PRIMEIRA MARCHA

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PRIMEIRA MARCHA


        O toque do sino para o despertar foi cedo, antes mesmo dos primeiros raios da aurora invernal, as últimas areias da constelação de ampulheta ainda escoavam pelo céu índigo. O rei não prezou por mais descanso, embora não houvesse tido a melhor noite de sono de sua vida. Há longos Sóis não ia para a guerra, e agora arriscava tudo ou nada em uma: a filha, a vida e seu reino. Estava aflito e ansioso, e não era para menos. Durante grande parte da noite seus pensamentos oscilavam entre sua filha, sua esposa e lembranças do que fizera a Kitrina vinte anos atrás.

        Slaesh pois-se de pé imediatamente após o sino, assim como seus guardas domésticos, seu escudeiro e Kay'Lee​, ele ordenou a esses dois últimos que auxiliassem-no a vestir sua bela armadura de placas, prateada e esmaltada em azul escuro.

        Para manter sua identidade em segredo, vestiu um manto negro e uma pesada capa de Yulay, cobrindo seu brasão pessoal, o leão coroado empinando, e a cabeça do Leão de Lenöria.

        A capa ostentava o novo estandarte de Yulay, (adotado após Kitrina transformar Honória em Tenébria) a árvore verde em frente a grande Shastra, prateada em fundo negro estrelado, que simbolizava secretamente a Constelação de Tigre (Guardião de Honória), mas agora o fazia declaradamente, pois o nome de Honória fora bordado na capa em dourado. 

        Slaesh convidou seus lordes, que o serviam como capitães, e Kay'Lee, que​ ficou surpreso quando ele afirmou que o queria presente na reunião do conselho. 

        — Majestade, não mereço a honra de estar presente — respondeu​ humildemente, mas também lembrando-se dos dias de confinamento ordenado pelo Rei e do fato de não ter estado presente nos conselhos de guerra em Lenöria.

        — Garoto — devolveu o rei com olhar pesado — depois de ver o que você fez durante a caça àquela besta alada, não penso em ninguém melhor que você para ter ao meu lado numa batalha. Além disso — apoiou a mão direita no ombro do garoto —, agora confio em você e em seus companheiros plenamente.

        — Se é assim, fico muito honrado, vossa majestade.

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        A reunião foi conturbada, pois embora Rei Slaesh portasse uma carta com a maior parte das táticas do assalto pré estabelecidas por Sor Ayvak, e representasse ele mesmo a vontade e a voz de Rei Helden, Lorde Killiwan tinha suas ressalvas e só com muito custo acatou tais decisões. O rei imaginou como se sairiam seus enviados aos demais castelos: Trydus, mayn, Talmnar, Landris e Aldburn.

        A carta estipulava que o exército de Lorde Killivan parasse seu exército às portas ocidentais da fortaleza de Charkhan, levando trezentos homens seus e a bandeira de Yulay encimada pela bandeira de Honória, (o tigre negro em fundo cinza), que vinha sendo pintada em secreto nos castelos insurgentes. Ela atestaria o retorno do rei supremo, e sob seu estandarte convocariam Charkhan para se juntar à rebelião contra a tirania de Kitrina. Pois um dia juraram fidelidade aos reis da união, a sua descendência e à bandeira de Honória.

        Ainda assim o Lorde tinha poucas esperanças de que isso acontecesse. Mais provavelmente os duzentos defensores ririam da tola ousadia dos trezentos atacantes. Ou suspeitariam do fato de Killivan atacar pelo oeste, sendo que Kalay'Ston (sua fortaleza) fica a leste. Consequentemente temeriam alguma armação. Além disso, o Lorde queria participar mais efetivamente da batalha e não ser uma isca.

        — Eles não são tolos! — afirmou Killiwan austero. Afinal, podiam não ter atendido seu chamado a rebelião, mas continuavam sendo valorosos guerreiros, seus conterrâneos, seus irmãos de sangue e seus vassalos. — Hão de suspeitar do fato de darmos a volta milhas ao sul e ao oeste. E pior, para atacar muralhas mais difíceis de assaltar? — questionou ele com certa razão.

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