10 - O Hotel: Parte 1

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— Bem-vinda — diz uma mulher atrás do balcão com um inglês quase perfeito — Posso ajudá-la?

— Pode sim. Vim fazer o check-in, tenho uma reserva em nome de Elizabeth Dunn.

— Oh, com certeza — o espanto da mulher despertou a minha atenção — Por favor, venha comigo.

A mulher sai detrás do balcão, e indica a um camareiro que levasse as minhas malas para o quarto 312. Aparentemente a mulher iria-me fazer ma visita guiada ao hotel para que ficasse à vontade, uma vez que iria cá ficar durante 2 semanas.

— O restaurante está aberto do meio dia às três, mas a partir dessa hora até às seis o bar ao lado da piscina principal estará disponível. Apenas às sete o restaurante abrirá para o jantar, que estará disponível até às nove e meia. Com o seu pacote, poderá contactar o serviço de quartos sempre que desejar — diz a mulher enquanto passamos pelos restaurantes.

— E o spa? — pergunto eu.

— O nosso spa abre todos os dias a partir das nove da manhã e só fecha às oito da noite. Um dos nosso programas de spa é um dia completo de relaxamento nas nossas instalações.

— Fantástico — respondo.

— Levá-la-ei agora ao seu quarto, acho que vai ficar espantada com a nossa vista maravilhosa.

A empregada que até agora me estava a mostrar as instalações, leva-nos para o único edifício alto do hotel, o que contém quartos de luxo.

— Aqui está a sua chave. Em nome de todos aqui no hotel, desejamos-lhe uma excelente estadia, e um muito obrigado pela sua preferência.

— Obrigada — apresso-me a retirar o porta-chaves da mão da mulher para entrar no meu quarto.

Terça-feira, 2 de junho de 1970

Acordo aparentemente relaxada, como uma princesa num conto de fadas. Dirijo-me à grande janela do meu quarto, pago pelos anos de trabalho que passei como empregada doméstica.

E que ainda não acabaram.

Tomo um duche frio, visto o meu bikini e coloco uma toalha fina por cima de mim, cujas pontas estão seguras por um nó.

Vou de caminho até à grande sala de refeições do hotel, de self-service.

Durante o percurso, muitos turistas olham para mim sem sequer tentarem disfarçar, mesmo estando com companheiras.

Decido comer pouco, para não necessitar de fazer a digestão para mergulhar nas águas quentes e límpidas das Caraíbas.

Como Intrusa — neste caso sem função —, a única coisa que precisaria de comer seriam almas. Porém, graças à minha mãe, esse tipo de refeição já não é necessário, o que deixa o meu corpo desnecessitado de receber qualquer tipo de alimento.

Por isso sim, poderia passar toda a minha vida sem comer sequer um pedaço de pão. No entanto, se ingerir alimentos, o meu corpo faz a digestão dos mesmos.

Como apenas uma peça de fruta e um iogurte natural.

*

Posso passar toda a manhã nesta maravilhosa praia privada do hotel, mas a partir da hora de almoço tenho que ir para o spa, pois reservei toda uma tarde de relaxamento.

Temo que o bikini que tenha trazido seja um bocado tentador, pois todos olham para mim como se fosse uma deusa.

O fato de banho que trago é um bikini de troco inteiro, de cor azul, e cordões pretos prendem a parte da frente à parte de trás da peça.

Passo algum tempo em cima da toalha fina que trazia para cobrir o meu corpo, até que decido ir à água.

Um banho quente nas águas tranquilas de Cuba aconchega a minha alma extraterrestre.

Saio da água a escorrer a água salgada que permanece no meu cabelo, dirigindo-me para o local da areia molhada onde se situa a minha toalha.

Buenos dias.

Meu Deus, a voz deste homem faz-me lembrar a de Phillip.

— Bom dia — digo eu no meu inglês normal, por saber que este homem é um turista americano.

— Importa-se que coloque a minha toalha aqui ao pé de si?

— Esteja à vontade — deixo eu, tentando não parecer rude.

Retiro os óculos de sol da cara, uma ação da qual rapidamente arrependo, devido ao sol escaldante que se faz sentir hoje.

— A senhora está aqui sozinha?

— Oiça, vim para estas férias porque estou farta de aturar homens chatos e sedentos por mulheres. Venho assim pois não quero parecer uma velha rica sozinha nas praias das Caraíbas. O que eu quero é paz e sossego, por isso se está aqui numa intenção de se atirar a mim, pode tirar o cavalinho da chuva. Por outras palavras: pisgue-se daqui.

O homem fica a olhar para mim boquiaberto por momentos.

— É surdo? — pergunto quase aos gritos.

— Não — engole a seco — Peço desculpa.

O homem pega nas coisas e sai cabisbaixo, como uma criança que vai de castigo para o quarto.

Aproveito agora que estou sozinha, e bronzeio a minha pele delicada ao som das poucas ondas desta praia privativa.

A correria de criancinhas irritantes a atirarem-me areia para o cabelo provoca o meu despertar.

Olho para o meu relógio de pulso, e reparo que já passa da hora de almoço: está quase na hora de eu ir para o spa, tenho de me despachar.

Coloco as revistas e o protetor solar dentro do saco de palha que trouxe aos ombros, coloco o meu chapéu na cabeça, e monto a toalha de modo a tapar-me o bikini.

Enquanto isso, reparo que a minha pele à vista está totalmente vermelha, mesmo depois de eu ter colocado o protetor solar.

Talvez passe pela casa de banho para curar isto antes de ir para o spa.

Abro caminho rapidamente entre as pessoas que estão a encher a praia do hotel e corro para a zona da piscina, junto da zona de relaxamento.

Uma mulher a colocar a maquilhagem em frente ao espelho assusta-se com a minha chegada repentina.

Coloco o meu saco do lado dos lavatórios e retiro o meu chapéu.

Passo a minha mão direita pelo braço contrário, e a minha cor natural toma lugar do vermelho roseado.

Como reparo que esta a funcionar, continuo com o processo pelo resto do braço e pela mão, e de seguida por todas as partes que não estavam cobertas pelo fato de banho.

Quando toda a minha pele já está normal, coloco o chapéu e a mala no ombro, e lanço um sorriso para o espelho que diz "sou tão gira", desviando-se depois para a mulher, que está com o batom na mão a olhar para mim estupefacta.

Coloco-me cautelosamente atrás dela, e de uma forma subtil e cautelosa, retiro o batom da sua mão, e passo a maquilhagem nos meus lábios, lenta e sensualmente.

— Nada disto aconteceu, querida — digo, de forma lúgubre ao seu ouvido.

Vejo o suor a escorrer pela cara da pobre mulher, que foi ali para retocar a maquilhagem, mas em vez disso se deparou com uma alienígena a fazer coisas que não são terrestres.

Apresso-me a ir para o spa.

— Srª Dunn — Diz uma mulher de pele escura, que contrasta perfeitamente com a bata branca do spa — Chegou mesmo a tempo. Por favor vá para aquele vestiário e vista este roupão. Depois vá ter à sala 8 para receber a sua massagem de shiatsu.

Já estou a gostar disto.

A Empregada Extraterrestre Where stories live. Discover now