Capítulo dezesseis - O segredo de Sofie

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Ela caminhava entre as lápides sem desviar-se de seu caminho. Até que parou, diante de um túmulo. Permaneceu de pé, fitando-o em silêncio e, após respirar fundo, começou a falar:

– Há um mês, fez dezessete anos que você se foi. Sei que sempre venho aqui, só que, este ano não tive como vir, mas passei o dia inteiro pensando em você. Aliás, não se passou um único dia sem que eu pensasse em você.

Ajoelhou-se no chão e continuou, com a voz suave:

– Aquela barreira estúpida voltou a abrir... Mas não quero falar sobre isso. – Ficou em silêncio por um momento, pensativa. – Sabe... Hikari já está com dezessete anos. Ela cresceu muito rápido. Eu fico pensando em como seria se vocês tivessem se conhecido. Acho que iam se dar muito bem. Tem horas que penso se não teria sido melhor ter contado a verdade para ela. Não toda a verdade, isso a faria sofrer demais. Mas, pelo menos, eu deveria ter contado sobre você.

Delicadamente, depositou o ramo de flores ao lado da lápide. Sentiu seus olhos começarem a umedecer, mas respirou fundo novamente, contendo as lágrimas. Quando voltou a falar, sua voz saiu praticamente num sussurro:

Je t'aime beaucoup... Ma princesse.

Com a mão trêmula, ela acariciou o nome grafado sobre o mármore:

Giulia Gautier Benetti

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O trajeto foi feito no mais absoluto silêncio. Micaela ia dirigindo seu carro. Ao seu lado, no banco do carona, Ryan olhava através do vidro da janela, pensativo. No banco de trás ia Anne, com o olhar vago, perdido no nada. Em sua mente, tentava organizar as últimas descobertas. Sentia-se perdida, totalmente desorientada.

Maurício acabara ficando para trás. Não poderia simplesmente largar aquela garota, precisava ajudá-la a voltar para casa. Com a aparição de youkais no hotel, outras pessoas acabaram mortas ou feridas e, com isso, ninguém consideraria a morte de César Soares como suspeita. Era apenas mais um dos misteriosos assassinatos cometidos pelos monstros que começaram a invadir Tóquio.

Finalmente, o carro parou na garagem subterrânea que ficava acima da base. Ryan saiu na frente para abrir as portas, enquanto Micaela e Anne iam atrás, a passos um pouco mais lentos. A brasileira andava olhando para o chão, ainda tentando organizar sua mente. As palavras de César pareciam ainda ecoar em seus ouvidos, bem como a cena da morte dele. Anne não sabia ao certo o que sentia em relação a isto... Um misto de tristeza e raiva. Mas, seria certo sentir raiva de uma pessoa que morreu? Ainda mais sendo este seu próprio pai? Afinal, por mais que agora soubesse que eles não tinham um parentesco real, era assim que ela sempre o vira... Ainda que a relação dos dois nunca tenha sido neste molde, ela sempre o respeitara como um pai. Porém, era apenas respeito. Não era como o sentimento que ela tinha por Mara. Este último, sim, era amor, como o que se deve ter por uma mãe ou um pai. Mas não nutria tais sentimentos por seu pai adotivo. E sentia-se culpada por isso.

– Anne? – A voz de Micaela chamou-lhe a atenção.

Olhou para a italiana, que, enquanto caminhava, mantinha-se olhando para a frente.

– Sei que parece duro o que vou dizer, mas aquela garota tinha razão. Você deveria estar aliviada por descobrir que foi adotada. Dessa forma, não se sinta obrigada a nutrir qualquer pesar pela morte daquele homem.

Anne não respondeu. Tornou a olhar para o chão e a seguir em direção à entrada da base.

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Kuro chegara ao seu escritório há apenas alguns segundos. Fora o tempo de sentar-se em sua poltrona, antes que a porta do local fosse lentamente aberta.

GuardiansWhere stories live. Discover now