Vinte e Dois - Funeral

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Melissa passou o curto caminho de volta ao seu prédio tão perdida em pensamentos e dúvidas que mal notou a presença de Brian a acompanhando até lá. Só se deu conta de que estava na portaria porque ele pegou seu braço com delicadeza e a fez parar.

-Esqueceu onde mora? – ele riu.

-Estou mais distraída que o normal. – Melissa abanou com as mãos.

Foi Brian quem se aproximou para uma estranha despedida. Ele deu um passo à frente, esperando que Melissa autorizasse o outro. Ela finalizou a distância entre eles e o abraçou. Havia certa tensão no ar, por isso tratou de se afastar rápido.

-Foi ótimo revê-lo, Brian. – ela sorriu.

-É sempre bom vê-la também. Talvez possamos marcar outro desses?

-Com certeza. – Melissa assentiu e entrou no prédio.

Sentiu os olhos de Brian queimando suas costas até que entrou no corredor do elevador e certo peso pareceu lhe libertar. Foi, contudo, uma mínima parte do peso gigantesco que lhe atormentava. Além da inesperada amnésia e de todas as confusões e traumas inesperados dos últimos três dias, passou a ter que lidar com o fato de que Brian também havia aderido à causa de Barber.

Melissa quis xingá-la por isso, pela necessidade que as pessoas tinham de, aparentemente, protegê-la, mesmo depois de morta. Era só mais um motivo para preocupar Corey, mais um motivo para fazê-lo ter ciúmes de Brian, mais um motivo para fazê-lo odiar Brian... Melissa sabia que mais esse tipo de distração não era bem-vinda e poderia muito bem ter sido evitada se Brian não decidisse de repente ser tão... Intrometido. Ele não tinha nada que se meter naquela história, ele era apenas uma pequena parte dela, e não a mais importante, certamente... Atrapalharia mais do que ajudaria, no final das contas, isso era certo.

Por isso a necessidade de encontrar qualquer pista que os levasse na direção da pessoa que havia assassinado Danny Langdon... Da namorada misteriosa... De "G"... Enquanto o elevador subia vagarosamente, Melissa considerou seriamente a possibilidade de pegar o vídeo e levar ela mesma até Josh Bethel, sem esperar pela aprovação de Corey. Era uma confissão, era seu passaporte para a liberdade... E ele ainda assim preferia se deixar levar por sua teimosia... A cabeça de Melissa girou perigosamente e ela achou que fosse vomitar quando o elevador parou com um solavanco.

Era uma sensação já conhecida dos últimos dias. Dores de cabeça, enjoo, amnésia... Quando a porta do elevador abriu Melissa experimentou uma longa tontura. Tudo pareceu pequeno, então grande demais. Fechou os olhos com força, esperando que assim tudo aquilo passasse, que ela voltasse ao normal... Sentia tanta falta da normalidade... Não aconteceu. Fez força para lembrar, talvez ajudasse sua mente a se sentir mais tranquila. Sentiu que seu cérebro poderia explodir, mas não lembrou. Não se lembrou de muitas coisas, não se lembrou de aonde tinha ido após a briga com Corey e nem mesmo de alguns momentos antes de ele tomar o tiro... A porta do elevador fechou e ela ficou parada no andar por alguns minutos, até que alguém o chamou e ela se viu obrigada a subir até o 20º andar e então voltar ao seu.

Corey não demorou meio segundo para abrir a porta assim que Melissa bateu nela. Parecia que guardava a entrada, apenas à sua espera. Não seria uma novidade, dada a companhia que Melissa havia escolhido naquela manhã.

-Está tudo bem? – ele perguntou assim que colocou os olhos nela com mais cuidado, abandonando o olhar ressentido de encontro com Brian.

Melissa sentiu as mãos frias de Corey tomando seu rosto com delicadeza e o puxando para que o encarasse. Não estava bem e não seria sensato dizer que sim... Mas era um dia ruim para Corey, não gostaria de piorá-lo lhe informando a respeito de suas perdas de memória e dores de cabeça e tonturas e enjoos. Não era uma boa ideia.

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora