II

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Dirigia concentrada a grande Range Rover do garoto que se nomeava Harry, enquanto o mesmo ficava brincando com os dedos cantarolando alguma música que eu não reconhecia.  Avistei o starbucks 24h e dei uma olhada no relógio, marcava 2:23 da manhã. Suspirei pensando nas horas de sono que estava perdendo e estacionei o carro.

- Qual café você quer? -perguntei me soltando do cinto, ainda frustrada com essa situação.

- Um expresso médio. - Harry começou a se soltar do cinto. -Eu vou com você. - disse um pouco enrolado e eu fiz um sinal para que o mesmo parasse.

- Você espera aqui, já fez estrago suficiente por uma noite. - murmurei irritada descendo do carro enquanto ele cruzava os braço emburrado.

Entrei na loja atraindo olhares das poucas pessoas que estavam ali, bom, eu estava pingando, como não chamar atenção?

- Um expresso médio, por favor. - sorri para atendente e percebi que teria que sair na chuva novamente pois não peguei o dinheiro.

- Qual o seu nome? - Ela perguntou sorrindo cansada, imagino o quão ruim deve ser pegar o turno da noite. - É Elizabeth! Você é da loja 23, não é? - me observou. - fizemos o treinamento juntas! - disse animada fechando o café.

- Julia, certo? - perguntei me lembrando vagamente da menina loira a minha frente.

- Isso! Aqui está, por conta da casa. - me entregou e eu agradeci saindo da loja. A chuva não tinha dado nenhuma trégua ainda, então dei uma corrida até o carro protegendo o café. Harry estava na mesma posição de quando eu o deixei, ainda emburrado. Estendi o café para ele e ele sorriu tomando um gole.

- Você é muito prestativa, Odete. - disse após o segundo gole, se virando para mim.

- É Elizabeth -disse nervosa, odeio quando trocam meu nome. - o que vamos fazer agora? meu carro está destruído no meio da rua. - lembrei e o sentimento de preocupação me chicoteou.

-Eu já solicitei um guincho, vão levar ele para oficina. - e então eu me desesperei olhando para aquele homem com a o rosto mais sereno do mundo.

- NÃO! Minhas coisas estão lá, meus documentos, meu uniforme, CARALHO! - ele me olhou assustado enquanto eu gesticulava. - LIGA PARA ELES AGORA!- gritei apontando para o celular dele.

- Dá pra se acalmar? Passamos lá e pegamos suas coisas e eu te levo em casa. - me olhou sério e percebi que ele estava ficando mais sóbrio. - A oficina é 24h na baker street, estamos perto. - tentou me tranquilizar tomando mais um gole do seu café enquanto eu encostava a minha cabeça no volante, totalmente frustrada. Eu iria mesmo contar para um estranho, que além bonito, aparentemente era rico, que eu morava no meu carro? Suspirei pensando o que falaria enquanto notei pelo canto do olho que ele me observava.

- Eu não posso ir para casa. -murmurei ainda encostada na direção.

- E por que não? - notei o seu movimento para virar na minha direção.

- Eu não tenho casa. Moro no meu carro. -  é, eu realmente estava fazendo isso. E falar isso em voz alta fez eu me sentir o mais humilhada possível. E então escutei uma gargalhada. Levantei minha cabeça olhando chateada pra ele. Eu também acharia graça se não fosse a minha vida.

- Você não ta falando sério... - ele analisou meu rosto sério. - Está? - e então ficou surpreso quando me viu assentir.

- Por que? - perguntou e olhei a chuva que nos rondava no estacionamento da cafeteria.

- É complicado... não precisamos fazer isso. Eu só preciso das minhas coisas.

- Me fala. - pediu e notei pena no seu olhar. Odiava isso. Odiava que sentissem pena de mim. Pena é o pior sentimento. - Fala. - disse baixinho encostando no meu ombro, acompanhei sua mão com o olhar e ele retirou constrangido. Talvez ele ainda estivesse um pouco alterado.

- Não tem muito o que falar. Eu morava com a minha mãe, então ela faleceu, eu apenas estudava para entrar em uma universidade, mas ela não deixou nada. Morávamos de aluguel. E eu demorei para arranjar um emprego então as contas acumularam, e me expulsaram. O que me restou foi meu carro. Vivo nele há alguns meses já. Mas estou conseguindo juntar um dinheiro como garçonete para pelo menos pagar o que devo e conseguir um lugar para ficar. - suspirei depois de falar tudo muito rápido. Harry me olhava atentamente enquanto esperava mais. - É isso. E agora você destruiu meu carro. - ri sem vontade. - devo ter jogado chiclete na cruz, só pode.

