Epílogo

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Grace

Foi no início de 2009 que tudo aconteceu. Uma cama de hospital. Uma perna quebrada. Tubos e agulhas conectados por todo o lado em meu corpo.

Eu não tinha ideia do que havia acontecido, por que estava ali...

Hospital de Cambridge, era o que estava escrito no lençol que cobria meu corpo. Demorou um tempo até que alguém aparecesse. Uma enfermeira. Tentei parecer calma quando perguntei o que tinha acontecido. "Você sofreu um acidente", ela disse. Atropelada. Algum maldito filho da puta havia me atropelado e deixado para trás. Não avisei a ninguém. Não havia ninguém para que eu pudesse avisar. Apenas me recuperei e voltei para onde minha intuição, por algum motivo desconhecido, dizia que parecia certo voltar: a Universidade de Cambridge.

Uma garota negra, lindíssima, correu na minha direção para me abraçar. Eu estava no corredor que parecia ser o dos dormitórios, embora não soubesse, ao certo, qual deles pertencia a mim. Ou se algum deles pertencia a mim... Se estava no lugar certo, para começar... Descobri que sim, estava no lugar certo.

Trish era minha colega de quarto. Ela só me soltou quando se certificou de que eu estava bem. Disse que eu sumi por dias, não sabia onde eu estava, eu não dei notícias, não conseguiu falar com minha família (que família?), já havia espalhado cartazes com o meu rosto por todo o lado... Quase teve uma síncope quando notou o gesso em minha perna. Expliquei o que havia acontecido, que não me lembrava de mais nada além do que me contaram no hospital, que provavelmente estava passando por alguma amnésia pós-traumática ou algo do tipo. Mas a verdade era que eu não fazia ideia de quem eu era e do que eu fazia na Universidade de Cambridge.

Só tinha uma certeza: meu nome é Grace.

No dia seguinte, descobri que era caloura de Medicina na Universidade de Cambridge. Precisaria recuperar as aulas perdidas. Na aula de anatomia, um veterano auxiliar do professor veio falar comigo. Danny. O adorável e prestativo Danny Langdon. O charmoso e atencioso Danny Langdon. Por algum motivo desconhecido, ele se interessou por mim. Meus cabelos loiros sem graça e malcuidados, meus poucos quilos acima do peso. Meu eu tão sem graça e patético. Ele viu alguma coisa em mim. E eu me senti, pela primeira vez na vida, especial. Desejada. Era um sentimento novo. Eu tinha um passado confuso, um bando de fios soltos sem ligação alguma. Para mim aquilo era o céu.

Até que meu anjo apareceu.

Saía da biblioteca ao lado de Danny. Já havíamos trocado alguns beijos, provavelmente estávamos em alguma espécie de relacionamento e eu estava absolutamente feliz. Ou assim achava. Porque eu não conhecia felicidade. O primeiro contato verdadeiro com ela foi quando o vi pela primeira vez. Ele cumprimentou Danny, eles eram grandes amigos, de cara notei. Mas eu não fui notada. Ele nem sequer soube da minha existência. Fiquei parada a três passos de distância enquanto eles mantinham uma conversa animada sobre qualquer coisa que eu não fui capaz de prestar atenção.

Só existia ele para mim.

Esqueci, inclusive, de Danny, e do que achei que sentia por ele. Ele também pareceu se esquecer de mim. Não me chamou, não me apresentou ao amigo. E eu fiquei ali, deixada de lado, mas com uma informação preciosa em mãos.

Corey Sanders.

O dono dos olhos azuis mais belos e profundos que eu tivera o prazer de conhecer.

Conhecer...

Eu jamais o conheceria de verdade, ele jamais prestaria atenção em mim. Eu certamente não fazia o tipo dele. Mas eu queria fazer. Queria ser a garota que faz ele parar e olhar duas vezes. Queria ser a garota que o faria perder o fôlego e o sono. Queria ser a dona dos seus pensamentos e de seu coração... Eu o queria. O desejava. À primeira vista, me vi completa e perdidamente apaixonada.

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora