16 - Panquecas felizes

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Acordei com muita dor de cabeça no dia seguinte. Eu não sabia se estava arrependida do que havia feito por que já havia passado, mas incomodada com minhas atitudes eu estava. Não queria ter nada a ver com meu pai, e fazer o mesmo que ele faz me causa nojo. Eu entendia o porquê eu fiz tal coisa, mas não gostava de ter decidido optar por isso. Eu devia estar realmente com uma raiva fora de mim. Tomei um remédio para dor de cabeça e fiquei o resto do dia na cama, tentando não pensar em nada.

Ter visto minha mão naquele banheiro havia me deixado tensa. Eu não sabia ao certo se tinha alucinado ou imaginado aquilo, estava mal demais. Mas era estranho vê-la novamente, de uma forma tão real, aquilo embrulhava meu estomago e apertava meu coração. Logo faria um ano da sua morte e eu não sabia se estava preparada para essa data. Não sabia se ia ter outra crise, se iria chorar, se aguentaria firme, se fingiria que ta tudo bem ou desmoronaria de vez. A questão era que ia acontecer, e não demoraria muito.

O dia da sua morte foi muito doloroso para mim. Foi no mesmo dia em que encontrei o diário que ela ia me dar de aniversário de 15 anos. Encontrei dentro do seu guarda roupa quando procurava sentir o seu cheiro ainda em suas roupas. Meu diário ainda fazia falta, só de imaginar que ele estava perdido por aí me doía, era uma parte da minha mãe que andava comigo, e que agora estava desaparecido.

Encontrei com Laura na escola na segunda, era um pouco estranho as pessoas olharem para a gente só por estarmos juntas, mas compreensível já que estavam acostumados a me ver sozinha ou com alguns poucos colegas de turma.

- Então, mas deixa eu contar – Laura falava animada, embora seu tom mudasse para preocupação - ontem eu fui na sorveteria sozinha, buscar um sorvete pra minha mãe que tava de tpm, sabe como ela fica sensível né, aí um cara apareceu numa rua escura apontando uma arma pra mim

- Como assim? Onde foi isso?

- Sei lá, a rua estava bem deserta e a luz de um dos postes tava apagada, acho que ele aproveitou a situação. Ele roubou meu celular, o dinheiro do troco e até o sorvete

- E você denunciou pra polícia? – Perguntei

- Liguei pra polícia quando cheguei, eles pediram pra eu ir na delegacia descrever o cara

- E você foi?

- Fui, minha mãe me levou, aí eu falei que ele era alto e forte, musculoso, com ombros largos, barba grossa, olhos pretos, sobrancelha peluda e tinha uma cicatriz na mão – e quando Laura falou isso me veio uma pessoa na mente. Dom, pensei.

- Mas e aí? Você ta bem pelo menos? – perguntei tentando não pensar em Dominique

- To, mas to com meu celular antigo agora, o que se for ver não é tão ruim né

Por que será que dom roubaria alguém? Tudo bem que ele era um babaca drogado, mas não sabia que ele roubava até então. Será que dom sabia que Laura era minha amiga? Será que já nos viu juntas antes? Ou fora uma coincidência?

Andando pelo corredor avistei Bianca, que aparentemente vinha em nossa direção.

- Laura, que porra é essa? – Bianca falou parando em frente ao meu armário

- O que? – Laura perguntou se fazendo de desentendida

- Achei que nos encontraríamos na entrada, sua vaca – enquanto ela falava suas outras duas amigas, as mesmas do vestiário, me encaravam. Eu sabia que Bianca era acida, mas não imaginava que ela falaria assim nesse tom e com essas palavras com Laura

- Achou errado – e Laura bateu o armário mais a frente, fitando Bianca.

- Que isso Laura? Agora vai me trocar por essa escrota – agora ela falava olhando e apontando para mim, e eu não sabia nem como reagir a isso.

Lembranças Perdidas De Uma Garota QualquerDonde viven las historias. Descúbrelo ahora