eu já falei que se ele não tentar vai perder a chance com uma menina linda. —Leticia deu risada, a safada estava achando essa conversa um máximo.

— Vai deixa eu lavar essa louça, que esse papo de vocês não tá me agradando. —As duas riram e eu fui lavar as coisas, as duas se levantaram e foram pra sala.

Quando terminei organizar a cozinha eu fui pra sala, mas minha mãe não estava mais.

— Cadê minha véia?

— Foi pro quarto, disse que o guarda roupa tá uma bagunça e foi arrumar.

— Ela tá certa sobre o assunto que vocês tiveram. —Falei olhando o que passava na TV.

— Que assunto?

— Sobre se eu não tentar vou perder a chance. —Olhei pra ela.

— Mas isso é óbvio, eu sou linda. —Ela jogou os cabelos pra trás se gabando e soltei uma risadinha.

— Tô falando sério Leticia, eu gosto pra caralho de você, queria que rolasse algo entre a gente, mas sei que você tem seus bagulho, tem seus corre e que se não for um momento bom pra você, eu vou te entender perfeitamente.

Ela não me respondeu, só me olhava e eu já ficando neurótico sobre o que ela estava pensando.

— Olha, me desculpa se falei algo errado ou se eu entendi as coisas da maneira errada, esquece isso, vamo ficar do jeito que tá mesmo e... —Ela me interrompeu com um beijo.

As duas mãos dela estavam no meu rosto e eu coloquei a mão na nuca dela, era um beijo calmo, sem intenções a mais além do beijo. Encarei isso como algo recíproco, como se o nossos sentimentos fossem o mesmo.