Capítulo 24 - Mãe e Filha

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Em um piscar de olhos o palácio está todo decorado para o Natal. Dá para notar a diferença das pessoas agora que o rei voltou, os guardas mais rígidos, as criadas fazendo tudo mais depressa. A ausência de Clarkson fazia com que o palácio ficasse com uma energia mais acolhedora, com toda a certeza. 

Estamos todos no Jornal Oficial de Illéa, Gavril fala algo que não presto atenção quando Clarkson o interrompe. Ele se levanta antes de falar.

- Perdoem-me a interrupção, senhoras e senhores, mas é urgente. - ele segura uma folha de papel na mão. - Desde o nascimento de nosso país, forças rebeldes têm sido a maldição de nossa sociedade. Ao longo dos anos, os ataques a este palácio, para não mencionar ao cidadão comum, tornaram-se extremamente agressivos. Há muito tempo eles desejam acabar com a monarquia. Os recentes ataques às famílias destas jovens demonstraram até onde são capazes de chegar, e enviamos soldados para a proteção de seus entes queridos. Só que agora isso não é o bastante. Se você é Dois, Três, Quatro ou Cinco, ou seja, da mesma casta que uma destas senhoritas, pode estar sujeito a um ataque rebelde apenas por esse motivo. A partir de hoje, os rebeldes pretendem atacar membros da segunda casta e seguir pelas castas inferiores.

Todos ficam em silêncio.

- São notícias tristes, Majestade - Gavril é o primeiro a falar.

Clarkson concorda. - Buscaremos uma solução, claro. Fomos informados, porém, de oito ataques em cinco províncias diferentes. Todos contra Dois e todos resultando em pelo menos uma morte.

Vejo Celeste respirar fundo, preocupada por sua família.

- Neste momento, encorajamos todos a permanecer em casa e tomar todas as medidas de segurança possíveis. - o rei completa.

-  Excelente conselho, Majestade - Gavril diz. - Senhoritas, há algo que queiram acrescentar?

Elise balança a cabeça. Kriss respira fundo.

- Sei que Dois e Três são os alvos agora, mas suas casas são mais seguras que as da maioria das castas inferiores. Se vocês puderem abrigar uma família Quatro ou Cinco de confiança, seria uma boa ideia.

Celeste concorda. - Cuidem-se. Façam o que o rei está pedindo.

Vejo Gavril olhando para America, esperando uma reação. 

- Lutem - America diz. - Lutem. O que os rebeldes querem é intimidar. Estão tentando assustá-los e forçá-los a fazer oque eles querem. E se vocês obedecerem? Que tipo de futuro eles têm a oferecer? Essas pessoas, esses tiranos, não vão parar com a violência de uma hora para outra. Se vocês derem poder a eles, ficarão mil vezes pior. Então lutem. Lutem como puderem.

Todos ficam em silêncio novamente, e então logo Gavril volta a falar, mas já não presto mais atenção. Assim que as câmeras são desligadas, vejo Maxon cochichar algo no ouvido de Clarkson.

- Vão direto para os seus quartos - Maxon diz. - O jantar será levado até vocês, e logo irei falar com cada uma.

Volto para meu quarto e minhas criadas me ajudam a tirar a maquiagem, o vestido e a colocar um pijama. Janto sozinha, bem, pelo menos sem ninguém como Maxon, mamãe ou Celeste, mas Leah janta comigo, então não fico completamente sozinha. Tarde da noite Celeste aparece, e só assim consigo ter uma boa noite de sono. 


No outro dia todos tomamos café da manhã juntos. Eu saio logo depois de minha mãe, que me espera na porta da sala de jantar. Não deixo de notar ela dando uma piscadinha para America antes de sair. Mamãe tem a ideia de fazermos um dia mãe e filha, passarmos o dia todo juntas fazendo qualquer coisa. Então vamos para o Salão das Mulheres, escolhemos um canto discreto, e decidimos que cada uma pintaria as unhas da outra. 

Percebo as meninas da Seleção chegando aos poucos, a medida que chegam elas nos olham, mas, percebendo que estamos num canto (propositalmente), decidem se espalhar longe de nós. Vendo que não tem como entenderem o que estamos conversando da onde estamos, mamãe é a primeira a falar.

- Sabe, meu amor, - ela começa a dizer, sem tirar os olhos das minhas unhas. - eu queria dizer que tive muito tempo para pensar. 

- Pensar no que? - eu pergunto curiosamente.

- Na situação com seu pai. - ela responde. Vejo ela rapidamente olhar para Celeste e então olhar para mim. - Com Celeste.

Isso me faz prestar total atenção nela. Ela respira fundo antes de continuar.

- Decidi que irei me divorciar de Clarkson assim que a Seleção acabar e assim que Maxon for coroado rei. - ela diz.

Se eu não fosse treinada para controlar minha reação eu estaria de boca aberta neste momento. 

- O quê? - eu sussurro. 

Sei que mamãe ama Clarkson, ele é o amor da sua vida. Ela me contou já um pouco sobre sua Seleção, que ela é apaixonada por ele desde pequena.

- É isso mesmo que você ouviu. 

- M-mas... - eu começo a dizer, gaguejando, sem saber como e o que falar. - Você o ama. Você mesma já disse que ele é o amor da sua vida desde que você era criança. 

Ela levanta meu queixo para poder me olhar nos olhos. Ela sorri de leve.

- Isso é parcialmente verdade. As vezes pessoas que amamos fazem coisas que nos machucam. Eu o amo sim, não consigo controlar o que sinto por ele com um botão. Acredite, se pudesse, eu controlaria. - suas mãos seguram as minhas afetuosamente. - Mas, querida, ele não é o amor da minha vida. Clarkson deixou de ser o amor da minha vida no segundo que você e seu irmão nasceram. Vocês dois são e sempre serão os amores da minha vida, e ninguém machuca os amores da minha vida. 

Se estivéssemos sozinhas eu não teria segurado o choro, teria a abraçado forte. Mas sei que qualquer coisa dessas chamaria atenção das meninas, então me controlo, apenas aperto suas mãos carinhosamente. 

- E Clarkson? E Maxon? - eu pergunto. - Eles sabem o que você decidiu?

Ela respira fundo antes de responder. - Maxon sabe, e ele me apoiou imediatamente. Seu irmão concorda que essa é a melhor escolha para mim. Clarkson não sabe de nada, Maxon e eu concordamos que o melhor será contar tudo quando tudo isso terminar. 


Quando volto para meu quarto no fim do dia, vejo Leah, Stella e Rose folheando uma revista. Assim que entro elas a largam, como se tivessem sido pegas fazendo algo errado, bem, Stella e Rose, Leah sabe que não fico zangada por algo assim. 

- O que vocês estavam vendo? - eu pergunto curiosamente.

Vejo Stella e Rose trocarem olhares nervosos, como se estivessem se perguntando se podem contar a verdade.

- A favorita do povo. - Leah diz, pegando a revista do chão e me mostrando.

Vejo uma foto de America. Um dos comentários fala "A senhorita America é igual à rainha: uma guerreira. Não só desejamos sua vitória; precisamos dela!". 

- Quem é sua favorita, Kat? - Rose pergunta hesitantemente. 

Eu dou um sorriso e aponto para a foto de America na revista. - Acho que sempre foi America. 




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