7 - Adam perspectiva: O copo

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Essa história não é minha, mas eu faço parte dela.

Por ter sido melhor amigo da Micaela eu sei muito sobre essa garota, coisas que talvez nem ela saiba. Uma menina inteligente, que se importa com todos, que embora seja incrível se abala muito fácil, mas isso não excluía sua doçura e pureza.

Quando entramos no ensino médio estávamos todos empolgados. Lucas, Mica, Laura e eu éramos novatos no ensino médio, mas a linha do tempo que se sucedeu mudou cruelmente nossos destinos.

No início fizemos novos amigos, eu entrei para o time; Lucas para equipe de robótica; Laura tentou ser líder de torcida, mas desistiu e entrou para o clube de teatro, o que combinava muito mais com ela; Mica fazia literatura avançada. Com novos amigos nos afastamos, mas nunca deixamos de sermos amigos próximos.

Seriam novos 3 anos até a faculdade que não sabíamos o que nos esperava, mas embora estivéssemos animados, tudo mudou quando Grace foi assassinada.

O restante do primeiro ano foi um caos, Mica se afastou depois do que aconteceu com sua mãe e nossa amizade nunca mais foi a mesma, mas isso é outra história. A questão é que, uma amizade tão forte quanto a nossa foi por água a baixo inexplicavelmente em tão pouco tempo.

Diferente do que todos achavam, minha vida não era perfeita só por que eu dava festas, tinha uma casa incrível e era um bom jogador. Assim como Micaela, eu também tinha minha cota de problemas.

Eu não era nenhum milionário, mas para manter nossa pequena fortuna e vida de luxo e conforto, custava a companhia dos meus pais. Depois que os negócios do meu pai começaram a alavancar, trabalho se tornou sua obsessão. No começo, minha mão vivia triste por mal ver seu marido, hoje em dia se aproveita do bom dinheiro. A vida em família, que alguns anos era boa, vinha se tornando um pesadelo.

Quem sofria com isso era minha irmã mais nova, Cloe. Diferente de mim, a maior parte da vida que se lembra foi com pais nunca presentes, Ana, nossa empregada, era mais família do que a própria família de sangue. Eu sentia muito por ela crescer assim. Não é uma vida desejável para uma criança.

Eu sempre fui inconformado em como Cloe admirava Micaela quando ela ainda era presente. Ela se dava bem com crianças, e sempre conseguia fazer minha irmãzinha dormir na metade do tempo que eu fazia. Ela tem saudades, e quando soube que Mica esteve aqui na ultima festa que eu havia feito ela me atacou com um ursinho de pelúcia.

- Que culpa eu tenho? Não sabia que ela ia vir – ri pegando-a e jogando pelos ombros – e você não tem idade pra essas festas, mocinha

- Só porque vocês, adolescentes, são nojentos eu não posso me divertir? – Ela sempre tinha uma resposta na ponta da língua

- Exatamente – a ataquei com cócegas

Eu ria, mas sabia que ela reagiria de uma forma ruim se a visse como eu vi. Mesmo que parecesse se divertir me sentia culpado por ter dado ouvidos a Matheus e entregado aquele copo. Achei que seria álcool, mas pela situação foi bem mais que só álcool. E de novo eu não fiz nada.

Matheus era o tipo de cara que não se contesta nem enfrenta. Ele sempre fazia tudo parecer uma brincadeira. Nada era sério, perigoso ou problemático demais para ele. Ele se arriscava e algo no seu jeito de conversar fascinava quem ouvia, era indestrutível e ninguém se atrevia a enfrenta-lo. Foi um dos motivos para ser seu amigo, mesmo que muitas vezes eu discorde dele.

Ele estava um ano a frente, vestia jaquetas estilo badboy que as garotas enlouquecem. E enlouqueciam mesmo. Qualquer uma brigaria para ter sua atenção. Mat fazia todas se sentiram especiais, mas no fim eram só mais uma transa. Parte de mim ficava mal por elas.

Lembranças Perdidas De Uma Garota QualquerWhere stories live. Discover now