Dezoito - Destino (parte 2)

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Sim, era destino, Melissa já não tinha mais dúvidas quanto a isso.

Por que outro motivo ela escolheria tomar uma coca-cola exatamente naquele momento? O momento em que o investigador Josh Bethel descia de seu carro à paisana em frente à espelunca em que escolheram se hospedar? E se fosse Corey o sedento por um refrigerante? E se nenhum dos dois resolvesse sair naquele fatídico momento? Teriam aberto a porta do quarto para o então mais feliz investigador da Scotland Yard. Tudo estaria perdido. Ainda havia um fio de esperança com ela ali, do lado de fora e ele lá, do lado de dentro, parcialmente protegido da astúcia do irritante investigador.

Não houve tempo para se perguntar como ele havia chegado ali, como sabia que ela estaria ali. Nada de teorias da conspiração. Talvez ele fosse apenas muito competente. Teve que agir rápido. E com certa destreza que antes não imaginou possuir. As circunstâncias daquela nova vida a estavam obrigando a se transformar em outra mulher, uma que beirava heroínas de romances policiais. Nada mal para quem antes de Corey Sanders e St. Marcus Institute tinha medo da própria sombra.

Não houve hesitação na sua mudança de itinerário. Deixou de lado a máquina de refrigerante e apertou os passos até o outro lado da rua. Não deixou que ele saísse do lugar. Embora estático, ele não parecia surpreso em vê-la. Pelo contrário, havia certo ar de triunfo em seu olhar esperto demais. Melissa não poderia dizer o mesmo. Teve menos de trinta segundos para transformar a expressão de olhos arregalados e boca escancarada em um simpático sorriso.

-Se não fosse um investigador de polícia, diria que está me perseguindo. – foi o que disse a ele quando se aproximou.

Ele sorriu e encostou casualmente na lateral do carro.

-Perseguição é uma palavra muito forte.

-Como chama isso então?

-Apenas uma atenção especial.

Melissa sorriu como ele, a pitada certa de ironia. Àquela altura descobriu que já estava acostumada à nervosa sensação de ser a suspeita de um investigador de polícia. Não havia mais mãos suando ou inconstância nos músculos da perna. A mentira já parecia natural, leve, quase uma verdade universalmente incontestável. Estava confiante, tranquila, nenhuma reação suspeita, apenas a surpresa de uma visita inesperada.

-O que quer de mim, investigador?

-Respostas para algumas perguntas. Estou muito curioso a seu respeito.

-Acredito que não há mais nada que eu possa dizer a você que já não tenha dito antes...

-Eu penso diferente. – ele maneou a cabeça e guardou as mãos nos bolsos do terno.

O sorriso não sumia de seus lábios e, em outras circunstâncias, Melissa poderia jurar que ele estava flertando com ela. Ficou pensando em Kate e no tipo de gosto para homens que ela tinha. Preferiu ficar com a circunstância. Não seria minimamente aceitável e ela não acreditava tanto assim em seu ego.

-Sinto muito pela sua incrível dificuldade em acreditar em mim, investigador, mas está errado. Sei tanto sobre Corey Sanders quanto você.

-Eu até cheguei a pensar que sim, Melissa, mas veja só que curiosa situação: há um tiroteio inexplicável em uma confeitaria em Chelmsford, o alerta foi dado no sistema da polícia e, bem, você deve imaginar que eu estou muito interessado em qualquer coisa inexplicável que ande acontecendo nesse país, então eu fui verificar no sistema e havia uma descrição de uma mulher muito parecida com você. A médica que levou a vítima para o hospital, mas a polícia de Chelmsford descobriu que nunca chegou lá.

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora