9 - O Avião

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Segunda-feira, 1 de junho de 1970

Hoje parte o avião que me vai levar a Cuba, numas férias relaxantes.

Travo vestida roupa de praia.

Arrependo-me quando chego à porta de embarque do meu voo, pois toda a gente que vai para o meu destino, encontra-se de fatos ou pelo menos de roupas vaidosas.

Estou a usar um pano comprido pela cintura, sandálias de praia, e um casaco fino para tapar o meu bikini. Toda a gente olha para mim de lado.

Eu sei. "Mas Elizabeth, porque é que não usaste a nave para te levar a Cuba?"

Bem, em primeiro lugar, nunca andei de avião, e tenho curiosidade em ver o que é ficar em primeira classe. Segundo, a minha nave está literalmente a cair aos bocados. Por isso, tenho que ligar aos filhos da minha irmã para me repararem a nave quando eu fui lá.

A minha irmã morreu em 1947. Fui ao seu funeral em Veramer, e fiquei surpreendida pelo mar de gente que lá estava, mesmo sabendo quem era minha irmã.

Mas acho que era mesmo por isso.

Ela disse que os veramerianos estavam de momento mais do meu lado do que do governo, pelo facto de terem percebido que a sua palavra não passava de uma farsa.

Prometi fazer uma manifestação com eles, porém não naquela altura, por eu estar tão emotiva graças à morte da minha irmã.

A fila para o embarque do avião estava a andar depressa. Tínhamos que mostrar os bilhetes e a nossa identificação. O passaporte, no caso. Documento esse que fui eu que criei, uma vez que não tinha a mínima paciência para esperar que fosse feito ou pagar por ele.

Sentaria-me num lugar à janela, esta que me daria uma vista maravilhosa para o mar de Caribe.

Antes de descolarmos, os hospedeiros de bordo explicaram a importância de ter o cinto posto, e muitas mais coisas secantes. Explicaram também que devemos apagar os cigarros durantes as decolagens e aterragens. Achei isso uma estupidez, pois não existe circulação de ares, mas enfim.

*

Mais ou menos a meio do voo, uma forte turbulência assusta todos os passageiros, e vejo que máscaras de oxigénio saíram de cima dos assentos.

Pessoas que estavam sem cinto foram parar ao teto, devido à repentina descida do avião. Gritos e angustias desconcentravam-me daquilo que eu tinha de fazer para salvar esta gente toda.

Uso alguma espécie de poder meu para colar os meus pés ao chão do avião, de maneira a que consiga ir para o cockpit sem problemas.

O piloto e o copiloto estavam a rodar botões e a falar bruscamente para os auriculares que trazem nos ouvidos. Claramente a chamar ajuda.

— O que é que está a fazer aqui? — grita uma hospedeira a enxotar-me dali para fora. Num movimento involuntário, toco-lhe numa veia muito específica do pescoço, o que faz com que se deite no chão morta.

"Ups"

— Saia! — ordeno para o copiloto. O seu colega fica a olhar para mim.

Retiro o auricular do ajudante do condutor do avião e coloco-o no meu ouvido.

May dae, May dae, daqui Elizabeth Dunn, a assumir controlo do avião.

— Senhora Dunn, tem alguma experiência como piloto? — pergunta uma voz masculina do outro lado da linha.

Nem sabes a quanta, meu amor.

Coloco a lente de contacto que vinha com a nave, lente esta que me dava direções, e respondia por escrito às minhas perguntas.

— Airbus 365, American Airlines, preparando-se para se despenhar no Oceano Atlântico — digo eu em voz alta, para que a lente me possa dizer o que fazer.

De repente, círculos, quadrados e letras aparecem no meu olho, indicando-me precisamente que ações fazer para que o avião volte ao equilíbrio.

Dois pequenos círculos vermelhos circundavam dois botões por cima da minha cabeça. Carreguei neles. Os motores foram desligados.

— O que está a fazer? Vai matar-nos a todos! — grita o piloto.

— Meu comandante, ficaríamos igualmente mortos se eu não estivesse aqui, por isso peço o seu silêncio.

Estava agora a usar o volante para planar o avião, e vejo no painel de controlo a altitude do avião descer mais lentamente.

Agora que a lente não me indica mais nada para fazer, percebo que os meus poderes são a única esperança.

— Senhor copiloto, assuma o comando. Os dois, certifiquem-se que ligam os motores ao meu sinal.

Dirijo-me ao corredor, onde está o microfone para ser ouvida em todo o avião.

— Senhores passageiros, agradecemos que permaneçam nos vossos lugares até que esta ordem seja retirada. Por favor apertem os vossos cintos firmemente, pois este avião vai atingir uma grande velocidade que vos pode ser perturbadora.

Vamos lá mexer esta coisa até à velocidade do som.

— Pilotos, preparem os motores — posiciono-me de forma a que seja mais fácil controlar a direção deste avião: para a frente, com os pés colados no chão, e com os braços estendidos para trás, mas ainda com o telefone-microfone no ouvido — Virem a proa para cima uns 3 graus. Atenção... Agora! — grito.

Apesar de não estar a ver, sei que os motores estão a deitar chamas, de tanta velocidade que estão a atingir.

Tenho a certeza que os meus poderes são motivo de curiosodade para aqueles que estão a conduzir, pois nem agora nem num futuro próximo os aviões comuns poderão atingir esta elevada velocidade.

As pessoas gritam, e eu quase me vejo aflita para ter os meus pés completamente posicionados no chão.

Uma explosão fez-se ouvir, porém não era uma explosão do avião, era a ultrapassagem da barreira do som.

Custosamente, vou até à cabina para me sentar novamente no lugar do copiloto. Uso a telepatia verbal que a minha mãe me ensinou a realizar para falar com o capitão.

Digo-lhe para preparar o trem de aterragem, enquanto eu diminuía gradualmente a velocidade, por ver que nos aproximávamos rapidamente do aeroporto de Havannah.

— Prepare-se — digo eu, telepaticamente, ao piloto, para que aterre como deve ser.

Já tirei tanta velocidade que acho que vai ser uma aterragem normal, mas depois veremos.

*

— Menina Dunn, muito obrigado — o comandante aperta-me calorosamente a mão.

No momento seguinte, dezenas de carrinhas de socorro juntam-se ao avião, ajudando a centena de pessoas que dentro dele assistiram a esta tragédia.

Porém, não quero ser lembrada por isto.

Sei que é muito estúpido, mas com certeza que os mais coscuvilheiros iriam perguntar-se como é que isto aconteceu, e viriam atrás de mim.

Rodopio a minha mão, e a partir de agora toda a gente pensa que os dois motores do avião se estragaram misticamente, e que ninguém morreu por acaso.

Exceto a hospedeira de bordo.

"Ups"

Muitas delas estavam abaladas, e tiveram até que receber oxigénio.

Poucos momentos depois, um autocarro levou-me para o meu hotel, e as minhas maravilhosas férias começaram.

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