Capítulo Vinte e sete - Chuva de pétalas disformes

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Nem ela própria saberia explicar como conseguira aquele feito. Certamente, o desespero do momento fez, de alguma forma, a sua força triplicar e ela conseguiu soltar-se dos dois enormes youkais que a prendiam e correr até Marco. Deixando-se cair no chão, debruçou-se sobre o corpo dele e o sacudiu aflitamente, enquanto gritava o seu nome. Mas não obteve qualquer resposta.

De pé bem diante deles, Kuro se aproximou de Hikari e a segurou pelos ombros, virando-a de frente para ele. Orgulhoso, disse:

– Agora vamos para casa. Deixe que meus youkais terminem o serviço.

A adolescente olhou para a meio-irmã que, parecendo alheia ao próprio risco que corria, fixava-se no seu desespero em chorar a morte de Marco. Achando tudo aquilo patético demais, Hikari sorriu.

– Que serviço, pai? A raposinha não significa obstáculo algum para nós. Deixe que ela seja testemunha viva do nosso poder. – Olhou mais atentamente para Marco, caído, sem o menor sinal de respiração. E isso a fez sorrir ainda mais. – O queridinho da minha mãe está morto. Dessa vez, de verdade. E para sempre!

Haru se aproximou dos dois e pediu:

– Kuro-sama, deixe-me cuidar dessa raposa mestiça.

Encarando a serva, o líder youkai moveu a cabeça numa negativa:

– Hikari tem razão. Não vamos nos preocupar com coisas insignificantes.

Dito isso, Kuro usou seu poder de teletransporte para sair dali, levando consigo seus youkais e sua filha.

Ainda alheia a tudo ao seu redor, Kiara continuava a chorar, em desespero, sobre o corpo de Marco.

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Shermmie não se recordava de qual tinha sido a última vez que dormira tão bem. Fora uma noite simplesmente especial e única, o que ocasionava a ela até certo receio de despertar por completo e constatar que tudo havia sido apenas um sonho.

Mas não era, e ela logo se sentiu reconfortada por dar-se conta disso. Mesmo antes de abrir os olhos, sentiu o cheiro dele e, instintivamente, esboçou um sorriso. Ele realmente estava ali, ao seu lado, e ela pôde confirmar isso quando abriu as pálpebras e o avistou deitado ao seu lado na cama. Com um olhar zombeteiro, ele parecia debochar daquele meio-sorriso bobo que ela tinha entre os lábios.

– Bom dia. – Ele a cumprimentou, com um tom de voz altamente sedutor. – Sabia que você se mexe demais enquanto dorme?

– É? – Ela fingiu descaso. – Grande coisa. Pior é você, que ronca.

Ele gargalhou. Ela acompanhou o riso, de forma contida, quase que imperceptível.

– E aí? – Ela indagou, também tentando pôr um tom sedutor em sua voz. – Foi bom pra você?

– Ô, se foi. Mas poderia ser melhor, sabe, se... – Ele sentou-se na cama e, emburrado, cruzou os braços. – Se você não tivesse colocado esse monte de travesseiros entre nós dois.

E o sorriso no rosto dela aumentou. Era incrivelmente doce o sabor da vitória. Era uma delícia ver aquele inglês metido a sedutor, que mantinha sempre a autoestima nas alturas por pensar que, a qualquer momento, poderia ter a mulher que desejasse, ali, acordando na mesma cama que ela depois de terem passado uma noite inteira juntos sem terem feito absolutamente nada!

Claro, não tão "nada" assim. Os beijos foram muito bons, isso ela não poderia negar.

– Eu estava pensando... – Ela começou a dizer. – Na cara que o meu pai faria se soubesse que eu dormi com um garoto.

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