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Eu tô na lua. Como cheguei aqui? Estou sozinha e está tudo em silêncio. Levanto e tento andar, mas um coelho aparece no meu pé. Que porra é essa? Concentro-me para ouvir qualquer barulho, mas só ouço um celular tocar? Como meu celular tem sinal, se estou na lua? E que merda eu estou fazendo na lua? O som do celular fica mais alto e a claridade vai se tornando preto, tão preto...

Abro os olhos e suspiro profundamente agradecendo por não estar na lua, e sim, na minha cama. Péssima ideia de ter visto Gravidade ontem no Netflix. Meu celular torna a tocar, estico o braço para pegar e atendo.

— Espero que alguém esteja morrendo, papai.

Meu pai ri do outro lado da linha e resmunga.

Bom dia pra você também, Raio de Sol. Já são 09h, e hoje é dia de almoçar com seu velho. Cadê sua irmã?

— Não sei pai, ainda tô dormindo, lembra?

Você fala dormindo? Você é sonâmbula? Como nunca soube disso?

Eu ignoro papai e pergunto aonde vamos almoçar. Enquanto ele fala sobre o almoço, eu levanto e procuro Mia. Ela esta no fogão fazendo ovo.

— Nossa que cheiro delicioso. Claro que não, eu tô falando com a Mia. Como eu ia sentir o cheiro da sua meia do outro lado do telefone? Ok, pera aí. — passo o celular para Mia e vou em direção ao banheiro fazer minha higiene matinal.

Saio do banheiro e me sento na bancada para comermos.

— Já sabe qual fantasia vai usar?

— Estava pensando em ir de geek sexy. — respondo e tomo um gole de café. — Eu tenho que comprar uma saia plissada e um salto, os meus estão velhos, mas eu tenho uma blusa escrita "I nerds", as meias, e os óculos. Deve servir!

— Eu tenho o salto perfeito pra você. Espera aí.

Ela levanta e corre em direção ao quarto. Eu aproveito pra terminar meu café. Pego meu celular na bancada e entro no Instagram, fico passando o dedo na tela e tenho um mini infarto quando vejo a nova foto que Fábio postou. Na foto está ele e Benjamin em uma academia, mas Benjamin está sem camisa.

— Isso é castigo sim. — grito para Deus.

Minha irmã que está voltando com uma caixa de sapato na mão, pergunta.

— O que é castigo?

Eu pego meu celular e viro a tela para ela.

— Caralho!

— É. Caralho. Isso ele também tem!

Minha irmã continua babando na foto quando eu decido tomar o celular da mão dela e bloquear.

— Chega! Cadê o sapato?

Ela tira o sapato da caixa e é maravilhoso, com certeza vai combinar com a roupa.

— E você? Já sabe como vai?

— Eu estava pensando em ir de Chapeuzinho Vermelho. Vamos comigo depois do almoço na loja de fantasias?

Faço que sim com a cabeça e levanto para lavar a louça, enquanto Mia vai pro quarto se arrumar. Faço o mesmo e quando são 11h30, a campainha toca e vou em direção à porta. Quando abro, vejo o homem que mais me faz feliz nessa vida.

— Oi papai. — falo e dou um abraço nele. Ele corresponde e me da um beijo na testa.

— Oi Raio de Sol, prontas?

Faço menção para ele entrar. Mesmo sabendo que essa é a casa de suas filhas, meu pai respeita nossa privacidade, ele não entra sem bater ou pega qualquer coisa sem pedir.

— Oi pai, estamos prontas. — diz Mia entrando na sala. Ela abraça o pai e ele repete o mesmo gesto que fez comigo.

Papai decidiu vir almoçar conosco aqui em Ipanema mesmo, ele ama Ipanema, mas diz nunca sair da nossa casa na Tijuca, e eu imagino o motivo. Nós escolhemos uma mesa e pedimos nosso almoço, enquanto a comida não chega, fico jogando conversa fora. Desde que papai veio nos buscar, ele está com uma expressão estranha no rosto. Parece triste.

