23 - Milk-shake prazeroso

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Eu estava furiosa com Adam. Tudo o que ele disse sobre Matheus e saber todo aquele tempo sem ter me contado nada, era absurdo demais para assimilar. Sem falar que ele jogou na minha cara várias vezes que eu o abandonei. E nessa parte eu até estava começando a compreender seu lado, por que talvez aquilo realmente fosse minha culpa, mas eu só conseguia pensar em tudo que ele havia escondido de mim, e não tinha forças para perdoa-lo.

Adam estava protegendo um estuprador em potencial, por meses, e nunca tocou uma vez sequer no assunto. Nunca havia passado em sua cabeça que seria certo me contar? Afinal fui eu que quase fui abusada. E tive um vídeo vazado.

Minha cabeça doía tanto que parecia que explodiria a qualquer momento. Eu sentia as veias do meu corpo queimarem. Uma sensação ruim me perseguia e eu sentia um gosto ruim na boca como se fosse vomitar. Meus dentes doíam de tanto por eu apertar minha boca, e minha cabeça pesava como se cada fio pesasse uma tonelada.

Eu precisava avisar Laura sobre ele, meus avisos sobre Mat não tinham sido em vão, afinal eu sempre estive certa sobre seu caráter. Mas como eu ia contar que Mat havia tentado me estuprar sem tocar nesse assunto? Eu não queria reviver isso tudo de novo na minha mente, como já estava, mas quanto mais eu demorasse para avisa-la, pior seria a situação. Mas eu não me sentia pronta para falar com alguém sobre aquele dia, nem com Laura. Mas eu tinha que fazer algo. E se ele fizesse com ela o mesmo que tentou fazer comigo?

Para piorar toda a situação, Matheus entrou na lanchonete com alguns amigos seus que eu não conhecia. Senti uma onda de calafrios subirem pela minha nuca, e estremeci. Como Fernando não havia chegado e eu estava sozinha teria de atendê-los. Passou pela minha cabeça pedir que Helena os atendesse, mas ela faria perguntas e eu também não estava pronta para mentir ou para que ela soubesse o que havia acontecido. Limpei minha testa com o braço, eu suava frio e minhas mãos tremiam segurando o bloco de notas e a caneta, não sei se de ódio ou de pavor. Agora que eu sabia que era ele quem tinha feito aquilo, não conseguia nem o olhas sem sentir vontade de vomitar.

- O que vão pedir? – Perguntei tentando manter a voz o mais firme que pude

- Eu quero um sanduiche de presunto e uma coca – falou um deles

- E eu uma taça de sorvete

- E eu um milk-shake de morango – Matheus falou por último. Ele me olhava nos olhos, mas eu desviava seu olhar penetrante. Ele estava vestindo sua famosa jaqueta de couro e uma regata branca por baixo, suas mãos passavam pelas correntes que usava no pescoço e eu relembrava delas em mim.

Preparei todos os pedidos e os levei na mesa em uma bandeja. Quando eu ia me retirar Matheus chamou minha atenção

- Eu pedi um de chocolate – falou com a voz ríspida

- Não, o senhor pediu o de morango – tentei manter a calma, pelo canto do olho notei Adam entrando na lanchonete fazendo o sino da porta tocar. Ele parou ao lado de uma mesa como se esperasse falar comigo, eu apenas continuei atendendo a mesa.

- Mas eu quero o de chocolate

- Mas o senhor já pediu, o que eu vou fazer com esse? – Perguntei educadamente

- Não sei, que tal .... – Ele ergueu a taça sobre a minha cabeça e despejou todo o milk-shake em mim –pronto, agora já pode trazer o de chocolate

Vi Helena do outro lado do balcão, ela estava pronta para falar poucas e boas, mas antes de ouvir qualquer coisa eu desamarrei o avental, passei por Adam correndo e sai. Eu senti minha respiração ficar ofegante e o choro querendo vir. Corri até em casa, o que não deu nem dois minutos, e tomei um banho, tirando toda aquela meleca de mim, com lagrimas se misturando na agua do chuveiro. Eu ardia. Bati repetidas vezes na parede do banheiro enquanto gritava. Eu chorava tanto que me faltava ar. Ele sempre tinha que fazer algo, pensei. Era sempre ele. Sai do banho enrolada na toalha e no ódio, respirei fundo o que fez meu pulmão arder, enfiei alguns remédios na boca e os engoli em seco. Me vesti rapidamente e estava pronta para voltar pro trabalho novamente, e enfrentar aquele palhaço. Mas então me deparei com dom parado a porta da sala.

Lembranças Perdidas De Uma Garota QualquerNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