Lobotomia (Livro II)

Dezessete - Por Um Triz

O olhar de Danny Langdon foi de confuso por encontrar alguém desconhecido onde não esperava encontrar ninguém, para confuso por encontrar alguém que conhecia muito bem onde não esperava encontrar ninguém. As reações dele pareceram se formar em câmera lenta e Melissa acompanhou tudo de camarote. Sabia que suas próprias reações se aproximavam muito das dele, assim como as de Corey. A verdade era que ninguém ali esperava em seus melhores sonhos – ou pesadelos – ter aquele encontro. Nem mesmo Melissa, que sabia que ele estava ali ou que poderia estar ali.

Um choque generalizado.

Danny Langdon trazia um cigarro e um isqueiro em mãos, que ficaram no meio do caminho entre seu bolso e sua boca. Paralisados no ar, como se, como objetos inanimados que eram, também estivessem em choque. Os olhos dele arregalaram, uma linha de expressão se formou em sua testa, muito provavelmente aquela que se formava quando ele estava preocupado. Ou surpreso. Ou confuso. Era difícil definir com precisão o que ele estava pensando. Talvez ainda estivesse processando a informação, checando com seu cérebro que, sim, aquele era Corey Sanders, que estava vivo e que estava ali, a poucos passos de distância.

Melissa ainda não havia definido por si mesma o atual estado de suas emoções: preocupação, surpresa, confusão. Talvez medo... Só se decidiu quando os olhos de Danny Langdon desviaram de Corey e pousaram nela. Não achou que fosse possível eles arregalarem mais, mas foi o que aconteceu. Então aquela expressão de profundo... Pavor. A que ela já conhecia, que já havia presenciado antes no St. Marcus Institute, em um dia que lhe parecia tão longínquo... Aqueles olhos negros que traziam uma estranha e inesperada sensação de... Lembrança. No final das contas, era Danny Langdon quem parecia temê-la, e Melissa estava apenas confusa com tudo aquilo. Por que ele a olhava daquela maneira, como se fosse o diabo na Terra, a última pessoa viva com quem gostaria de cruzar?

A dúvida fez a cabeça de Melissa girar outra vez, já estava virando rotina naquele dia. Ela não o conhecia, tinha plena certeza. Talvez ele tivesse mais conhecimento de seu envolvimento com Corey do que presumiam, especialmente para alguém que aparentemente vinha fugindo há meses. Era possível que ele estivesse mais informado sobre toda aquela história de Corey no St. Marcus e sua fuga e tudo o que vinha fazendo desde então do que eles imaginavam... Danny Langdon parecia estar alguns passos à frente, quando retrocedeu muitos ao se descuidar e se deixar ser encontrado ali, em Chelmsford.

Buscando por respostas, Melissa conseguiu com dificuldade desviar o olhar de Danny Langdon, procurando em Corey certo tipo de conforto que lhe responderia que, bem, talvez ele fosse apenas louco e não gostasse de psiquiatras, ou morenas de olhos acinzentados, ou mulheres altas. Nunca se sabe o tipo de trauma que uma pessoa pode carregar... Corey, contudo, não correspondeu seu olhar. Toda a sua atenção era devotada a Danny Langdon. Uma espécie de sensação de vitória, um trunfo por um esforço tão pesado, exalava de Corey. E havia também aquele brilho satisfeito em seu olhar, quase maníaco, à exemplo da obsessão que vinha nutrindo por aquele momento. Ele havia chegado exatamente onde gostaria de estar. Melissa sabia o quanto havia sonhado com aquilo, quantas vezes havia imaginado aquele momento enquanto percorria o longo e tortuoso caminho da vingança.

Certamente não imaginou que Danny Langdon simplesmente surgiria à sua frente daquele modo, tão facilmente, indo fumar um cigarro nos fundos do hospital de Chelmsford. Tão trivial, simples, descomplicado... Não condizia com toda a dificuldade pela qual passaram até encontrá-lo, todas as viagens, todas as pessoas com as quais trocaram palavras em busca de uma pista... Corey então abriu um sorriso no canto dos lábios, um que combinava perfeitamente com seu olhar obstinado, e Melissa soube que estava pensando o mesmo que ela: bem, parecia uma piada, não? Talvez devessem começar a procurar pelas câmeras.