— Pai, tá tudo bem? — eu pergunto.

Ele me olha surpreso, e desvia o olhar.

— Sim. Não se preocupe. É que amanhã faz quinze anos que a mãe de vocês se foi.

Eu não esperava por essa resposta. Enquanto Mia segura na mão dele, eu vejo nos seus olhos o quanto ele ainda a ama.

Quinze anos que mamãe se foi. Eu tinha oito anos na época, mas entendi quando meu pai disse que ela tinha ido embora. Eu vi o quanto ele ficou devastado. Mia tinha apenas seis. Ela quando soube falou que mamãe tinha virado um anjo no céu, e isso só fez com que meu pai chorasse mais ainda.

Eu achei que depois de tanto tempo, ele havia seguido em frente, mas pelo que vejo, não. Sr. Julio Cooper é um homem bonito. No auge dos seus 51 anos, loiro, e com olhos azuis, pode arranjar uma namorada rápido.

— Pai, nós sentimos falta dela também, mas você tem que seguir em frente, não é bom remoer essa dor por tantos anos.

Ele olha para mim, sorri e se vira para minha irmã.

— Mia, me fale sobre a peça. Vocês duas vão participar?

Mia começa a tagarelar sobre a peça, os ensaios, os figurinos, e logo em seguida nossa comida chega. Decidimos pedir de sobremesa petit gateau, e tive um orgasmo gastronômico.

Enquanto paga a conta, eu e Mia saímos do restaurante em direção ao carro. Esperamos ele destravar as portas, e Mia da o endereço da loja. No caminho decido perguntar sobre o estúdio, eu sei que quando ele entra lá, o mundo aqui fora se torna inexistente.

— Como vai o estúdio pai?

— Ótimo! — ele diz sorrindo. — Ontem achamos uma cantora no YouTube e Beto deu a ideia de gravarmos com ela. Assim que deixar vocês, vou encontrá-lo e conversaremos com a menina.

— Que legal. — diz Mia totalmente irônica.

Eu e meu pai rimos. Ela odeia o fato de nosso pai ser músico, ter um estúdio e ainda assim, ela cantar mal.

Papai fez muito sucesso nos anos 80. Ele era o famoso vocalista Julio Boy dos Boys Rock com apenas 18 anos. Sua carreira durou cerca de 10 anos. Assim que eu nasci, ele quis ser um pai presente, e decidiu abrir seu próprio estúdio.

Eu também não canto nada, mas Mia teve sua fase de querer ser cantora. Já tentamos gravar ela cantando uma vez, mas desistimos quando o vizinho bateu em nossa porta perguntando se estava tudo bem. Fim de carreira para Mia. As vezes ela canta, mas eu dou graças a Deus de ser só no chuveiro.

São 16h, e acabamos de chegar à loja de fantasias. Enquanto Mia conversa com a vendedora, eu sento em frente ao provador e espero ela entrar. Alguns minutos depois ela saí, e fico boquiaberta. A caçula está maravilhosa.

— Camila. — ela fecha a cara. Odeia que a chame assim. — Desculpa. Mia, você esta gostosa! Desde quando tem esse peito todo? E essas pernas?

Mia ri e vem andando em direção a mim e me abraça.

— Vicki, eu não tenho mais 17 anos. Sou uma mulher já!

— Eu vejo.

— Eu levo?

— É claro! Se a Chapeuzinho Vermelho se vestisse assim, os homens iam adorar assistir ao filme. Agora vamos logo que eu ainda tenho que comprar minha saia.

Meia hora depois estou abrindo a porta de casa com Mia, quando meu celular apita avisando que recebi uma nova mensagem. Fecho à porta e Mia passa por mim indo direto para o quarto. Eu pego o celular e leio e a mensagem.

Uma dica. Eu tenho fetiches por estudantes...



Entregando-MeWhere stories live. Discover now