Trinta e Um - Êxodo

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Uma sirene.

Agitação nos corredores.

Gritaria.

Então o inferno na terra acordava para mais um dia.

O tipo de rotina com que Corey jamais imaginou ter que se acostumar novamente. Quantos dias? Talvez dois meses ou três desde que tudo dera errado e o investigador Josh Bethel tivera o prazer de leva-lo de volta? Sim, ele já estava acostumado. Já não mais se assustava com a sirene, nem mesmo se irritava com a gritaria e os passos exageradamente pesados dos carcereiros nos corredores. Havia atingido novamente o estágio em que estava quando partira. Ou melhor, quando Melissa chegara ali: indiferença.

Então ali estava ele, de volta ao St. Marcus Institute, apesar de todos os esforços despendidos para se manter fora dali. Para provar sua inocência. Vidas se perderam no caminho e, enquanto atravessava aquele jardim ironicamente bem cuidado em seu primeiro dia em retorno, tão somente concluiu que havia sido em vão. Ele estava preso. Melissa respondia a um processo criminal. E para que, afinal?

Absolutamente merda nenhuma.

Uma cela especialmente preparada estava à sua espera naquele dia. No helvete. Afinal de contas, não poderiam deixar um fugitivo em potencial no cômodo prédio B. Fora dali que ele arranjara um jeito de passar pelos portões do St. Marcus uma vez, não dariam outra chance.

O St. Marcus Institute não estava acostumado a falhar. E se acontecia, era uma única vez, para nunca mais o erro se repetir em sua centenária e rica história.

O Dr. Thompson viera recebe-lo na entrada, como fizera da primeira vez. Daquela, contudo, Corey era uma pessoa diferente. Não um injustiçado que carregava nas costas o ódio e desprezo de uma nação toda. E o assassinato de uma das únicas pessoas que pôde dizer ter amado em sua vida: a melhor amiga e companheira. Não. Corey era agora injustiçado, sim, porém diferente de antes, não era vingança que reinava em seu peito e em sua mente, era apenas... Rancor. Por Danny, por Brian, por sua irmã, que o abandonara no meio daquela jornada... Pelos pais, pelo investigador Josh Bethel... E, sim, claro, pesar... Porque já não estava mais ao lado de Melissa.

Conhecera o paraíso e nem ao menos se dera conta.

Ou não dera o valor que deveria... Talvez fosse o destino punindo sua ingratidão. Ou sua vida inteira desregrada. O carma sempre voltava, isso era fato. Então ali estava Corey Sanders, mais uma vez sendo capturado pela crueldade infalível do maldito carma.

-Sei que pode parecer estranho, mas estou feliz em vê-lo novamente, senhor Sanders. – dissera o Dr. Thompson, quando Corey se aproximara dele.

-Infelizmente não posso dizer o mesmo, Dr. Thompson. – Corey abrira um sorriso irônico.

Não era Pete o carcereiro quem o escoltara, o que, de fato, chamara especial atenção.

-Ao menos o senhor não está morto. Prefiro assim. – ele sorrira amigavelmente, então indicara o caminho para que Corey entrasse no helvete.

Corey não poderia negar que um vergonhoso arrepio percorrera toda a extensão de sua espinha enquanto subia os degraus de pedra. Aqueles em que vira Johnatan Reagan pela última vez, nos quais lutara contra o psicopata para que pudesse, enfim, completar sua fuga. Agora ele também estava morto. E tudo aquilo parecia completamente fora do lugar.

Brian também não estava ali, outra peça essencial.

E o pior, Melissa não estava ali. E não fazia sentido o St. Marcus Institute sem as consultas diárias com ela. As sessões de terapia em grupo – ou seriam confusões em grupo? -, as provocações no consultório dela, quando Corey achava interessante bancar um babaca sedutor. Ele quis rir de sua lembrança. E quis chorar de saudade de um tempo que não deveria querer reviver. Queria reviver aquele passado recente em que podia dormir e acordar ao lado dela, ainda que envoltos por grandes problemas...

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora