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Leticia

Ela colocou um prato com macarrão e um copo de água na minha frente, olhei pra ela que estava em pé me olhando meio cabisbaixa.

Peguei o prato, eu estava totalmente sem apetite, então basicamente enfiei comida dentro da minha boca, estava muito difícil engolir a comida sem dar uma vontade de vomitar, fiquei comendo devagar para não piorar a situação.

Mesmo depois de 30 minutos naquela luta, eu deixei metade do prato, não consegui comer mais, a água pelo menos eu tomei toda.

— Vamo deitar Lê —Ela segurou minha mão enquanto eu levantava.

— Oi meninas, o que tá acontecendo aqui?

— A Lê chegou mal mãe.

— O que você tem filha? —Ela chegou perto de mim e foi ajudando a Julia a me levar pro quarto.

— Enjoada tia, dor de cabeça, sabe quando você se sente mole? —Olhei pra ela que concordou com a cabeça, entramos no meu quarto e elas me colocaram na cama.

— Você comeu?

— Acabei de dar macarrão pra ela mãe, mas deixou metade do prato por que tava dando enjoo.

— Tá enjoada ainda? —Concordei com a cabeça e a tia saiu do quarto.

— Lê, vou te perguntar e quero que você seja sincera.

— Tá bom.

— Isso é seu emocional? Ou você tem algo físico? Tipo virose sei lá.

— Acho que é o emocional mas eu não tenho certeza.

— Você tá guardando coisa pra você desde que saiu da sua casa Lê —Ela sentou do meu lado na cama e a tia entrou no quarto.

— Toma —Ela me estendeu um copo com água e um remédio— É dramin.

— Obrigada tia —Tomei e ela pegou o copo.

— Vou me organizar, qualquer coisa me chamem, por favor.

— Pode deixar mãe —A tia saiu do quarto— Você precisa desabafar Lê, você precisa falar como você se sente, o que passa nessa sua cabeça, você sabe como é quando explode tudo.

— Eu sei, mas eu simplesmente não consigo me abrir, eu prefiro guardar pra mim, na maioria das vezes eu nem sei explicar o que sinto.

— Mas tenta amiga, você não pode ficar assim pra sempre, olha como você tá agora, lembra de quantas vezes você já ficou assim, ou até pior —Fiquei quieta e ela também.

Ficamos um bom tempo assim, eu sem falar e ela respeitando meu tempo, mas não saiu de perto, ficou presente.

Ela está certa, eu sei. Mas é muito difícil pra mim, eu já cogitei muitas vezes em ir em psicólogo, mas se eu não consigo me abrir pra Ju, nem pros meus outros amigos, imagine uma pessoa que nem conheço, que não sei nada.

Fiquei quente, meu corpo ficou quente, estava sentindo muito calor e o ar condicionado já estava ligado, a Ju percebeu por que fiquei inquieta.

— Quer tomar um banho gelado?

— Pode ser —Me levantei da cama na rapidez, entrei no banheiro arrancando minhas roupas e fui pra baixo do chuveiro.

A Ju ficou sentada no chão, na porta, certificando que eu não tivesse um desmaio. Fiquei o tempo todo olhando pra cima ou reto na minha altura, quando olhei para baixo eu vomitei, nem fez sentido eu ter tomado aquele remédio, vou ter que tomar outro.

Saí do box, me sequei, escovei os dentes e fui pro quarto, vesti um pijama, logo em seguida deitei na cama. A Ju não estava no quarto, ela saiu pra pegar outro remédio.

Ela voltou, tomei o remédio e fiquei deitada na cama, com a Julia do meu lado, eu não faço ideia de como vou acordar amanhã.

(...)

Acordei, mais enjoada do que eu estava antes, a Julia me arrastou pro médico, então nem fui trabalhar, vou levar um atestado.

Depois de um tempo lá na recepção esperando ser chamada, lá fui eu tomar soro na veia. Minha amiga não saia de perto de mim por um segundo, sempre ali me olhando, verificando se tô bem, se quero algo, se sinto algo.

A Julia é um anjo na minha vida, eu não sei como eu estaria agora sem ela, provavelmente deitada na cama ou no chão esperando isso passar com o tempo, sem fazer esforço nenhum para comer, tomar remédio ou vir para um médico. E sem falar nada pra ninguém ainda, se eu morresse só iam saber se fossem me procurar, aí me achariam lá largada.

Ao mesmo tempo que ela ficava ali comigo, ela mexia no celular, parecia preocupada e com raiva ao mesmo tempo, mas estou sem força nenhuma de perguntar, ela devia estar conversando com o Icaro que esperava nós duas lá fora.

Depois de longos minutos sentindo o soro gelado nas minhas veias, saimos do hospital, eu ainda estava meio mole, mas o Icaro ainda estava lá então a Ju não teria o esforço de me carregar por aí, encostei no banco do carro, olhando para a rua, o carro começou a andar e eu dormi.

Em Paraisópolis {Em Andamento}Where stories live. Discover now