Vinte e Sete - Sequestrada

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Brian.

Sim, Brian.

O sedutor e belo médico que a havia recebido no primeiro dia de trabalho do St. Marcus Institute. O primeiro dia de trabalho de sua vida. Lembrava-se com clareza de como o achou encantador assim que ele sorriu em sua direção, descendo a rua de paralelepípedos no minúsculo centro de Winchelsea. Brian que a ajudou quando teve problemas, quando teve dúvidas e que a reconfortou quando foi atacada por Corey. Brian que a beijou de um jeito que ninguém a havia beijado até então. Até Corey aparecer... Brian que sempre pareceu o herói da história, agora tomava o posto de vilão que havia sido atribuído a Corey inicialmente.

Sim, ela estava surpresa. Acima de tudo surpresa, porque, por mais que a ideia tivesse passado por sua cabeça, havia algo lá dentro dizendo que não seria ele. Por que seria? Por que Brian, o honesto Brian, teria motivos para sequestra-la? O Brian que não parecia ter nada a ver com aquela maluca história... Parecia... Bem, ele namorou Barber, não foi? Ele tinha muito a ver com aquela maluca história...

Melissa mordeu os lábios e não se desviou do olhar nebuloso que Brian lhe lançava. Ele estava lá, impassível, ombros largos e costas eretas. O queixo duro e os punhos fechados. Ainda assim, apesar da latente hostilidade, continuava muito bonito...

Trazia alguma coisa na mão direita, entretanto. Ela esperou que ele tomasse o próximo passo. Não diria uma palavra, não até ele explicar o que diabos estava acontecendo ali. Por que diabos ela estava amarrada a uma cadeira em um aposento frio e sujo em um lugar velho e aparentemente abandonado... Não, quem a trouxera ali não tinha boas intenções. Brian não tinha boas intenções e, francamente, não parecia que estava ali para salvá-la. Não, bem longe disso...

Ele deu um passo à frente e Melissa controlou o instinto de se encolher em sua cadeira capenga. Manteve o queixo erguido e os olhos nos dele, firme e forte como nunca achou que seria... Bem, ela havia passado por muito no último ano, coisas que jamais imaginou presenciar. Era forte, afinal, e o bastante para enfrentar o enigmático doutor Brian Peters que se aproximou mais um passo. E mais outro. Numa lentidão que chegou a irritar Melissa. O que ele estava tentando fazer, afinal? A cena já parecia um filme de terror, o suspense já estava matando-a.

Quando ele finalmente parou à sua frente, a um passo de distância, Melissa notou que soltou o ar que esteve trancando nos pulmões durante todo aquele breve e torturante instante. Brian parecia ainda mais alto, mais imponente, mais forte do que ela... Mas pareceu vacilar por um momento, quando estava próximo demais de Melissa... Ele abriu a boca, mas não falou. Apenas umedeceu os lábios e soltou um longo suspiro. Foi Melissa quem falou primeiro:

-Acho que tenho uma coisa para te perguntar também. – foi o que disse.

E sua voz saiu num suspiro quase inaudível. Ele ouviu, entretanto. O silêncio era cortante ali, de modo tal que poderiam ouvir o bater das asas de uma borboleta. Não foi o som que reverberou pelas paredes de madeira da casa, contudo. Brian soltou uma risada debochada que causou calafrios em Melissa.

-Você não está em posição de questionar nada aqui, Melissa.

Pela primeira vez ela sentiu medo de Brian...

Melissa apertou os lábios e não soube de onde encontrou coragem para continuar com aquela conversa.

-Você não sumiu, afinal...

-Sumir? – ele maneou a cabeça para o lado, e cerrou os olhos, um tanto confuso.

Sua determinação, contudo, não foi abalada.

Lobotomia (Livro II)Where stories live. Discover now