Guardians

Capítulo dezoito - Romances em meio à guerra

Enquanto despertava, Hikari sentiu as mãos que a abraçavam pela cintura. Aquela sensação lhe parecia bastante incomum. Pensando assim, abriu os olhos e viu que era Sofie que a abraçava, dormindo ao seu lado na cama. A garota esboçou um sorriso, lembrando-se das palavras ditas por sua mãe na noite anterior, assim que retornaram à base:

– O golpe que sofri foi forte demais. Eu perdi as três pessoas que mais amava na vida, num espaço de tempo muito curto. Eu ainda não havia me recuperado da forma como mataram a minha mãe, quando ocorreu o mesmo com Marco e Lia, num intervalo de dias entre um e outro. Fiquei desnorteada, achei que fosse enlouquecer. Eu me fechei muito, e isso acabou afetando o meu relacionamento com você. Não era culpa sua... Nunca poderia ter sido culpa sua. Você era apenas um bebê... E, como tal, merecia ter sido amada... Mas eu sentia como se fosse incapaz de amar de novo.

– Eu... Acho que imagino. Mas tudo teria sido mais fácil de entender se você, desde o início, tivesse jogado limpo comigo. Devia ter sido honesta e ter me contado a verdade. Ainda agora, você me esconde tantas coisas... Sei que não me conta sobre meu pai porque atrás disso tem muitas outras coisas que você não quer me contar.

Sofie soltou um longo suspiro, antes de dizer:

– No seu aniversário, eu te disse que gostaria de ir para a Europa com você ano que vem. Se você concordar, queria que passássemos uma temporada longa por lá... Seis meses, ou um ano... Quem sabe até mais do que isso. Tudo dependeria da sua adaptação. Estou planejando isso já há muitos anos. Preciso desse tempo para relaxar, esquecer de toda essa loucura de barreira e de youkais... Pra enterrar de vez o meu passado. Então, terei a paz de espírito necessária para responder a todas as suas perguntas.

– Todas? Até as sobre o meu pai?

– Todas as perguntas que você quiser fazer. Eu só peço que você, até lá, tenha paciência e confie em mim... Como venho te pedindo a vida inteira.

– Esperar e confiar... – Hikari murmurou. Permaneceu olhando para a mãe por alguns momentos, até que se levantou da cama e foi para o banheiro, onde tomou um longo banho. Vestiu seu uniforme escolar e já ia sair do quarto, quando viu que Sofie acordava.

Ao abrir os olhos, a francesa avistou a filha, já pronta para ir ao colégio, parada diante da porta e olhando-a.

Hikari sorriu para a mãe e curvou-se levemente para ela:

– Ittekimasu! – Ela disse, antes de sair do quarto.

Sofie permaneceu deitada na cama, olhando para a porta por onde a filha havia acabado de sair. Esboçou um leve sorriso e respondeu:

– Itteirashai.

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Qiang já havia acordado há alguns minutos, mas ainda não tinha sequer aberto os olhos. Deitado em sua cama, deixou a mente vagar por recordações.

– Qiang! Qiang!

A doce e baixa voz que o chamava de forma assustada o acordou. Ele olhou para a jovem deitada ao seu lado na cama e esticou a mão, tocando o rosto dela.

– Estou aqui, Ziyi. – Ele garantiu, tentando acalmá-la.

Ele não estava tão preocupado, pois já sabia do que se tratava: certamente, Ziyi havia tido outro pesadelo. Vinha sendo assim quase todas as noites durante os últimos meses, desde que a doença dela começara a progredir de forma mais acelerada.

Eles eram apenas dois adolescentes. Ela tinha dezoito anos recém-completados. Ele, estava com dezessete. Contudo, tinham uma relação de adultos, viviam como dois adultos. Não fora uma escolha e, sim, uma imposição da vida. O homem que deveria ser o responsável por eles – pai biológico dele e adotivo dela – falecera há três anos. Não havia aceitado a morte da esposa e acabara por destruir a própria vida com bebidas e drogas. Tivera um destino trágico, deixando dois adolescentes sozinhos no mundo.