NIAT CAP 1 Θ ÐESPERTAɌ

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NIAT

Θ ÐESPERTAɌ
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Niat
17/06/1618 da era
do Despertar
Primavera Astral 

       Corpos inertes estendiam-se pelo gramado de uma pequena clareira em meio à selva densa. No centro havia o único exemplar arbóreo da clareira, um tronco tão largo quanto uma cabana. Certamente um dia tivera uma altura titânica, mais parecia uma torre circular, ao modo dos castelos antigos. Contudo não apresentava copa frondosa, nem folhas esvoaçantes, nem mesmo galhos emaranhados, estava destruída e estilhaçada num ponto em torno de seis metros de altura; ressecada e dura como pedra. Em sua base havia uma fenda com pouco menos de um metro de largura, que subia estreitando-se aos poucos. 

Os corpos de garotos sem vida, alguns com marcas de sangue e com curativos, se encontram estirados no chão em posições incomuns. De repente passam a agitar-se em espasmos como que de pesadelos perturbadores.

Um deles abre um olho dificultosamente, sendo o primeiro garoto a conseguir vislumbrar algo, força a visão e luta contra uma dor lancinante nos olhos e na cabeça que causa enjôo. Trata-se de um belo rapaz moreno, de cabeça raspada, esguio e bem vestido, embora sujo de sangue e empoeirado. 

Ele sente o corpo estranhamente leve e enternecido, sente-se não mais pesado que um esquilo, o próprio ar lhe parece tênue e ralo, mas as sensações não são boas. Sua vista mal suporta a fraca luz de fim de tarde, mesmo com um céu encoberto por nuvens cinzentas, a cabeça parece prestes a explodir e um zumbido nos ouvidos o faz sentir como se seu crânio estivesse dentro de uma colmeia; ou talvez com uma colmeia dentro dos ouvidos. 

Os outros ainda parecem agitar-se em um sono conturbado, enquanto ele move o pescoço dolorosamente para um lado e para outro, analisando os três ali próximos a ele. Tenta erguer-se, mas o corpo parece não responder. A dor de cabeça aumenta, parece que realmente vai explodir. — Pelos deuses! O que está havendo? — pergunta a si mesmo, num fraco murmúrio. 

Neste momento, descansa a cabeça novamente no chão, e tenta mudar para a posição de bruços. 

O restante move-se mais voluntariamente a cada momento, emergindo de um estado de semiconsciência que precede a vigília. Todos, exceto o maior que ainda está imóvel, passam pelas mesmas sensações pungentes, lutam para voltar ao controle do corpo e resistir à dor e ao incomodo terríveis. 

O primeiro finalmente consegue virar de bruços e tenta erguer-se. A cada movimento o cérebro pulsa como um tambor batendo dentro da cabeça, e parece retinir como um sino, mas ele se força a suportar, sobrepuja a dor, põe-se de quatro, olha e analisa cada um dos três. 

Há um pequeno menino magricelo e loiro. Um gordo, e um forte e alto, com uma enorme capa de veludo vermelha. O pequeno de cabelos louros esbranquiçados, consegue abrir os olhos enquanto era observado e olha-o desconfiado e com expressão de sofrimento. 

Ainda abaixado e confuso, ele encara o garotinho de aparência indefesa, que se encontra caído de lado, ainda incapaz de se mover ou se erguer e com a cabeça apoiada ao chão. 

O primeiro a despertar pergunta ao pequeno, com olhar mais piedoso que inquiridor — Quem... é você? — a fala entrecortada com voz gutural.

O pequeno ali, prostrado, mal ouve a pergunta, devido à sensação de forte zumbido que o aflige, mas lê os lábios e a expressão do outro e olha ao redor em busca da resposta. Tenta forçar a mente para se lembrar, mas sente-a latejar insuportavelmente ao fazê-lo. Segura a cabeça com as mãos já minimamente dominadas, olha para o outro e responde: — Não me recordo! Não sei quem sou eu... — assustado e com olhos marejados devido a dor e aflição prossegue: — Não me lembro de coisa alguma... E se tento lembrar... Minha cabeça parece que vai estourar... 

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