Em Paraisópolis {Em Andamento}

29

Leticia

Depois de um tempo esperando, a moça me deu meu histórico, tive que assinar um papel lá. Icaro ainda não tinha voltado.

— Não é possível que ele se perdeu —Falei enquanto andávamos pela escola atrás dele.

— Olha, é bem capaz na verdade —Nós rimos.

— Gente!!! —Ouvimos a voz do Icaro em um corredor e entramos nele.

— O que foi? —Julia perguntou, ele estava pálido.

— Viu um fantasma menino? Branco igual papel —Brinquei, mas a feição dele não mudou.

— Eu juro que vi.

— Viu o que? —Perguntei.

Um barulho alto veio do final do corredor, eu e a Julia nos olhamos.

— Viram!

— Tá mas o que você viu? Tô nervosa já! —Ju falou.

— Um cara mano, carregando uma mulher.

— E você não fez nada? —Perguntei— Tu tem arma cara.

— Eu não trouxe Leticia! —Julia olhou pra ele, incrédula.

— Você carrega isso pra cima e pra baixo e na hora que precisa não tem? Como é possiv... —Antes dela terminar a frase, a porta do final do corredor abriu, nós três nos escondemos, ficando com as costas na parede do corredor paralelo.

— O que a gente faz? —Sussurrei.

— Mano, ela tava sangrando —Disse o Icaro.

O menino é bandido, vê gente morta, mata gente, e tá pálido desse jeito por que viu um homem carregar uma mulher que sangrava? Que tipo de mundo eu estou?

A Julia foi me puxando pra longe de lá, Icaro veio atrás, saímos sem fazer barulho, voltamos pro portão da escola.

— Liga pra polícia.

— Mas você só viu isso? Pode ser nada também —Falei.

— Por precaução, a gente liga, anônimo, fala que viu, que se preocupou por que tava escondido e ela desacordada —Ju deu a ideia e concordamos, ela ligou e deu o celular pro Icaro.

— Boa tarde... fazendo uma ligação anônima, vim em uma escola, visitar, e no fundo dela vi um homem carregando uma mulher, ela tava sangrando e desacordada, me preocupei em ser algo ruim.....ok....é Objetivo Vila Morumbi......isso.....ok obrigado —Ele desligou.

— Eai?

— Eles vão vir, vamo meter o pé —Icaro falou indo pro carro e fomos atrás dele.

Ele deu partida no carro e seguimos caminho favela, vimos um carro de polícia passar, talvez indo pra lá, não sei.

— Icaro, como você, um bandido, vê gente morta, mata gente, ficou PÁLIDO em ver uma cena dessas?

— Por que eu achei que o cara tinha me visto malucona, eu lá sem nada, vai que o véio me mata desprotegido —Ele negou com a cabeça e eu ri.

— Que vergonha! —Disse a Ju.

Depois de uns minutos zoando o Icaro, chegamos na favela, ele me deixou em casa e foi pra casa dele com a Ju.

Peguei meus documentos que precisava enviar, tirei foto de tudo e encaminhei no site, agora é esperar o retorno deles.

Sem nada pra fazer, mente vazia! Aproveitar e assistir algo na Netflix, procurar algo decente pra ver.

Ao mesmo tempo que eu procurava, eu mexia no instagram, povo ta vivendo, só storys de viagens, praia, outro país, e eu aqui.

Eu estou morrendo de saudade da praia, meu lugar de paz, e no momento, creio que é o que eu mais preciso, próximo final de semana eu vou, não me importo como.

Achei um filme de comédia e comecei a assistir, eu estava tão no tédio que já estava quase dormindo, mas meu celular tocando me impediu, atendi sem ver o nome que apareceu na tela.

Chamada On:

Eu: Alô, quem é?

Pedro: Sou eu cara

Eu: Oii Rodrigues

Pedro: Te acordei?

Eu: Mais ou menos, fala ai

Pedro: Lembrei de quando falei de ir pra praia e você queria ir junto, tá podendo ir?

Eu: Agora?

Pedro: Não, sexta de noite

Eu: Vamo

Pedro: Beleza então cachorra, é nois

Eu: Tchau

Chamada Off

Precisava me ligar pra me chamar pra ir pra praia? Era só mandar mensagem mano, mas ainda bem que recebi esse convite, na hora que eu necessitava mesmo!

Meu celular apitou, mensagem do WhatsApp, logo agora que quero dormir ficam me mandando mensagem, desliguei o barulho de notificações, virei pro lado e dormi.

Gabriel

Aqui estou eu, na frente da casa da Leticia, já faz uns 20 minutos, mandei mensagem ela não respondeu, liguei e não atendeu, qual foi dessa mina? Pode pá que errei, mas ficar desse jeito adianta de que? Nada!

Ela que se foda também, vou arranjar uma puta qualquer aí e saciar minha vontade, tá mec.

Por coincidência, ou não, trombei a Rafaela quando virei a rua, a vagabunda já me olhou toda safada, fiz sinal com a cabeça pra ela subir na moto. Ela agarrou minha cintura e arrastei pra boca.

Cheguei lá só tinha dois vapor, então era suavidade, arrastei ela pra dentro da sala rápido pra ela não ver muita coisa que tava ali dentro. Ela já veio se jogando pra cima de mim, deu nem tempo de trancar a porta direito.

(...)

Eu sentado de um lado do sofá, ela do outro, acendi um e coloquei a fumaça pro alto já, a mina tava se vestindo, eu já tinha mandado vazar então quando ela terminar de por as roupas dela, ela vai sair.

Daqui a pouco vem a puta da Rayssa barulhar na mente por que fudi a amiga dela e não ela, as duas vivem juntas mas adoram brigar por macho, nessas aí eu não tenho coragem nenhuma de ir no pelo.

Tô muito novo pra perder o pau. Assim que ela terminou, ela foi saindo da sala e quem me entra? Icaro.

— Olha só, que cena bela —Ele disse debochado.

— Qual foi Icaro?

— Sei não, me diz você.

— Te devo satisfação de nada não cuzão —Vesti minha camisa, já tava de short.

— Quando for o contrário não vem barulhar em nós não demorô? —Ele saiu sem falar mais nada.

Não entendi qual foi dessa neurose dele não, como assim quando for o contrário? Já tem outro na parada? Ela não pode ter sido tão rápida assim, não pode.

Parei de pensar nisso quando um vapor bateu na porta entrando me chamando pra resolver b.o que tava rolando.