2 - Philip Williams

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Terça-feira, 15 de Janeiro de 1895

Acordo com tanto frio que me vejo completamente encolhida, sobre o colchão desconfortável do meu quarto.

Presumo que tenha comida lá em baixo para tomar o pequeno almoço.

Que estranho. Normalmente, um Intruso sentiria fome na primeira hora que estivesse em Terra. Eu não sinto, nem um pouco. Em Veramer temos uma refeição inventada pelos antepassados do planeta, que nos faz conseguir viver sem nos alimentar-mos de almas. Dizem que o sabor de uma alma é aquilo que nos faz questionar a nossa existência. Sempre me arrepiei imenso quando diziam isso à minha frente. Nunca provei uma alma, e se depender de mim nunca irei provar.

Antes de ir comer irei à casa de banho lavar a cara.

Ao sair pela porta do quarto, olho para baixo, e reparo que o chão está todo encharcado. Claro, deixei a torneira da banheira aberta! Desço as escadas rapidamente, e esqueço o facto de estar a gelar os pés com a água fria que escorre pelo chão. Vou até à janela da entrada, e reparo que imensa água já saiu da porta de entrada, congelando-se com todo o frio existente na rua, fazendo com que cada pessoa que passasse pela frente da minha casa escorregasse e se estendesse no chão.

— Ham, desejo que a água que está no chão de casa desapareça — encolho os ombros, e o meu desejo concretiza-se.

Para ir para a cozinha, passo pela árvore — literalmente — plantada no chão da entrada, e desejo que ela se torne novamente no objeto que outrora foi.

Quando chego à divisão, reparo que coisa mais ultrapassada nunca vi: Toda a cozinha era feita de madeira, tendo um rústico forno a lenha e uma pia para lavar as loiças. Fiz uma careta ao olhar para aquilo. As loiças até eram bonitas, mas estavam dispostas num armário de forma a que eu pensasse que aquela casa era da minha tetra-avó. Rapidamente desejei que a cozinha — a casa, aliás — fosse igualzinha à minha casa em Veramer. Rapidamente surgiu uma cozinha moderna, com todos os eletrodomésticos necessários, e com comida para se poder cozinhar.

Sei que seria um ato de preguiça pedir que a comida se cozinhasse como que por magia, por isso fui até ao fogão fazer um pequeno almoço rico, com todos os ingredientes que estavam dispostos por cima da mesa.

*

Chego ao meu quarto e reparo que está igualzinho ao da minha casa original. Por isso fecho a porta para me ver ao espelho. Estou tão estranha. Nunca imaginei que viesse para a Terra. Nunca pensei ficar como uma mulher terrestre e muito menos ter que ficar aqui para o resto da eternidade.

— Desejo estar a usar uma roupa que as senhoras de Nova Iorque usam — desejei.

As roupas fizeram "Puff" no ar, ficando eu nua. Depois, cada peça de roupa foi-se vestindo em mim de cada vez. Primeiro entrou o espartilho, que me passou na cabeça para poder acentuar a minha cintura. Depois os sapatos pretos com um pequeno e grosso salto calçaram-se nos meus pés; de seguida umas meias folclóricas surgiram nas minhas pernas, subindo até aos joelhos. O meu corpo ficou coberto por um vestido castanho, apenas deixando a cabeça e as mãos de fora, mas rapidamente umas luvas brancas e longas colocara-se nas minhas mãos. Para terminar, o meu cabelo fez um coque desajeitado e um chapéu que combina com o vestido colocou-se por cima dos fios loiros. Sorrio no espelho, e finjo que sou uma moça que dança, que normalmente aparece nos anúncios dos humanos, no meu planeta.

— Ew — cheiro as minhas axilas e o aroma é repugnante — Desejo ter o cheiro mais agradável da ilha de Manhattan — imediatamente cheiro-me novamente, e o meu nariz arregala-se com aquele maravilhoso aroma. — Assim está melhor.

Desço as escadas e uso a bengala que está num balde à porta. Pego nas chaves que estão no parapeito da janela e saio à descoberta de Manhattan.

A Empregada Extraterrestre Where stories live. Discover now