8 - Os Inquilinos

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Quarta-feira, 21 de novembro de 1956

O Smith morreu ontem. Encontrei-o no quarto com os lençóis todos manchados de sangue. Os médicos dizem que foi uma hemorragia. Porém, eu sei que foi assassinato.

Como este homem não era aquele que seria digno dos meus poderes, deixei-o morrer.

Na noite passada, eu estava no meu quarto a ver a minha novela. De repente, oiço uns barulhos, como se alguma estante do quarto do lado tivesse caído. Fui ver o que era.

Sabia que o Smith já estava a dormir, pois antes de ir ao meu quarto fui ao dele para ver se ele precisava de alguma coisa. Não me respondeu, por isso calculei que estivesse a dormir.

O gatuno estava encapuzado, e tinha um frasco de plástico na mão. Acho que tinha comprimidos nele.

O homem de preto abriu a boca do meu patrão, e colocou nela dois comprimidos. O homem gordo engoliu-os, e segundos depois estava a tentar regurgitá-los.

A tentativa deste foi falhada, pois as drogas já tinham sido digeridas.

O meu patrão sufocou até à morte.

Decido assustar o assassino. Vamos à ação.

Começo por acender a luz. Ele fica confuso, e por pouquíssimos momentos cego. Por isso, corro até à sua frente e coloco em mim a minha cara de monstro; a minha cara verameriana.

Ele grita, tropeça e cai para trás. Tenta sair pela janela pela qual entrou, mas eu fecho-a bruscamente e tranco-a, através dos meus poderes por telepatia. Fica confuso, com certeza pelo facto de eu estar atrás dele e ter conseguido fechar uma janela.

Ele tenta parti-la, mas sem sucesso, pois eu acabei de reforça-la. Ele não vê mais nenhuma alternativa para sair.

Como vou transformar esta casa noutra, posso destruí-la.

Estendo a minha mão para o teto — já com a minha cara normal —, e rebento-o, provocando uma mescla de cores quentes a rodopiar pelo buraco provocado por mim.

O homem encapuzado tenta tapar os olhos com o braço, pela luz das cores ser tão forte.

Estendo o meu braço, e puxo-o até mim, pelo que depois dou um salto que me leva a entrar dentro do portal colorido.

Poucos momentos depois, estamos quase a sair da estratosfera. Ele tem dificuldade em respirar, por isso largo-o.

Ele cai a gritar, com os braços e pernas estendidas, como um bebé desolado.

Pela paisagem que tenho aqui de cima, posso ver que estou por cima da Europa. Por isso, faço algo que não estou habituada a fazer e começo a deitar foguetes para os pés. O meu cabelo longo e branco retrata bem a velocidade a que me encontro.

Devido ao clima brusco de Veramer, não tenho qualquer problema em ter chamas de fogo à minha volta.

Num dia de verão normal, as temperaturas do meu planeta podem chegar aos 200 graus Celcius, por se encontrar tão perto da estrela do nosso Sistema Estrelar.

Em poucos momentos, vejo que estou por cima da casa que tem o teto rebentado. Como está a amanhecer, muitos dos meus vizinhos estão à sua volta, a ver o buraco.

Bem, já que vou fazer outra casa, posso fazer o que eu quiser, visto que vou apagar a memória desta gente, novamente.

Domingo, 18 de agosto de 1957

Este ano arranjei um novo inquilino. Chama-se Peter Johnson.

Veio de Paris para Nova Iorque à procura de casa. A grande propriedade construída por mim despertou a sua atenção, o que fez com que depois de uma única visita guiada pela casa, ele me desse o seu dinheiro.

Peter chegou à minha casa em Abril. Posso dizer que é um engatatão. Todas as semanas trazia para casa uma mulher diferente, o que depois provocava noites de gritos insuportáveis.

Se não tivesse estes poderes, a única solução que teria era arrancar os meus canais auditivos.

— O que deseja jantar, senhor Johnson? — pergunto assim que chego à sala. Ele está a ler um jornal.

— Hum — fecha o jornal — Não sei, surpreende-me — responde ele.

— Muito bem.

Decido fazer um rolo de carne. Sei que ele gosta de carne, pois durante os 5 meses que estive com ele, nunca uma única vez o vi a comer peixe.

Quarta-feira, 13 de maio de 1970

— Senhor, quer alguma coisa para o almoço? — pergunto, a colocar as luvas nas minhas mãos — Estou a pensar fazer frango no forno, acho que... — depois de colocar as luvas, reparo que o homem está de gravata desapertada, completamente esborrachado no sofá, com espuma na boca.

Rapidamente me pergunto o que se passará com o homem. Pela espuma na boca, concluo que será efeito de algum estupefaciente forte, ou um ataque epilético.

Tiro a minha luva e toco no seu pescoço para determinar o seu estado de saúde. Para além de estar frio, está sem pulso.

O homem perdeu a vida devido às drogas.

Devido à espuma quase inexistente, concluo que já deve ter morrido há umas horas.

Suspiro fortemente. É frustrante ver morte mesmo à frente dos meus olhos. De qualquer maneira, este homem não era aquele que me iria livrar do estúpido desejo que pedi há 75 anos atrás.

Vou telefonar a alguma amiga minha para ver se quer almoçar fora. Quando voltar trato de me livrar do corpo e construir outra casa.

Entro no meu carro e rodo a chave da ignição. Vou almoçar com a minha amiga Beatrice a um restaurante que abriu hoje, chama-se "Claw", e situa-se no sul da ilha de Manhattan.

Como estou em Hoboken e só existe uma ponte de acesso à ilha, a alguns quilómetros daqui, a viagem será longa.

*

Ai que seca, tenho que me livrar do patrão.

Graças a todas as refeições passadas com ele, sei perfeitamente onde o deixar: No rio East. Todas as vezes que comia com ele, ele falava do quanto amava a vista do rio, e a sua beleza.

Tenho mais uma vez que ir a Manhattan, mas desta vez com um corpo morto da minha mala.

Quinta-feira, 14 de maio de 1970

Sinceramente, estou cansada de servir pessoas. Podem ter sido só dois patrões, porém durante cada vez, foram passados mais de 10 anos.

Vou tirar umas férias.

Com todo o dinheiro ganho durante tanto tempo, tenho dinheiro suficiente para ficar a viver num hotel de luxo nas Caraíbas pelos próximos meses.

Acho que vou passar umas semanas lá.

Será um ótimo tempo para voltar aos meus tempos de juventude, e reaver o meu disfarce que há tantos anos atraía dezenas de homens.

— Boa tarde — digo eu, chegando a uma agência de viagens perto da minha casa.

— O-olá, bem-vinda — levanta-se um homem da sua secretária para me cumprimentar. — O meu nome é Jerry, posso ajudá-la?

— Na verdade sim. Queria que me apresentasse algumas propostas para o melhor hotel das Caraíbas.

— O melhor? — repete o homem, quase perplexo.

— O melhor. Não viajo muito, mas quando viajo, quero certificar-me de que fico bem alojada.

— Muito bem, sendo assim vamos — aponta para a sua secretária.

A Empregada Extraterrestre Where stories live. Discover now