- Sinto muito. Você não tem ninguém? Avós, tios, irmãos? - Ele perguntou um pouco baixo e eu neguei com a cabeça.

- Minha mãe era do interior, perdeu os pais muito cedo, era filha única. Então ela conseguiu um emprego aqui em Londres, mas não sabia que estava grávida de mim. Caso de uma noite, sabe como é. - revirei os olhos. - Éramos só nós duas. - notei que ele olhou pra frente observando a chuva, como se tivesse refletindo algo.

- Você pode ficar na minha casa até o seu carro ficar pronto. - disse ainda olhando pra frente evitando contato comigo. - É o minimo que posso fazer.

- Não.-  neguei sem mesmo pensar. O que eu faria agora? Meu carro estava totalmente destruído, não sei quanto tempo levaria até ele ficar pronto. Minhas coisas estavam todas nele.

- Por favor, me deixa ajudar. - agora ele me olhava. - Vamos para minha casa hoje e amanhã iremos ver o seu carro.

Ir para casa de um estranho, que bateu no meu carro, e aparentemente é um bêbado. O que poderia dar errado, não é?

- Já que eu não tenho opção... - sussurrei e ele sorriu.

- Vamos lá, eu te guio. - disse animado colocando o cinto novamente. Coloquei o cinto e liguei o carro respirando fundo. Nunca me imaginaria dirigindo uma Range Rover, ou nunca imaginaria estar dirigindo uma Range Rover, de um estranho, enquanto eu ia para casa dele. Harry foi dizendo por onde eu deveria ir, e eu dirigia com os olhos penetrados nas ruas escuras de Londres.

- Agora vira na Egerton Crescent, é logo ali na esquina. - revirei os olhos, é claro que ele iria morar em um dos bairros mais caros da capital.

- O que foi?

- O que você faz da vida? - perguntei finalmente tentando matar minha curiosidade e ele se mexeu desconfortável.

- Eu canto. - disse baixo enquanto apontava para a grande casa branca e luxuosa a nossa frente. Os portões se abriram automaticamente e eu parei o carro em frente ao que parecia a porta de entrada.

- Você canta? - perguntei um pouco incrédula enquanto me soltava do cinto. - É sério? - insisti descendo do carro e o seguindo.

- É sério! - Sorriu amarelo abrindo a porta da entrada, e com o novo ambiente e sua iluminação eu finalmente pude observar ele.Harry tinha olhos verdes, seu cabelo era um pouco volumoso mas com um belo corte de cabelo. Ele estava com leves olheiras abaixo dos olhos, vestia uma calça preta, botas marrons e estava com um sobretudo preto. E então eu o reconheci.

- One direction! - exclamei tirando meu casaco de moletom úmido ficando apenas de calça e camiseta de pijama. - Você é um deles, certo? Já vi algumas fotos em revistas e jornais.

- Menina esperta. - sorriu amarelo pendurando seu sobretudo e tirando as botas, fazendo sinal para eu seguir. A casa não era tão grande como parecia, era muito mais aconchegante do que pensei. Ele sentou no sofá branco, deu uma batida no mesmo para eu sentar ao seu lado. E então apertou um botão de um dos controles revelando o fogo na lareira automática.

- Me desculpe pelo seu carro. Eu não deveria sair dirigindo dessa forma. - apontou para si mesmo um pouco decepcionado. - Amanhã logo cedo iremos resolver isso, tudo bem?

- Tudo bem. - concordei o encarando. - Eu vou ter que faltar o trabalho amanhã - comentei pensando alto.

- Vamos dar um jeito nisso. - levantou e estendeu a mão para mim. Franzi o cenho o encarando - Vou te mostrar onde pode dormir. - Continuou com a mão estendida e peguei a mesma um pouco receosa.

Jesus, estava na casa de um cantor famoso, toda encharcada, e sem dignidade alguma.








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Olá! Eu comecei essa história há alguns anos atrás, mas não tive muito retorno. Agora resolvi dar mais uma chance. Se quiserem que continue comentem e votem! Desculpem os erros e espero que gostem! Beijo!

THE CAR - H.S PTΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα