A CURA DA FERA

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A CURA DA FERA

        Quando chegaram ao reino, ainda estava escuro, apenas os primeiros raios da aurora fulgiam nas nuvens do horizonte oriental pintando o céu em lindos tons de alaranjado e rosa. Para chamar atenção dos ensonados trabalhadores e camponeses, os guardas reais gritavam: — Abram caminho para a rainha Aldreem de Usdror.
Todos que atentavam para a origem das ordens e comandos viam algo volumoso sendo transportado; mas só quando se davam conta do que se tratava, reagiam com perplexidade e pânico.  Alguns puderam ver os pés negros e enormes da criatura. Os comentários se espalharam pela cidade. Pessoas acordavam os que dormiam para lhes contar o fato inacreditável. E, como tal, até os menos céticos se recusavam a acreditar.
Naquela manhã a rainha mandou que arautos e bardos anunciassem pela cidade que, quando as trombetas soassem a rainha faria um grande discurso para todo o povo.
A rainha estava exausta e com forte sono, não estava acostumada a passar noites em claro. Mas não perderia a chance atual por nada.
Tão logo as trombetas soaram, todos compareceram aos muros da fortaleza. 
— Agora deixem a criatura sob meu controle. Farei com ela o que merece. — disse a rainha aos garotos.
— Majestade, há algo que suspeitamos. — avisou Harley. — Temos razões para crer que este grande monstro seja um de seus súditos... — a rainha tornou-se atenta e compenetrada na louca declaração do pequeno. — E, para que isto não volte a acontecer com outros filhos de vosso reino, há algo que precisamos fazer.

— Depois conversaremos a respeito. — disse como se ele falasse de algo sem importância. — Agora vão descansar, por hora fizeram tudo que era necessário. — disse dando as costas e seguindo para o palácio, sendo cercada de uma imediato por sua guarda. Deixando-os ali, às portas do castelo, sem permissão de entrada.
— Devemos levar Dêm para um local adequado, não será fácil tratar suas pernas quebradas. — disse Kay'Lee preocupado com Dêm que ainda estava desmaiado.
— Irei com você. — declarou Hayden.

— Tudo bem, tem razão. Eu e Harley precisamos ficar de olho nas coisas por aqui. — disse Stok. — Encontrem uma hospedaria e trate dele. Nos vemos nas portas do castelo na véspera do anoitecer.
— Até o anoitecer então. — despediu-se Kay'Lee.

***

Dentro do castelo, servos apavorados, temerosos e receosos colocaram a fera descomunal e assustadora dentro de uma enorme jaula de ferro ainda desacordado, depois cortaram as cordas. Então o deixaram ali e cobriram com cortinas grossas.
A rainha ordenou que o expusessem frente aos portões centrais. Então o ergueram com grandes manivelas bem alto e o penduraram bem à frente dos portões. Onde todo o povo podia ver.
Muitos que ouviram os boatos já estavam por ali. Unido a isto a proclamação dos arautos e bardos trouxe ainda maior número de platéia de vários cantos da cidade e das vilas próximas.
Agora viam o motivo da convocação, uma grande jaula coberta que deveria guardar algo importante.
A rainha então bradou em voz aguda e potente do alto da muralha, ela estava sobre uma ameia, apoiada na viga de onde pendia a jaula.
Ela preferiu:
— Nosso reino é forte e inabalável. Há mil anos somos senhores absolutos deste solo.
Há mil anos os deuses confiaram seu reino a nós e mantivemos sua virtude acesa em nosso sangue.
Este mal desafiou nosso povo e nossa terra, mas sua fúria foi domada por nossos bravos cavaleiros. Saibam que seu fim chegou!
Ja nós permanecemos. Nada pode nos abalar. — após esta fala fez uma longa pausa.
— Agora contemplem... não há criatura que escape as leis de Usdror. — disse fazendo um movimento de braços teatral para que as cortinas da jaula fossem erguidas.

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