Vinte e Três - Foragidos

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-Para onde vamos?! – Melissa perguntou, e sua voz soou mais histérica e trêmula do que previa.

Não havia nascido para ser piloto de fuga, afinal. Suas mãos também tremiam de um modo tal que mal conseguia segurar o volante com a firmeza com que deveria. Seus pés também tremiam no acelerador, mas dali não saíram furando mais um sinal vermelho.

-Acho que já pode parar de violar as leis de trânsito. – Corey disse após olhar pela vigésima vez para trás – Ele não está atrás de nós, mas nesse ritmo logo arranjaremos um guarda de trânsito para nos incomodar.

-Não consigo desacelerar. – ela respondeu quando, sem saber quanto tempo depois, milagrosamente se viu caindo em uma marginal que levava a uma desconhecida rodovia. Seu coração desacelerou o suficiente para que pudesse respirar como uma pessoa normal outra vez. – Para onde vamos? – perguntou outra vez, quando notou que, de fato, não tinha ideia de que rodovia era aquela para a qual aparentemente se dirigiam.

Não tinha a incrível capacidade de fugir da polícia e ler placas nas ruas.

-Eu não sei... – Corey deu de ombros, calmo demais para quem havia acabado de fugir de um habilidoso e irritante agente da Scotland Yard – Pegue a rodovia e vamos esperar que ela nos leve para um local seguro.

-Não consigo pensar em sair sem saber para onde vou. – Melissa retrucou mordendo os lábios. O nervosismo havia retornado.

-Talvez devêssemos ter elaborado um plano de fuga, caso algo desse errado...

-Eu sabia que daria errado desde o início...

-Culpa sua não termos para onde ir, então...

-Eu... – Melissa mordeu os lábios outra vez e escolheu não responder.

Também não estava em condições de discutir com Corey sobre qualquer coisa além do destino de ambos.

-Relaxa, doutora, deu tudo certo, ainda estamos aqui...

-Não me peça para relaxar depois de tudo isso! Não me peça isso! – Melissa soou histérica outra vez, de um modo que não desejava.

Corey soltou um suspiro contido e não respondeu nada. Até que abriu a boca para informar o que dizia a placa que Melissa não conseguiu ler porque as palavras lhe pareceram grego.

-Diz que estamos indo para a B269.

-E para onde a B269 nos leva, Corey?

-Não faço a mínima ideia. Mas acho mais seguro dirigirmos por uma hora, mais ou menos. É uma boa distância e em um local a esmo assim ninguém vai pensar em nos procurar.

Melissa sentiu o peito apertar e um suspiro resignado escapou de seu peito sem querer.

-O que foi? – Corey perguntou, pela primeira vez deixando de lado aquela irritante calma.

O suspiro de Melissa talvez tenha saído mais resignado do que havia notado. Ele estava preocupado com ela.

-Não é nada. – apenas respondeu.

Não queria dizer que por culpa dele era oficialmente procurada pela Scotland Yard. Que por culpa dela haviam perdido o controle de tudo. Que não via mais uma saída naquele labirinto no qual haviam se enfiado. Como achar que tudo daria certo a partir dali se ela também já não mais podia sair em paz na rua? Só lhes restava torcer para que suas fotos não estivessem estampadas em todos os jornais do Reino Unido na manhã seguinte. E para que o assassino de Danny Langdon e a pessoa que o havia influenciado a matar Barber batessem à sua porta e dissessem que iriam se entregar e confessar tudo. Não custava acreditar em milagres àquela altura, já estavam perdidos, de qualquer maneira.

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora