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— Vem comigo.

Benjamin fala enquanto admiramos a vista. Estamos sentados do lado de fora do teatro esperando a cena de Mia e Luana acabar.

— O que?

— Vem comigo pra New York. — ele se vira de frente pra mim. — Nos não precisamos ter um relacionamento a distância, amor. Você pode vir comigo.

— Isso é loucura. Eu não posso, e além do mais você vai em novembro, os cursos já estarão cheios.

— Isso não é um problema, você pode arranjar algum trabalho temporário até as inscrições abrirem.

— Eu não posso deixar Mia e meus pais aqui, Benjamin.

— Victoria, seu pai pode visitar você quando quiser, e sua irmã também.

— E minha mãe, Benjamin? Ela está tendo problemas no consultório. Eu não posso simplesmente largar tudo aqui e ir com você. Não dá.

— Dois meses atrás você nem sabia que sua mãe existia, Victoria.

Mas... O que?

Eu não acredito que ele jogou isso na minha cara.

— Uau! — eu coloco a mão no peito. — Um tapa doeria menos, Benjamin.

— Olha. — ele passa as mãos pelo cabelo. — Me desculpa, eu não queria falar isso. Eu só...

— Você só o que? — eu o interrompo. — Você só quer que eu largue minha vida aqui pra ser sua sombra em New York? Você acha que eu vou conseguir audições fáceis, Benjamin? Como eu irei bancar um apartamento sozinha? Você terá seu dormitório. Você já estará no curso, mas e eu? — eu aponto pra mim mesma. — O que eu vou fazer enquanto você vive o seu sonho americano? Ah... mas não tem problema, eu posso arranjar um emprego no Hooters, o que acha?

Ele ri amargamente e passa a mão no cabelo. Esse é a sua marca quando está frustrado, irritado, e cansado.

— Eu estou tentando dar algumas opções aqui, Victoria. Você podia colaborar comigo.

— E eu não estou? Você acha que eu estou contente que você vai pra Nova York por quatro anos? Isso se não ficar lá permanentemente? Em partes sim porra, eu estou feliz pra caramba, afinal é o seu sonho, mas... o que isso significa pra gente?

— Se eu soubesse não estaríamos discutindo agora. — ele grita abrindo os braços claramente frustrado e suspira passando as mãos pelos cabelos bagunçados. — Eu preciso ir.

— Aonde você vai?

— Eu não sei. Eu preciso esfriar a cabeça, nós temos uma peça pra fazer daqui a três horas.

E ele sai me deixando sozinha em minha bolha de frustração.

» «

Há dois meses nós embarcamos em São Paulo para a nossa estreia. No começo tudo estava normal, éramos o casal que vocês tanto conhecem. Os dias estavam passando e a ida de Benjamin estava se aproximando rápido demais. Desde que soubemos que ele foi o escolhido, não conversamos sobre isso e deixamos como estávamos, acho que por medo de decidir qual seria o ponto que o nosso relacionamento ia tomar.

Quando chegamos a São Paulo eu e Benjamin ganhamos uma assistente, Juliana. Ela era um amor de pessoa, sempre estava ali disposta a nos ajudar. Num certo dia, quarta-feira pra ser mais precisa, eu estava tão cansada que decidi ir mais tarde para o ensaio. Benjamin tentou me acordar de todas as maneiras possíveis e não obteve sucesso. Vocês lembram como é difícil me acordar, certo? Depois de tanto insistir e não conseguir, ele me deixou na cama com um beijo de despedida e foi para o ensaio.

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