NIAT CAP 6 INCURSÃO DISTANTE

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INCURSÃO DISTANTE

22/06/1618
da Era do
Despertar

          Maven estava menos ágil que um gato de poltrona, devido, certamente, a tantos ferimentos e dores ou, talvez, devido ao efeito retardado da venenosa Lua-Turva. Ainda trazia os curativos às costas.

         — Talvez esse calor também não esteja fazendo bem pra ele — disse Harley. — Os ferimentos não são tão graves.

         — Infelizmente não há muito a fazer. Podemos fazer uma bacia para guardar água e mantê-lo úmido.

         Despediram-se da apática criatura cabisbaixa e ofegante, com língua para fora.

         Partiram na direção leste, preferiram investigar melhor, antes de espionar a região mais provavelmente habitada na cratera a oeste. O grande Sol alaranjado, erguia-se tremeluzente devido ao ar muito úmido.

         Após horas de caminhada, encontraram algumas ervas medicinais, mais frutas, muitos animais, todos tão curiosos quanto assustados. Algumas das ervas eram conhecidas de Kay'Lee outras de Harley. Mas os animais eram quase todos estranhos. Alguns se penduravam nas árvores com longas caudas. Outros se escondiam em buracos e outros corriam rapidamente para longe, antes de serem vistos.

         As ervas coletadas, serviam para diferentes finalidades, umas pra dores, outras para sonífero, outras para curar certos males inconvenientes, outras para saborosos chás.

         Finalmente encontraram o primeiro objeto de utilidade diferente de uma erva ou lenha, ao menos na possibilidade de uso. Encontraram um galho de pau-ferro, madeira dura e pesada, que poderia ser usado como porrete.

         Hayden logo se apossou da arma encontrada por Stok, pois era pesada, com empunhadura muito grossa e muito desajeitada para os demais. Kay'Lee ainda pensou em testá-la, sentia-se de certa forma familiar àquela classe de arma. Sempre que pensava em empunhar alguma, nos momentos tensos que sentiu necessidade, imaginava-se usando um martelo de batalha ou uma maça. E um tacape era uma forma tosca dessas armas.

         Continuaram a caminhar, o ar agora estava infestado de insetos, teias de aranha estavam carregadas com eles, espinhos e hera estavam por toda parte. Uma trilha mal era perceptível a olhos mais incautos. Mas esta parecia uma habilidade nata em Stok, se localizar, encontrar o caminho e peecorrê-lo em segurança.

         Em um determinado ponto de mata, menos densa, aparentando-se com um pequeno bosque ou pomar selvagem, viram parada uma ave engraçada ciscando no solo macio de terra humosa, certamente atrás duma minhoca suculenta.

         — Daria uma bela refeição — anunciou Hayden. Vendo que a ave era gorda, parecia uma bola, com asas tão pequenas que deviam servir à ela apenas de enfeite. As patas eram curtas e o bico comprido. Era de cor azulada e brilhava refletindo luz em tons diversos como um arco-íris brilhante.

         Hayden preparou seu tacape como se fosse uma adaga de arremessar, movimentou-a para trás, depois, com ímpeto para frente e a atirou contra a criatura distraída. A enorme arma, maior que a ave, rodopiou pelo ar quebrando e estalando os galhos e folhas que encontrava no trajeto, mesmo tendo percebido, a ave não teve tempo de se livrar do choque. Era muito gorda e lerda, parecia uma grande pata que engoliu uma melancia.

         A paulada foi certeira, fez penas voarem e a ave ficou atordoada e certamente toda quebrada jogada a metros de distância. Hayden gargalhou e contou alguma vantagem de seu feito heróico.

         Kay'Lee chegou a se arrepiar com a ideia de comer a pobre criatura. Stok, com expressão séria e impaciente, pediu a faca de Harley. Pegou-a apressado e correu com ela em mãos até parar junto a ave que estava agonizante. Suas asas estremeciam assim como as patas, tentando fugir, o pescoço virava para olhar o garoto. Depois se arrastava pelo chão afastando-se dele. Stok fechou a cara e os olhos, proferiu então palavras que lhe vieram à mente, de significado imemoriáveis para ele próprio:

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