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Acordei de supetão logo após meu celular gritar uma música qualquer e bati de cabeça na direção do carro. Resmunguei algumas palavras e me troquei ali mesmo. Coloquei alguns produtos de higiene na minha pequena bolsa marrom e fui ao banheiro público. Em alguns minutos já estava estacionando meu pequeno carro azul perto do starbucks no centro da cidade.

Quando desci do carro uma borboleta passou bem na minha frente e eu dei um sorriso. Eu amava borboletas. Poderia até dizer que sou supersticiosa em relação à elas, sempre que via uma borboleta, esperava que algo bom naquele dia acontecesse.

- Eu sei, eu sei, estou atrasada. - cheguei colocando meu avental assim que Ane me olhou com um olhar ameaçador.

- Estou tentando lhe cobrir Liza, mas assim não vai funcionar. - ela me olhou enquanto colocava a tampa em um copo e gritava o nome do cliente.

- Eu vou melhorar, as coisas só estão complicadas lá... Em casa. - dei o melhor sorriso convincente e ela balançou a cabeça.

Os dias então eram assim... Chegava atrasada no trabalho e tentava compensar ficando mais algumas horas, dormia no meu carro, me arrumava em um banheiro público, mesma rotina, a rotina que eu já não suportava mais. Não é como se eu pudesse mudar alguma coisa, não agora, mas estava dando o meu melhor.

-Vamos lá, não me deixe na mão agora. - tentava desesperadamente ligar o carro e ele não respondia. - Droga, droga! - bati com força na direção e suspirei. - Não posso mais acreditar nessas borboletas. - resmunguei. Realmente esperava algo bom acontecer. Não poderia ficar estacionada perto do trabalho, e se alguém me visse dormindo?

Depois de meia hora tentando decidir o que fazer, vi que não tinha escolha. Ajeitei minhas coisas para dormir e peguei no sono logo em seguida escutando o barulho da chuva contra o carro.

- Mas que porra...? - senti o carro ir pra frente e bater contra o poste de luz. Sentei no banco do motorista para entender a situação e num movimento súbito ele bateu de novo. Ainda estava noite. Olhei para trás e vi o que estava acontecendo.

Saí do carro e em poucos segundos já estava totalmente encharcada.

- Qual é o seu problema? - gritei para mim mesma vendo que o homem do grande carro atrás do meu não se moveu. - Ei, estou falando com você! - bati no vidro e ele abriu. - Qual é a porra do seu problema? Não viu que bateu no meu carro? - disse tentando controlar minha raiva diante o homem... Bem, ele era novo, deveria ter o que? Uns vinte e três anos?

- Oh, me desculpe, não vi o seu carro. Só estava tentando estacionar, realmente preciso de um café. - ele diz se enrolando e olhando para a cafeteria fechada do outro lado da rua.

- Você está bêbado? - perguntei assim que vi ele rir sem motivo aparente.

- O que? Eu não estou bêbado! - ele ri - Talvez um pouco, mas só quero um café. - ele resmunga e então me olha nos olhos. Juro que já vi esse rosto em algum lugar. - Me dá um café? - ele faz um beicinho.

Eu respiro fundo e pensa nas minhas opções. Tentar conversar com ele não levará a lugar algum vendo que ele está embriagado. Chamar a polícia? Não seria uma boa ideia para mim.
Primeira opção será.

- Qual é o seu nome? - digo um pouco alto devido à chuva.

- Harry - ele diz e sorri simpático.

- Oi Harry, eu sou a Elizabeth. - ele sorri animado pra mim. Jesus, esse garoto é estranho. - Harry, você bateu no meu carro, consegue ver isso? - apontei para o meu carro e só então vi o estrago, ele estava totalmente destruído, não sei como não me machuquei.

- Me desculpe - ele sussurrou assustado e seus olhos encheram d'Água. Era só o que me faltava.

- Ei, não chore. - rolei os olhos e encostei no braço dele pela janela do carro. - Meu carro e muito importante pra mim, e eu não quero chamar a polícia ent...

- Eu pago. - ele me interrompeu com uma cara séria e o tom de voz mais sério ainda. Deus, esse garoto é bipolar.  - Mas você tem que me dar um café. - ele sorri divertido agora.

- Um café?! - exclamo totalmente raivosa com o comportamento ridículo dele. E quando ia discutir percebi que não valia a pena.

- Vem. - ele pulou para o banco do carona e abriu a porta do motorista para mim.

- O que você está fazendo? - ele é doente!

- Você vai me dar café. - deu ombros como se fosse óbvio. - Vai me levar em algum lugar visto que não é uma boa ideia eu dirigir. - ele olhou para o meu carro totalmente destruído.

Maldita borboleta.

THE CAR - H.S PTWhere stories live. Discover now