Dez - Pistas

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Danny Langdon morava em uma vizinhança pacata e respeitável em uma região adorável de Cambridge. E Melissa sabia que era assim que os mais insanos psicopatas se infiltravam, se camuflavam, fazendo o mundo ao seu redor acreditar que eram pessoas de bem, normais, sãs...

Danny Langdon não era.

Ele era capaz de trair a confiança inabalável de um amigo querido. O melhor deles. Talvez o único. Era capaz de assassinar a sangue frio, de tirar a vida de alguém que lhe acolheu e lhe deu oportunidades de uma vida feliz e promissora. Ele era capaz de jogar tudo para o alto por motivos escusos e mesquinhos. Danny Langdon contrastava, afinal, com as pessoas pacatas e as crianças ruivas e felizes que brincavam por sua rua.

Melissa e Corey desceram do táxi apreensivos e pararam hesitantes na calçada que levava ao número 500 da Lensfield Rd.. Era um sobrado branco de estilo vitoriano com um jardim malcuidado ladeando sua entrada. Uma pequena escada de pedra levava à porta pintada de verde. O nome "Langdon, D." estava marcado em dourado na caixa de correio preta.

Não parecia haver alguém em casa.

Há muito tempo.

As janelas empoeiradas e as paredes escurecidas que começavam a ser tomadas por ervas daninhas bem demonstravam tal óbvia constatação.

Melissa e Corey se entreolharam por um breve instante, em uma silenciosa intimação mútua. "Quem vai primeiro?". Melissa suspirou e imaginou quaistipos de surpresas poderiam ter. Danny Langdon, afinal, poderia estar trancafiado ali aquele tempo todo, escondido em seu porão sem luz em meio aos ratos. Não merecia um lugar melhor. A não ser a cadeia, talvez. Ou o St. Marcus Institute.

Muito embora a hesitação de Melissa e Corey tenha durado alguns breves minutos, ela teve que ser deixada de lado quando uma sombra passou pela janela do que parecia ser a sala e fez balançar a cortina branca. Mais uma vez se entreolharam, porém não em tom de intimação, mas de pura e descomedida curiosidade. Corey não esperou mais nem um minuto, subiu as escadas de pedra correndo e bateu à porta.

Por um momento, Melissa cogitou a possibilidade de estar lidando mais uma vez com o insistente e insatisfeito fantasma de Barber. Era verdade que estava mais paranoica do que deveria, portanto descartou tal ideia quando se lembrou de que Corey também havia visto o vulto e batia com força na porta, uma vez que havia sido ignorado na primeira batida educada.

-Ei!– ele gritou, tentando enxergar através da poeira que tomava o vidro da janela.

Melissa se encontrava em um dilema sobre continuar onde estava e esperar que Corey desse conta do problema sozinho e subir as escadas e acompanhá-lo porque, acima de tudo, temia pelo tipo de torturas que Corey pudesse aplicar em Danny Langdon caso se encontrasse oportunamente sozinho com ele. Chegou logo à conclusão de que a segunda era a melhor opção e então se aproximou de Corey. No mesmo instante o vulto voltou a passar pela janela e balançou a cortina. Então uma mão afastou o pano branco e o rosto do homem que apareceu ali não era o de Danny Langdon.

Era um senhor baixinho, de bochechas grandes e rosadas, careca lustrosa e um bigode mal tingido de preto. Ele franziu o cenho e fechou a cara para Corey e Melissa, porém fez um sinal pedindo para que esperassem. Então a tranca da porta foi girada e o senhor se postou à frente deles. Era pelo menos quinze centímetros menor do que Melissa.

-Posso saber por que esse desespero todo? Eu estava lá em cima tentando arrumar o vazamento do banheiro. Minha idade já não me permite correr escadas abaixo como os dois jovens pareciam ansiosos para que acontecesse... Esse reumatismo é um inferno na minha vida! – ele resmungou.

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora