Capítulo vinte e um - O plano de Kuro

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Ao menor vestígio de consciência que sua mente retomara, Sofie forçou-se a despertar por completo e ergueu o corpo da cama em apenas um impulso. Seus olhos, assustados, fixaram-se na parede do quarto, enquanto a cabeça, pesada, tentava pôr em ordem os últimos acontecimentos. Não lembrava de como havia ido parar na base, mas recordou-se de ter sido salva por Ryan... E, minutos antes, não ter conseguido impedir que levassem Anne.

– Anne... – Ela sussurrou. Um pavor crescente tomando conta de seu ser.

– Okaachan... – Chamou uma voz ao seu lado.

Sofie voltou-se nessa direção. Encontrou Hikari sentada numa cadeira ao lado da cama. Ainda vestia uniforme escolar, apesar de já ter retornado do colégio há algumas horas.

– Hikari... A Anne...

– Ela foi levada, mãe. – Disse Hikari, visivelmente abatida com tudo aquilo. – Deixaram uma carta, pedindo o "resgate".

– Carta? – Para Sofie, toda aquela situação era por demais familiar. Parecia que um velho filme se repetia.

Há dezessete anos, ela fazia ronda ao lado de Marco. Eles se afastaram por poucos momentos, e uma pessoa a abordou, entregando-lhe um grande embrulho. Por ainda não ter despertado sua energia, Sofie não sentiu o youki daquele ser. Assim, julgou ser apenas uma pessoa comum. E também não estranhou a entrega. Afinal, não era um dia qualquer... Era aniversário dela e de Marco. Naquele dia, completavam cinco anos de namoro... um namoro que eles planejavam transformar, legalmente, em casamento assim que voltassem para a Europa. Era apenas o que faltava: as formalidades legais e religiosas, pois já se consideravam casados... Moravam juntos há mais de três anos e tinham uma filha. Sendo assim, não seria estranho ele querer lhe fazer uma surpresa, mandando-lhe um presente nos poucos minutos em que haviam se afastado.

Sofie agradeceu ao rapaz que lhe entregara o embrulho e esse se afastou. Assim, ela abriu o que julgava ser um presente... E foi a pior coisa que ela poderia ter feito na vida.

Um grito desesperado escapou de sua garganta e ela deixou que a caixa escapasse de suas mãos e caísse no chão. Começou a recuar alguns passos... O corpo trêmulo, os olhos imersos em lágrimas... Um nó no estômago que quase a fez vomitar.

Ouvindo seu grito, Marco retornou, preocupado. Ela agarrou-se a camisa dele, em pânico. Confuso sobre o que poderia ter acontecido, ele tentou acalmá-la, em vão. Soltou-se das mãos aflitas dela e caminhou em direção à caixa caída no chão. O susto dele também foi grande ao ver do que se tratava: era uma cabeça... De um ser humano... De Isabelle Gautier, mãe de Sofie. Ao lado, tinha um envelope sujo de sangue. O qual, apenas horas depois, já na base, eles abriram para ler o que dizia. Era um anúncio de que a pequena Giulia Gautier Benetti estava no mundo dos youkais em poder de Kuro. E havia uma condição para que ela fosse libertada. Uma "troca".

Agora, Sofie desconfiava que a história se repetia. Poderia fazer ideia do que Kuro exigia em troca de Anne. A mesma armadilha do passado...

– Deixe-me ver essa carta, Hikari.

A garota pegou o envelope que estava sobre suas pernas e o entregou a mãe.

Sofie não se preocupou em ler em voz alta. Afinal, sabia que Hikari, certamente, já teria lido aquilo.

– "Se querem a Guardiã de volta, em exatos cinco dias, a troca deverá ser feita no ponto principal da barreira que divide os dois mundos. A Guardiã de Câncer será devolvida, mediante a entrega das Guardiãs de Áries: Sofie e Hikari Gautier. Kuro-sama aguarda por elas."

Terminando de ler, ela manteve os olhos sobre o papel.

– Por que nós duas, mãe? – Indagou Hikari, ao mesmo tempo confusa e assustada.

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